A guerra fratricida do PSDB pode azedar mais a previdência e “dar a presidência a Lula”?

Mais um episódio do racha tucano agravou ainda mais a percepção sobre as dificuldades das reformas e gera temores sobre a eleição do ano que vem

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Enganou-se quem achava que a crise do PSDB não poderia piorar. De surpresa, na tarde da última quinta-feira (9), o senador Aécio Neves (MG) voltou a assumir as suas funções na presidência do partido, cargo em que estava afastado desde maio. A razão para a sua volta foi destituir o presidente interino do partido, Tasso Jereissati (CE), que defende a saída do governo Michel Temer. 

A conversa entre os senadores foi ríspida, a decisão foi vista com surpresa e perplexidade por caciques tucanos (com destaque para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso), aprofundando ainda mais o racha entre a ala governista, que pressionou Aécio a destituir Tasso, e os chamados “cabeças pretas”, que querem a saída do governo. Neste cenário, as especulações sobre a confusão no ninho tucano são diversas e antagônicas – assim como as implicações no curto e longo prazos para o cenário político. 

Horas depois o acontecimento, a leitura sobre a atitude de Aécio é variada. Por um lado, há avaliações de a que a possibilidade de Tasso usar a presidência do PSDB para se lançar ao Planalto foi determinante para a atitude do senador mineiro, que teria contado inclusive com o apoio da ala paulista do partido. Deste modo, não seriam apenas os ministros de Temer a apoiar essa movimentação. Por outro, há quem veja o governador de São Paulo e principal nome entre os tucanos para a presidência como principal prejudicado com essa confusão. 

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Para o analista político da MCM Consultores, Ricardo Ribeiro, é pouco provável que Tasso esteja armando uma candidatura presidencial e a decisão de ontem não foi nada benéfica para o governador paulista, já que aprofunda ainda mais a crise e a divisão no PSDB, em um momento em que era necessária uma maior unidade. ” A elevação da crise do PSDB aumenta a apreensão e o risco de que uma candidatura do PSDB saia mais enfraquecida”, afirma o analista. 

Uma possível candidatura mais enfraquecida de Alckmin remete a uma outra questão, que vem sendo o grande temor dos mercados no ano que vem: a de que a falta de um nome forte do partido para 2018 aumente a quantidade de candidaturas de centro. Isso levaria a um cenário parecido com o pleito pulverizado de 1989, que culminou com a eleição de Fernando Collor, um quadro que até então se apresentava como “anti establishment”.

Já em 2018, olhando para uma pulverização das candidaturas de centro, a candidatura dos que aparecem até agora como melhores candidatos na pesquisa, mas para quem o mercado torce o nariz – leia-se Lula e Jair Bolsonaro – pode ganhar forças. 

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Neste sentido, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que seu partido vive um momento de “histeria” e erra ao defender a saída do governo e diz que a legenta risco de perder a eleição de 2018. “Desse jeito, vamos entregar a Presidência para o Lula, em 2018”, destacou Aloysio, que complementou: “engana-se quem pensa que será carregado nos braços do povo por ter desembarcado do governo. O PSDB será julgado por suas ações concretas em benefício do País. Mas como fazer o discurso da razão com o partido em pé de guerra?”

Contudo, ainda há muitas indefinições sobre o cenário para 2018, segundo o analista da MCM. “A eleição está muito longe ainda e a fragmentação não está dado, com maiores definições sobre o cenário para a disputa eleitoral a partir de abril. Até lá, pode haver um esforço de coordenação para que o centro político produza um candidato. De qualquer forma, a situação preocupa para quem acredita que o PSDB teria um candidato mais consensual para a disputa ao Planalto”, avalia.

Além disso, ele ressalta que há algumas semelhanças com 1989, mas também há duas diferenças importantes: aquele pleito foi só para o presidente, o que gera maior margem para outsiders e, em segundo lugar, a economia só piorou durante a eleição, sendo que é esperado o inverso para 2018. 

E a reforma da previdência?

Já no curto prazo, quais são as implicações? A primeira a ser observada é sobre a reforma da previdência, cujas articulações ganharam forças nesta semana, mas em meio a pressões de partidos do centrão para que o PSDB seja desalojado dos ministérios que ocupa para ser votada. Por enquanto, as sinalizações de Temer eram dúbias sobre adiar a reforma ministerial para abril ou promover em breve uma mudança nos ministérios. A resistência do presidente para manter os nomes tucanos no governo segue grande. 

Desta forma, conforme aponta o jornal O Estado de S. Paulo, o Planalto apoiou o ato de Aécio em destituir Tasso da presidência do PSDB, avaliando que a a estratégia pode ter impacto na operação que vinha sendo capitaneada por Tasso para o partido desembarcar do governo. No núcleo político do governo, o diagnóstico é de que os tucanos, hoje com quatro ministérios, podem até decidir deixar a equipe na convenção de 9 de dezembro, mas cargos da “cota pessoal” do presidente devem ser preservados.

De qualquer forma, aponta Ribeiro, a reforma ministerial será inevitável, com os partidos do centrão cobiçando principalmente o ministério das Cidades, comandado atualmente por Bruno Araújo, do PSDB de Pernambuco.

Conforme destaca um analista político, é fato que os ministros tucanos querem ficar no governo, o que torna essa decisão difícil para o governo. “O risco não é só para a reforma da previdência, mas para a pauta de interesse do Planalto em geral”, afirma. 

Já para Ribeiro, a atitude de Aécio pode gerar mais um efeito negativo para a reforma da previdência. A posição do PSDB, mesmo que desembarcasse do governo, era sempre em defesa das reformas econômicas, o que incluía a previdência. Porém, com a avaliação de que o governo pode ter feito mais uma intervenção dentro do ninho tucano, os cabeças-pretas podem se rebelar e votar contra reformas. Com o governo ainda precisando de votos para aprovar a reforma, o cenário que se desenha pode ser ainda mais negativo para a “improvável” aprovação da proposta, ainda que mais enxuta. 

Convenção vem aí!

Em um balanço sobre essa nova crise no PSDB, enquanto o cenário é negativo para o curto prazo, ele ainda permanece indefinido num horizonte mais longo. Desta forma, o próximo evento a ser monitorado com atenção é a convenção do PSDB para definir o próximo presidente do partido e que acontecerá no dia 9 de dezembro, com a disputa entre Tasso e o governador de Goiás Marconi Perillo. 

Para Ribeiro, porém, em meio a esse racha profundo, pode ser mais positivo para o PSDB a construção de uma terceira via para a presidência do partido. Isso porque, caso haja a disputa apenas entre Perillo e Tasso, que estão em lados antagônicos da disputa, pode haver um incentivo para que o perdedor amplie o racha no partido. 

Para evitar esse cenário e aglutinar o partido, FHC e o próprio Alckmin são cotados sendo que, na visão de Ribeiro, o governador paulista possui mais condição de assumir o cargo, o que também praticamente sacramentaria a sua indicação ao Planalto pelo partido. 

O cenário sobre o PSDB ainda é sombrio e novas surpresas podem vir até o Congresso do início de dezembro. Mas uma coisa parece certa: esse novo episódio agrava a crise política, tornando ainda mais difícil a aprovação da reforma da previdência. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.