As investigações já estarão prejudicadas mesmo se novo ministro da Justiça não fizer nada, diz delegado da PF

Em pouco mais de um ano, cinco ministros já ocuparam a Justiça: José Eduardo Cardozo, Wellington César Lima e Silva, Eugênio Aragão, Alexandre de Moraes e Osmar Serraglio

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A nova mudança de comando no ministério da Justiça trouxe mais preocupação aos delegados e agentes da Polícia Federal sobre possíveis tentativas de interferência nos trabalhos das mais diversas operações em curso. No último domingo (28), em meio ao furacão da crise política em que se encontra, o presidente Michel Temer decidiu promover uma troca de cadeiras entre Torquato Jardim, antes na Controladoria-Geral da União, e Osmar Serraglio, muito criticado por segmentos do mundo político e sociedade pela postura à frente do ministério da Justiça, que tem sob seu amplo guarda-chuva a própria PF.

“Toda troca de ministro preocupa. Quando ela acontece domingo, em um contexto em que são liberadas ao público gravações do alto escalão da política nacional, falando sobre colocar alguém forte no ministério da Justiça, gera uma preocupação ainda maior”, afirmou o delegado Edson Garutti, vice-diretor regional da ADPF (Associação dos Delegados da Polícia Federal), em São Paulo, em conversa por telefone.

Em pouco mais de um ano, cinco ministros já ocuparam a Justiça: José Eduardo Cardozo, Wellington César Lima e Silva, Eugênio Aragão, Alexandre de Moraes e Osmar Serraglio. Conforme noticia a imprensa, o ingresso de Jardim busca atender às expectativas do Palácio do Planalto em retomar a influência sobre a Polícia Federal. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o novo ministro disse que ainda vai avaliar a possibilidade de substituir o comando da corporação.

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Para Garutti, o atual quadro de corte de orçamento e fatiamento da operação Lava Jato faz com que a própria inércia já seja prejudicial aos trabalhos da corporação. “No atual cenário, para ocorrer interferência nas investigações, basta que o ministro não faça nada. O simples fato de ele ficar calado já vai ser prejudicial, porque o corte orçamentário já foi anunciado e o fatiamento da Lava Jato para os estados, nesse cenário, já provoca um prejuízo enorme para o Brasil”, argumentou.

Na avaliação do delegado, já há uma elevada sobrecarga nas atividades, o que dificultaria a formação de equipes focadas na investigação. Ele lembra que há uma carência de profissionais, com 500 cargos vagos de delegados federais no aguardo da convocação de concurso. O pior, segundo Garutti, é que a PF seria uma instituição superavitária, uma vez considerados o retorno de bens e os prejuízos evitados com a desarticulação de associações criminosas — ou até mesmo como instrumento de dissuasão na formação de novos grupos.

“A ADPF espera que o ministro faça, o mais breve possível, um pronunciamento em defesa da Polícia Federal”, disse o delegado. “O que queremos é maior autonomia, menos ingerência política. Toda vez que troca o ministro, que sopra um vento, há ameaça de troca do diretor-geral [da PF], o que significa também troca da cadeia abaixo. O Brasil não precisa dessa instabilidade”. A associação pede a autonomia da Polícia Federal e a instituição de mandato fixo para o cargo de diretor-geral — hoje, ocupado por Leandro Daiello, sobre o qual sempre pairam dúvidas acerca da permanência no posto a cada nova troca ministerial.  A dependência de repasses e decisões orçamentárias vindas da Esplanada dos Ministérios coloca a corporação em posição de vulnerabilidade.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.