Por que Lula continua subindo nas pesquisas e sua reprovação segue em queda?

Não é incomum ouvir de políticos e analistas a frase "Lula está politicamente morto". Contudo, petista segue em alta nos levantamentos eleitorais

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A despeito de todo um noticiário negativo que vai da condenação em primeira instância no âmbito da operação Lava Jato às novas denúncias e depoimentos comprometedores de antigos aliados políticos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua dando provas de sua resiliência nas pesquisas. O caso mais recente foi observado em levantamento feito pelo instituto Ipsos entre os dias 1º e 14 de setembro, que marcou uma alta de 8 pontos-percentuais na aprovação do petista, para 40%, em relação à última sondagem.

Na mesma base comparativa, a desaprovação de Lula caiu de 66% para 59% — patamar ainda considerado elevado para um candidato de fato competitivo para as próximas eleições presidenciais. Desta forma, não é incomum ouvir de políticos e analistas a frase “Lula está politicamente morto”. Tais avaliações poderão se mostrar corretas no futuro, mas uma leitura mais cautelosa é recomendável neste momento. Com uma taxa de reprovação desta magnitude, será difícil o petista sair vitorioso do pleito em 2018, caso não seja impedido de disputar ou desista da candidatura. Contudo, se tal indicador mantiver a trajetória de queda recente, Lula pode ampliar suas chances de derrotar seus adversários.

Fonte: Ipsos

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O ex-presidente alimenta extremos, com difícil possibilidade de reversão de eleitores de ambos os lados. Conforme pontuou o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, ao jornal O Estado de S. Paulo, os grupos que aprovam ou desaprovam Lula “não mudam suas opiniões”. “A posição desses grupos não está conectada com os fatos. Não há como reverter isso”, disse. Sendo assim, o petista tende a enfrentar maiores dificuldades para continuar elevando seu piso de apoiadores e reduzindo a taxa de rejeição. Neste caso, a trajetória observada pode não ser sustentável, o que minaria as chances reais de Lula vencer, embora conte com favoritismo para embarcar em uma disputa de segundo turno. Para que se tenha uma melhor ideia disso, seria necessário observar os dados estratificados, o que revelaria onde o ex-presidente cresce ou cai.

Mas, além da possível resistência do eleitorado favorável a Lula a fatos negativos, o que poderia explicar a melhora nos indicadores do petista?

1. Rejeição a Temer: O elevado nível de reprovação do governo de Michel Temer tem gerado dividendos políticos ao ex-presidente, que também conta com uma comparação entre as gestões no imaginário popular. A forte aprovação de Lula ao final de seu mandato foi capaz de se traduzir na eleição e reeleição de Dilma Rousseff. Embora muitos acreditem que parte dessa força tenha se perdido, ela ainda existe em parte.

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Fonte: Ipsos

2. Campanha antecipada: O ex-presidente também deve estar colhendo os frutos da intensa campanha antecipada que tem feito. Não é possível dimensionar os efeitos das caravanas feitas na região Nordeste, mas os resultados do petista podem ter melhorado com as viagens, entrevistas e discursos que ele tem feito.

3. Vitimização: O embate com o juiz federal Sérgio Moro, responsável por julgamentos na primeira instância da operação Lava Jato em Curitiba (PR) pode gerar algum efeito positivo ao ex-presidente, a despeito de todo o noticiário negativo. Na primeira vez em que os dois estiveram frente a frente na capital paranaense, no processo que culminou na condenação do petista a nove anos e meio de prisão, a socióloga e professora Esther Solano chamou atenção para a narrativa dos apoiadores presentes nas ruas. Na ocasião, ela vislumbrou um forte discurso de luta de classes, que associa o ex-presidente a uma liderança representativa e responsável por mudanças importantes na vida desses grupos de menor renda. Neste caso, a luta vai além da defesa ao próprio petista, para a representação de uma camada da sociedade, que se vê ameaçada pelo avanço da exclusão. “Todo mundo [deste grupo manifestante] falava: ‘Lula foi o único que mudou um pouco nossa vida’. Há uma grande identidade com ele”, afirmou.

Na avaliação dela, contribui para um acirramento dessas posições o receio de percepção de piora de vida da base da sociedade com o governo Temer e sua agenda de reformas. A especialista vê uma situação de desespero e conta que chegou a ouvir de alguns manifestantes o questionamento: “Se eles prenderem Lula e continuarem com Temer, o que nos sobra?”. As agendas se misturam e é nesse caldo de cultura que também se encontra a narrativa de que Lula e o PT seriam vítimas de uma perseguição do Judiciário. “Essa narrativa do vitimismo está muito forte. As pessoas falavam comigo: ‘Lula está sendo perseguido porque ele representa o povo. Moro e o Judiciário representam a elite, a Globo’. ‘O Moro é a elite e a elite nos odeia’. ‘Se prender Lula, seria uma ofensa. Vamos entrar em guerra'”, contou Solano.

A luta de classes se faz muito presente neste lado da disputa e caminha em conjunto com a crença de inocência do ex-presidente. Para esse grupo de manifestantes, sequer se cogita a hipótese da apresentação de uma prova incontestável contra Lula. Tal crença na inocência do ex-presidente pode ser, juntamente com a sensação de gratidão por uma melhora nas condições de vida, um dos elementos que sustentam a resiliência de Lula nas pesquisas eleitorais, a despeito das denúncias feitas e da exposição negativa diária na imprensa.

Piso alto, teto baixo
A pesquisa CNT/MDA, realizada de 13 a 16 de setembro de 2017, mostrou um fortalecimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na pesquisa de intenção de voto espontânea, o petista passou de 16,6% em fevereiro para 20,2% em setembro, ao passo que na estimulada conseguiu ficar acima dos 30% em todos os cenários. Do ponto de vista da aprovação ou rejeitção, Lula é o único em que 23,4% dos eleitores votariam e um candidato em que 24,3% poderiam votar; 50,5% não votariam nele de jeito nenhum.

[A pesquisa] mostra que Lula continua competitivo. Apesar de todo esse noticiário negativo e dos possíveis desdobramentos que podem acontecer na Justiça, Lula ainda é competitivo”, observou o analista político Erich Decat, da XP Invesimentos em entrevista à InfoMoneyTV. “Ele ainda está nessa faixa de 30% e parece que ainda tem aquele efeito teflon que aconteceu nas outras campanhas, de que nada negativo tem pego nele. Apesar de que, puxando por outro lado, ele hoje tem uma rejeição elevada. Então, ao longo dessa caminhada dos próximos meses e até o início do próximo ano, teremos que verificar em que patamar estará essa questão da rejeição. Se ele permanecer entre os 30% [de intenção de voto], mas a rejeição também se estabilizar com 50%, isso dá margem para outros candidatos crescerem”, concluiu.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.