Os estrangeiros estão profetizando a “tragédia” e o “caos” para a Olimpíada do Rio

Do inferno a uma tragédia que está por vir: assim os estrangeiros estão vendo a Olimpíada que começará em agosto; problemas vão de crise econômica à segurança e saúde

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Se os estrangeiros estão mais animados com o cenário econômico brasileiro, o mesmo não pode ser dito da Olimpíada do Rio de Janeiro, que terá início no próximo dia 5 de agosto. 

Em matérias de jornais estrangeiros das últimas semanas, o tom negativo sobre os jogos é a regra, ressaltando tanto os problemas de segurança e saúde quanto da crise econômica vivida atualmente pelo Rio de Janeiro, que decretou em 17 de junho estado de calamidade pública. Esta visão negativa também ocorre no plano nacional: pesquisa Datafolha divulgada nesta terça-feira mostrou que a rejeição aos Jogos dobrou de 2013 para 2016 e chegou a 50% da população brasileira. Entre os que apoiam o evento, houve um recuo de 64% em 2013 para 40% este mês, segundo a pesquisa. Outros 9% disseram ser indiferentes à competição, e 2% não responderam.

Já na imprensa estrangeira, um dos últimos artigos a serem divulgados foi o da colunista de esportes do Washington Post, Sally Jenkins, que afirmou que, com sorte, o evento escapará de um desastre de “larga-escala”, destacando que a culpa de uma eventualidade é do COI (Comitê Olímpico Internacional). 

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“Meio milhão de pessoas irão ao Rio para os jogos, com uma força de segurança de apenas 85 mil para mantê-los a salvo de terroristas e bandidos. Muitos deles são ressentidos, por serem mal pagos, com carros sem combustível e helicópteros parados, sendo que já tentam lidar com uma das cidades mais cheias de criminalidade na Terra”, afirma a colunista. Ela ainda afirmou “esperar que super-heróis” desçam à Terra em caso de problemas sérios durante os jogos. Ela ainda ironiza ao afirmar que a organização é “tão boa” que  a linha de VLT ficou sem energia uma semana após ser aberta, em junho. “Tão organizado que uma linha de metrô de US$ 3 bilhões ainda não está terminada e não será totalmente testada antes de receber os passageiros olímpicos”.

Mas não para por aí: no início de junho, o The New York Times afirmou que a Olimpíada na Cidade Maravilhosa já é uma catástrofe. A publicação destacou os Jogos como um “desastre não natural” e, ao se referir ao decreto de calamidade pública feito pelo governador do estado, Francisco Dornelles, afirma: “medidas como essas são normalmente tomadas em caso de um terremoto ou inundação. Mas a Olimpíada deste ano é uma previsível e evitável catástrofe feita pelo homem”. A lista de problemas, segundo a publicação, é bastante extensa, citando atraso nas obras, violência, epidemia do vírus Zika, problemas com segurança e com o transporte público, além de escassez de informações turísticas. Porém, destaca, essas preocupações são vistas com desprezo pela organização brasileira.

O artigo foi escrito pela brasileira Vanessa Barbara, colaboradora do jornal, que destaca que o estado não está pronto para receber o evento. Em visita recente ao Rio, ela escreve que a próxima sede da Olimpíada “é um enorme canteiro de obras. Tijolos e encanamentos estão empilhados em todos os lugares; poucos preguiçosos trabalhadores puxam carrinhos de mão como se os Jogos estivessem agendados para 2017. Ninguém sabe no que as obras se transformarão, nem mesmo as pessoas trabalhando nelas”. 

Além disso, ressalta, muitas obras  não servirão tão bem à população após a Olimpíada ser realizada. “Seis estações foram feitas em uma linha de metrô que conecta a rica vizinhança à beira da praia com o Jardim Oceânico, uma parada perto do Parque Olímpico. Mas a maioria dos moradores do Rio preferiria ver a construção de uma linha diferente, que conectasse o centro da cidade aos municípios menos chiques de Niterói e São Gonçalo, onde muitos trabalhadores vivem, e que custaria metade do preço”.

