Bolsonaro acena ao mercado, Maia ganha força, Alckmin reage: 5 destaques do agitado noticiário político

Confira os destaques de Brasília neste feriado

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A aparente tranquilidade de um feriado contrasta com a movimentação do noticiário político nesta segunda-feira (20), Dia da Consciência Negra, que manteve os mercados fechados por aqui, mas não inibiu um dia com muitas novidades em Brasília. Confira cinco destaques do noticiário político neste feriado:

Novo comando na Polícia Federal

Empossado novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia disse que o presidente Michel Temer, que o nomeou para o cargo na sucessão de Leandro Daiello, continuará sendo investigado com a “celeridade de todos os outros inquéritos”. A frase se deu após a insistência de jornalistas em perguntas. O novo comandante da PF também criticou a postura da Procuradoria-Geral da República, que na gestão de Rodrigo Janot, denunciou pela primeira vez o peemedebista com base no recebimento de uma mala com R$ 500 mil por aliado, paga por delatores da JBS. “Uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa que a gente necessitaria para resolver se havia ou não crime, quem seriam os partícipes e se haveria ou não corrupção”, declarou. Em sua fala, ele deu a entender que a investigação teria sido encerrada precocemente.

Segóvia defendeu ainda a prerrogativa da PF de fechar acordos de delações premiadas. O assunto é motivo de divergências entre o Ministério Público Federal e a Polícia Federal. Para os procuradores, a lei que dá essa atribuição aos policiais é inconstitucional e deve ser uma função exclusiva do MPF. Uma ação direta de constitucionalidade tramita no Supremo Tribunal Federal sobre o assunto. “Já está na lei que a PF tenha a atribuição de fazer as delações premiadas, o que nada mais é que um meio de investigação. Como ferramenta de investigação, ela tem que fazer parte da atuação da PF e nós não vamos desistir dessa atribuição”, disse Segóvia, ao conceder entrevista à imprensa após assumir o cargo.

A despeito de tal posição, o novo diretor-geral da corporação defendeu um novo capítulo na conturbada relação mantida entre PF e MPF. Hoje, há uma infeliz e triste disputa entre a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, mas confio no espírito de maturidade dessas instituições. É preciso escrever um novo capítulo e deixar de lado a vaidade. O único que se beneficia dessa disputa é o crime organizado”, ressaltou.

Reforma ministerial fortalece Rodrigo Maia

O presidente da Câmara dos Deputados foi um dos maiores ganhadores com o que se desenha até o momento na reforma ministerial do presidente Michel Temer. Com a saída de Bruno Araujo (PSDB-PE) do ministério das Cidades, a pasta foi entregue a Alexandre Baldy (sem partido-GO), fiel aliado de Maia e que deve se filiar ao PP em breve. Além disso, conforme noticia o jornal O Estado de S. Paulo, o peemedebista deve indicar um nome que tenha o aval do comandante da casa legislativa para comandar o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), hoje sob o comando de Paulo Rabello de Castro, que pode se candidatar à presidência pelo PSC.

Antes mesmo de assumir o comando do ministério mais cobiçado pelos parlamentares às vésperas de um ano eleitoral com recursos para campanhas escassos, Baldy já foi atingido pela boa memória de alguns atores políticos. Como lembram os jornais nesta segunda-feira, o parlamentar é apontado pelo relatório de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) como tendo participado de esquema comandado em Goiás pelo empresário dos jogos de azar Carlos Cachoeira.

A despeito dos afagos e do maior protagonismo para a aprovação da reforma previdenciária, Rodrigo Maia não poupou o governo de ataques. O deputado do Democratas criticou o uso excessivo de medidas provisórias pelo presidente Michel Temer. Para ele, o recurso não ajuda a democracia e se assemelha à forma de agir de um ditador. A fala vem uma semana depois de o governo editar uma MP alterando pontos da reforma trabalhista, cumprindo compromisso assumido com os senadores, mas desagradando deputados.

Enquanto isso, no ninho tucano, o presidente interino do PSDB, Alberto Goldman, desautorizou qualquer articulação de bastidor em nome do partido para uma eventual reforma ministerial. Além disso, a executiva nacional vai se reunir na quarta-feira para formalizar institucionalmente o apoio à reforma da Previdência e espantar os rumores de que vai para a oposição ao atual governo.

Em outro sentido, o jornal Folha de S. Paulo noticia que o governo avalia adiar as trocas ministeriais para o início de dezembro. Segundo a reportagem, Temer deverá anunciar agora a nomeação de Baldy para Cidades, mas segurar a troca de Antonio Imbassahy (PSDB) da Secretaria de Governo. Este é mais um passo em falso do presidente após sinalizar uma reforma ministerial. Pela lógica, ele tende a diluir a distribuição de cargos para manter a perspectiva de poder.

Jair Bolsonaro volta a acenar ao mercado

Em entrevista ao programa Canal Livre, da TV Bandeirantes, o deputado confirmou que está se consultando com um grupo de especialistas na área e que a equipe chegou à conclusão de que, com regras, o Banco Central tem que ser independente, “até para ter uma previsibilidade”. Ele ainda afirmou que o “tripé macroeconômico” – instituído em 1999 e formado por metas de inflação, de superávit e taxa de câmbio flutuante – tem que ser preservado.

