Colunista do FT diz que vontade brasileira foi cumprida só parcialmente e sugere renúncia de Temer

Para Alex Cuadros, eleições presidenciais agora não resolverão o problema nacional, mas podem abrir margem para um maior debate da população

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A crise política brasileira está longe de acabar e não serão as eleições que irão corrigir as falhas estruturais do País. Contudo, em coluna para o jornal britânico Financial Times, Alex Cuadros afirmou que elas podem responder a quaisquer perguntas sobre a legitimidade de um governo pós-Dilma Rousseff que busca embarcar em reformas radicais e dar aos brasileiros a oportunidade de debater as soluções para a crise econômica nacional.

“A alternativa mais provável a isso é o crescente afastamento da população do processo político. Isso só vai tornar mais fácil para a classe política do Brasil servir-se em primeiro lugar, o que tem sido feito faz muito em detrimento dos cidadãos comuns”, aponta Cuadros, autor do livro “Brazillionaires: The Godfathers of Modern Brazil”.

O colunista aponta que, três décadas após o Brasil sair de uma ditadura militar, e na sequência do segundo impeachment presidencial em 24 anos, o País está profundamente dividido, pessimista e perdendo a fé na própria democracia.

“Isto é preocupante, mas compreensível, dada a amarga luta pelo poder que paralisou Brasília desde a reeleição de Dilma Rousseff como presidente em 2014. Embora a crise política tenha atingido o seu clímax no final do mês passado, quando senadores votaram para tirar Dilma, a disputa está longe de ser resolvida”, aponta ele.

Cuadros ressalta que Dilma foi cassada por ter violado a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas poucos cidadãos compreenderam as acusações. Já o novo presidente, Michel Temer, busca “reunificar” o País, mas é chamado por seus opositores de “golpista”. Além disso, as medidas propostas por Temer para controlar as finanças são drásticas. O escritor ressalta ainda que 60% dos brasileiros queriam Dilma fora do cargo de presidência, mas um percentual similar também não queriam Temer. Além disso, ele aponta que a população brasileira vê a corrupção como problema número um – e Temer já foi citado na Lava Jato.

“Tudo isto significa que, com o impeachment de Dilma, a vontade popular foi cumprida apenas parcialmente, de uma forma que é conveniente para establishment político do Brasil. Mas uma solução para esta desconexão pode ser encontrada entre os milhares que tomaram as ruas para protestar contra Temer, carregando cartazes que diziam ‘Diretas Já’. Se Temer renunciar antes do ano acabar, as eleições presidenciais serão chamados automaticamente”, afirma, sugerindo a saída do atual presidente. Desta forma, ele avalia que as eleições não resolverão o problema nacional, mas podem abrir margem para um maior debate da população. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.