O Brasil (finalmente) ficou mais parecido com a Coreia do Sul – mas não pelos motivos certos

Crise política e impeachment das presidentes de ambos os países deflagraram esquema de corrupção 

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Eterno “País do Futuro”, o Brasil sempre é comparado a Coreia do Sul como exemplo do que deveria ter sido feito para que saísse do status de país pobre e pouco educado e virar uma grande potência tecnológica e superar a pobreza. 

Após a Guerra das Coreias, a Coreia do Sul era um país arrasado pela pobreza, com o Brasil aparecendo na frente no ranking global de desenvolvimento. Porém, hoje, o cenário é bem diferente, uma vez que a trajetória mudou radicalmente e os sul-coreanos entrando para o time de países desenvolvidos em meio ao avanço do ensino educacional, aumento da produtividade e com a ascensão de marcas valiosas, como a Samsung, LG, Hyundai e Kia.

Abismo menor

Contudo, o abismo entre os dois países parece ter ficado menor nos últimos tempos. Não, o motivo não é a melhora econômica brasileira, mas sim um outro fator, este nada positivo: a forte instabilidade política nos dois países. 

Esta avaliação ficou ainda mais próxima após a confirmação do impeachment da presidente sul-coreana Park Geun-hye, que a removeu em definitivo do cargo nesta sexta-feira, em decorrência de um escândalo de corrupção que envolve a Samsung e em um momento de tensão crescente com a Coreia do Norte e a China. 

O veredicto provocou protestos de centenas de apoiadores da presidente, e dois manifestantes foram mortos em confrontos com a polícia do lado de fora do tribunal. Park é a primeira líder democraticamente eleita da Coreia do Sul a ser removida do cargo, em um processo que provocou meses de paralisia e crise no país devido a um escândalo que também resultou na prisão do chefe do conglomerado Samsung.

Assim, não há como não relacionar o impeachment de Park com o de Dilma Rousseff, mesmo com tantas diferenças entre as nações. Além do fato de serem as duas primeiras mulheres a governarem os seus países e sofrerem o impeachment, elas acabaram caindo por enfraquecimento com a descoberta de casos de corrupção no governo.

Os protestos deflagrados em apoio e contra as duas presidentes também mostram as semelhanças dos dois processos, assim como a deflagração de relações escusas entre grandes companhias e o governo: enquanto grandes empreiteiros foram presos no Brasil, com destaque para o ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht, na Coreia do Sul a investigação envolveu muitos dos maiores conglomerados do país e incluiu a prisão do covice-presidente do conselho da Samsung e sucessor natural, Jay Y. Lee. 

Apesar de Dilma ter caído em meio a alegações de desrespeito à lei orçamentária, obviamente o caso de corrupção deflagrado na Operação Lava Jato foi determinante para a queda da presidente. Já Park foi cúmplice no caso “Rasputina”, apelido de sua amiga Choi Soon-sil, acusada de aproveitar da sua amizade com a presidente para intervir em assuntos de Estado, apesar de não ocupar nenhum cargo público, e de articular uma ação de extorsão de empresas. As empresas doaram grandes quantidades de recursos a várias fundações, que foram apropriadas por Soon-sil. 

Impeachment impulsionará a Bolsa?

Além disso, há outro fator de semelhança entre os dois países, desta vez com relação ao mercado financeiro, conforme destaca a Bloomberg. Se a história servir de parâmetro. as bolsas coreanas podem registrar alta. 

Os índices de referência das ações do Brasil e dos EUA subiram após as quedas de presidentes, segundo dados compilados pela Bloomberg. As ações coreanas já vêm subindo desde o início do processo de impeachment.

“Assim como a situação do Brasil ou a dos EUA em 1974, isso deverá ajudar as ações coreanas a subirem em relação ao patamar atual”, disse Shane Oliver, chefe de estratégias de investimento da AMP Capital Investors em Sidney. “Essa questão oferece de certa forma uma conclusão para a situação política em torno da presidente Park e possibilita que a Coreia siga em frente de forma mais segura. A única coisa que me tira um pouco da certeza são os futuros desdobramentos da situação com a Coreia do Norte.”

“A aprovação da Justiça traz um enorme alívio para os mercados, porque evita um cenário possivelmente desastroso em que a presidente Park retornaria ao poder em meio a um intenso descontentamento público”, escreveu Kai Wei Ang, analista do Commerzbank, em relatório, na sexta-feira. “A formação de um novo governo abre caminho para a implementação de medidas fiscais mais enérgicas.”

No Brasil, em fevereiro deste ano o Ibovespa subiu 19% e atingiu o nível mais alto desde 2011, poucos meses após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, que ocorreu em setembro de 2016 após nove meses de processo. 

Assim, o Brasil e a Coreia do Sul mostram bastante semelhanças neste momento. Contudo, o Brasil ainda terá que “caminhar muito” para atingir os pontos positivos que a Coreia do Sul conseguiu na última metade de século.

(Com Reuters, Agência Télam e Bloomberg)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.