Os fatores que podem inviabilizar a candidatura de Geraldo Alckmin à presidência

Se antes o governador paulista poderia crescer na base do "resta um", sem realizar movimentos significativos, agora o jogo lhe exige outra postura

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A confirmação do nome de Geraldo Alckmin como novo presidente nacional do PSDB pode consagrar sua posição de candidato tucano à sucessão de Michel Temer na disputa de 2018. Por outro lado, ao contrário do que se tem ventilado, não se trata de fato consumado. Se antes o governador paulista poderia crescer na base do “resta um”, sem realizar movimentos significativos, agora o jogo lhe exige outra postura. Caso não corresponda às expectativas, o tucano poderá abrir espaço para uma nova opção no campo da centro-direita.

Os próximos meses serão decisivos para a consolidação do nome do tucano no xadrez eleitoral. Para além das costuras que precisam avançar do ponto de vista político, não há como Alckmin trilhar um caminho para a disputa se não contar com melhora na atual posição em que aparece nas pesquisas. Ao mudar a estratégia e adotar posição de ataque mais enfático ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — quando diz que o petista queria “voltar à cena do crime” –, o tucano indica ter consciência da necessidade de crescer para o eleitorado.

Na avaliação da equipe de análise da XP Investimentos, o tucano bate em Lula para, na verdade, acertar Jair Bolsonaro (PSC-RJ), deputado federal que hoje ocupa com folga a segunda posição na corrida presidencial e hoje é visto como figura que melhor se beneficia da imagem do antilulismo. “Alckmin precisa subir nas intenções de voto para ter atratividade e formar uma aliança. A fase de ficar na toca e ganhar as disputas na base do ‘resta um’ está se encerrando”, observaram os especialistas.

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Há dúvidas sobre qual será a eficácia de Alckmin em roubar espaços que Bolsonaro já trabalha para consolidar antes do pontapé oficial da corrida presidencial. É fato que o deputado contará com menor tempo de televisão e menos recursos. Por outro lado, também é preciso reconhecer sua capacidade de mobilizar pelas redes sociais, além do fato de largar com alguma vantagem.

Para o analista político Leopoldo Vieira, nos próximos capítulos, “o Brasil assistirá à autofagia do campo governista e da centro-direita”, o que favorecerá um ambiente de dificuldades para Alckmin se consolidar como o nome da situação — o que já se observa na inevitável disputa travada com Henrique Meirelles (afinal de contas, só há espaço para um deles).

“Alckmin, num primeiro momento, falava em acenar às esquerdas para derrotar a ameaça extremista de Jair Bolsonaro. Agora, parece ter tomado a panaceia do antiLula para crescer. As perguntas que isto enseja são: 1) Alvejado pela Lava Jato, reunirá melhores condições do que Bolsonaro para encarar este personagem do ‘alto’ de seus 6% contra 20% do ex-capitão? 2) Com Lula interditado, quem, nas esquerdas, votaria em Alckmin após ataques nestes termos ao ex-presidente, justamente quando ele mais precisaria delas para fazer frente ao ex-capitão (novamente, o fantasma Hillary Clinton)? 3) Após inflamar a radicalização do eleitorado cativo do PSDB e se não conseguir suplantar Bolsonaro, vai endossar o ex-capitão contra Lula ou contra um nome de centro-esquerda? Como e a que custo faria diferente?”, questionou Vieira.

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Do ponto de vista do mercado, evidentemente Alckmin conta com a preferência da maioria neste momento. Mas as circunstâncias podem mudar a posição dos agentes econômicos, a depender dos acenos já iniciados por Bolsonaro em direção ao pensamento liberal e da fragilidade do tucano em enfrentar os nomes hoje considerados maiores adversários.

Em meio a todo esse cenário de disputas à direita e até mesmo à esquerda, o analista político não acredita que Alckmin vingará como candidato à presidência. “Dado o contexto em que se insere sua candidatura, de disputa com Meirelles, com Lula e com a ala mais forte interna do PSDB, dobramos a aposta de que não irá adiante”, observou. Nesse sentido, ainda pode haver uma nova janela para os outsiders entrarem na disputa. Até abril, o show deve continuar.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.