Já no final de junho, o site Business Insider publicou um texto com o título “Bem-vindo ao inferno: Rio é um desastre poucas semanas antes das Olimpíadas”, afirmando que o Rio tem ido de mal a pior na organização do evento. 

Além de ter destacado as greves de policiais no Rio, o Business Insider ressaltou  que faltam recursos para garantir serviços básicos para a população e turistas. “Tudo isso poderia levar a mais problemas e fazer muitos espectadores e atletas reconsiderarem assistir ou participar dos jogos”, diz a publicação. O texto ainda lembra de uma frase do governador do estado, Francisco Dornelles: “estou otimista sobre os jogos, mas eu tenho que mostrar a realidade. Nós podemos fazer uma grande Olimpíada, mas se algumas medidas não forem tomadas, pode ser um grande fracasso”.

Em meio a esse cenário, reiterando uma ideia já destacada pela Forbes anteriormente, um artigo do site do canal esportivo americano “Fox Sports” do início do mês afirmou que a  Olimpíada do Rio corre risco de se tornar um barril de pólvora, e precisava ser mudada de lugar. 

“O Brasil deveria ser um paraíso tropical em estado de crescimento. Foi esse o Brasil que ganhou o direito de sediar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. O Brasil que era uma das economias que cresciam mais rapidamente no mundo. Esse Brasil não existe mais”, afirmou. De acordo com a Fox Sports, o Brasil é uma “nação à beira do colapso total” e  ainda dá tempo de evitar um “desastre”.

“Cancelar a Olimpíada a esta altura seria muito cruel com os atletas (…). Mas os Jogos não podem acontecer no Brasil. Há lugares por todo o planeta que podem se oferecer e carregar parte do fardo”, afirmou. O artigo defendeu que EUA e Canadá teriam condições de sediar os Jogos mesmo sem muito tempo para preparar o evento. Além disso, Inglaterra, Alemanha, Austrália, Suécia e França seriam outras opções, realizando a primeira edição de “Jogos realmente globais”.

Será que é exagero?
Com tantos “profetas do caos”, será que é um exagero prever uma situação tão complicada para a a Olimpíada realizada no Brasil? Conforme destacou em artigo o presidente emérito do think tank Inter-American Dialogue, Peter Hakim, nenhuma edição dos Jogos aconteceu em um país em situação tão turbulenta quanto o Brasil em 2016. Mesmo assim, tudo deve correr bem. Porém, mesmo se a Olimpíada for “perfeita”, “o Brasil ficará com sua imagem manchada”.

“O ex-presidente Lula queria a Olimpíada para o Brasil porque quase todos os grandes países do mundo sediaram os Jogos. Ele sabia que traria enorme publicidade para o Brasil e colocaria o país numa vitrine. O que ele não podia saber era que a imagem mostrada seria tão negativa, que o Brasil cairia tanto e tão rapidamente”, ressaltou, listando os problemas já destacados correntemente pela imprensa internacional. De acordo com Hakim, a mídia estrangeira tratará dos problemas atuais, sem levar em consideração que o Brasil avançou nos últimos 30 anos. “A pobreza, a desordem e os riscos físicos aos brasileiros comuns serão amplamente documentados”, afirmou. 

A insatisfação com uma visão tão negativa também foi destaca em entrevista recente do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, ao jornal britânico The Guardian. “Quando você lê a mídia internacional, parece que tudo aqui é zika e as pessoas atirando umas nas outras”. Apesar do “desabafo”, ele também destacou que a Olimpíada foi uma oportunidade perdida para a cidade: “com todas essas crises políticas e econômicas, todos esses escândalos, não é o melhor momento para estar nos olhos do mundo. Isso é ruim”, disse Paes. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.