Quando perguntado se é a favor das privatizações, Bolsonaro afirmou que algumas estatais não deveriam ser privatizadas, mas sim extintas. Contudo, não quis dar detalhes sobre quais seriam as empresas. “Já outras estatais têm que ser privatizadas, mas têm que ver o modelo das estratégicas, não pode entregar essas questões para quem paga mais”, afirmou o político, citando como exemplo positivo o caso da privatização da Embraer, além da possibilidade das “golden shares”, ações presentes em estatais ou de capital misto pertencentes ao Estado e que garante direitos especiais como o poder de veto em alguns casos e decisões.

Durante a conversa, o parlamentar, segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto para a presidência da República, apontou que, caso não haja fraude nas urnas eletrônicas, estará no segundo turno. “Sou diferente de todos os presidenciáveis que estão aí. Quem declara voto em mim dificilmente mudará. Não havendo fraude, com certeza estarei no segundo turno”, disse ele.

Segundo Bolsonaro, ele “logicamente angaria um voto de protesto”, mas também conta com apoio convicto de determinados segmentos da sociedade, contando com “a simpatia do público evangélico, do agronegócio, dos que querem ter arma dentro de casa, que querem um currículo diferente do que estão aí e das pessoas que querem fazer o comércio com o mundo sem viés ideológico”.

Lula constrói pontes com Manuela D’Ávila

A despeito das críticas de setores dentro do PT, o ex-presidente Lula participou de encontro do PCdoB no último domingo, em Brasília, e deixou abertas as possibilidades de uma costura de esquerda mais adiante — a depender da conjuntura eleitoral. Em discurso de cerca de quarenta minutos, o líder nas pesquisas de intenção de voto disse que a aliança formadas por partidos de esquerda “está mais perdendo do que ganhando” e que é preciso mudar o discurso e a postura para vencer as eleições de 2018. “Nós estamos fragilizados na luta para evitar [o desmonte do Estado], porque os congressistas que estão votando para desmontar não têm compromisso conosco. Se a gente não tomar cuidado, vai piorar nas próximas eleições. Toda vez que se fala em mudança, piora. Precisamos pensar no que fazer”, afirmou. Na ocasião, o petista fez mais uma indicação de “superação” dos traumas do impeachment, valendo-se de um pragmatismo. “Não tenho mais idade de ficar criando o ‘Fora, Temer’ e ele estar dentro, de ficar criando o ‘não vai ter golpe’, e ter golpe. Vamos ter que parar de gritar e evitar que isso aconteça mesmo”, complementou.

Em contraste com seu principal adversário neste momento, o ex-presidente não acenou para o mercado e continuou fazendo criticas ao comportamento pró-investidores do atual governo. Sobre Jair Bolsonaro, o petista fez uma leitura sugestiva: “Eu não sou de extrema esquerda e muito menos o Bolsonaro é de extrema direita. O Bolsonaro é mais do que isso e quem convive com ele sabe o que ele é. Não vou dizer porque acho que ele tem o direito de ser candidato, de convencer as pessoas, e o Brasil tem que colher aquilo que planta”, afirmou.

Nesta segunda-feira, o jornal O Estado de S. Paulo trouxe reportagem afirmando que Lula recebeu em conta de sua empresa de palestras, a Lils Palestra, Eventos e Publicações, R$ 27 milhões em quatro anos. Em pedido encaminhado à Justiça Federal, os procuradores pediram para confiscar R$ 21,4 milhões em bens e mais R$ 2,5 milhões de seu filho, Luiz Cláudio.

Geraldo Alckmin reage

Em viagem a Recife, o governador de São Paulo disse que fará o que puder para pacificar a legenda, em meio aos novos desentendimentos internos. “Não sou candidato a presidente nacional do PSDB, pois temos bons nomes. Mas no que eu puder ajudar para unir o partido eu o farei, porém não preciso ser presidente [da legenda] para isso”, disse durante palestra a empresários e políticos, esquivando-se da situação que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tenta construir na legenda. Alckmin defendeu ainda a decisão de Bruno Araújo de deixar o Ministério das Cidades, alegando não ser necessário ter pastas para “apoiar mudanças que o Brasil precisa”. Sobre seus adversários em eventual disputa eleitoral, o governador disse não querer cumprir o papel de nome a evitar vitória de Lula ou Bolsonaro. “Quero ser presidente para mudar o Brasil”, disse.

A viagem de Alckmin a Pernambuco precisa ser entendida em um contexto de crescimento do nome de Joaquim Barbosa como presidenciável. O ex-ministro do STF é cotado como possibilidade pelo PSB às eleições. O governador paulista conta com o partido para a configuração de uma aliança em torno de seu nome para a disputa. Neste momento, o apoio da ala paulista dos socialistas tende a ser mais fácil para o tucano, o que o leva a buscar a outra ponta em Pernambuco, com figuras como Renata Campos, viúva de Eduardo Campos, falecido em acidente aéreo durante a disputa eleitoral de 2014.

(com Agência Brasil)

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.