Os maiores investidores do mundo estão apostando (e alto) no Brasil de Temer

Nesta semana, a BlackRock afirmou ver mudanças no Brasil e está ampliando sua exposição no Brasil, enquanto Mobius vê pechinchas no País; JPMorgan elevou Brasil e HSBC está overweight

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O presidente interino Michel Temer teve motivos para comemorar esta semana. Além de não haver nenhum grande foco de crise política deflagrado pela Operação Lava Jato, ele alcançou uma importante vitória após Rodrigo Maia (DEM-RJ) ser eleito para a presidência da Câmara dos Deputados, em meio às indicações de que ele está bastante alinhado com o Palácio do Planalto para pautar reformas econômicas importantes para o ajuste fiscal. 

Este é um dos motivos pelos quais, apesar do cenário econômico seguir bastante desafiador, os investidores globais estarem mais otimistas com o Brasil, conforme destacaram grandes gestores e casas de análise estrangeiras durante esta semana. A redução do risco político, a grande mudança na direção econômica com a nova equipe econômica estão sendo vistas como positivas e um ponto de virada para o País. 

“Temer está deflagrando uma ‘grande mudança na direção econômica’ do Brasil, afirmou Will Landers, chefe global de mercados emergentes da BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo, em entrevista para a Bloomberg esta semana. De acordo com Landers, o impulso de Temer para reanimar a economia ganhará força quando ele deixar a sua condição de interinidade. Para lucrar com essa recuperação, ele ampliou os investimentos em ações negociadas no mercado brasileiro para 57% de sua carteira, acima dos 46% de seis meses atrás. “Finalmente voltaremos para território positivo no próximo ano com potencial de termos uma surpresa positiva”, disse Landers. 

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Não é só ele que está apostando suas fichas no Brasil – e não só por fatores internos. Em entrevista à Frontera, o presidente do conselho da Templeton Emerging Markets Mark Mobius, conhecido como “guru dos emergentes”, afirmou que a recuperação do “Brexit” cria pechinchas entre algumas ações de consumo nos países em desenvolvimento, o que inclui o Brasil. A Templeton está colocando mais dinheiro no Brasil, o que vai fazer em 1-2 anos a partir de agora, afirmou. Mobius ainda está positivo em relação ao caos político no Brasil “simplesmente porque a extensão da onda anticorrupção é sem precedentes”. 

Além de Mobius e Landers, os bancos estrangeiros também vêm mudando a sua visão sobre o País. O JPMorgan elevou a recomendação para as  Brasil para overweight, diante de alavancagem operacional menor, apreciação do real e diminuição de riscos políticos, informa relatório divulgado nesta sexta-feira. “Temer não tem desapontado em sua disposição e habilidade para entregar uma agenda amigável ao mercado”, afirma o banco. Após um ciclo de baixa, as estimativas para resultados futuros são positivas. “Os preços mais altos de commodities, em comparação com o último ano, refletem fim de bull market para dólar e dados macroeconômicos indicam estabilização do crescimento econômico chinês, avalia o banco, destacando ainda que o “avanço gradual do governo Temer deve encorajar investidores”. 

O HSBC, por sua vez, está overweight (exposição cima da média) com o Brasil e destacou que o governo interino está conseguindo apoio do Congresso para a reforma fiscal. “A perspectiva para a inflação também melhorou e alívio monetário deve ocorrer quando a credibilidade fiscal estiver estabelecida”. O banco recomendou uma “grande compra” de títulos brasileiros, ao afirmar que há sinais de que o Banco Central poderá ancorar as expectativas de inflação da mesma forma que fez o BC da Índia, sob o comando de Raghuram Rajan, ao resistir às pressões para cortar juros até que a política fiscal tenha se estabelecido. 

A Santander Corretora também destacou uma visão mais positiva para o Brasil: “nossa perspectiva para o mercado de ações brasileiro se tornou mais positiva quando adicionamos mais papéis cíclicos domésticos à nossa carteira”, afirmaram os estrategistas da instituição. O banco removeu da carteira as ações de Telefônica Brasil (VIVT4), Transmissão Paulista (TRPL4), Multiplus (MPLU3), Cielo (CIEL3) e Suzano (SUZB5) e elevou a exposição para “ações de maior beta”, “negociadas abaixo de seus múltiplos normalizados”. As top picks são: Itaúsa (ITSA4), BB Seguridade (BBSE3), AES Tietê (GETI4), Mahle Metal Leve (LEVE3) e Hypermarcas (HYPE3). Além disso, o banco elevou a Petrobras (PETR3;PETR4) a um overweight marginal”. Para o banco, o PIB atingirá o seu “fundo” no segundo semestre deste ano e as previsões econômicas para 2017 são positivas para ações. O Santander reiterou a previsão de Ibovespa a 61.000 pontos no final de 2016. 

Além dos estrangeiros, o brasileiro BTG Pactual também está overweight com o Brasil, “apesar de todo o barulho”, uma vez que Temer segue avançando na agenda econômica, além de uma grande coalizão política. A confiança nos negócios aumentou e os mercados vêm revisando as suas expectativas para cima. “Além disso, a votação sobre a PEC do teto de gastos e a votação final sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff, ambos programados para agosto, podem ser catalisadores fortes”, afirma o banco. Eles recomendam seis ações brasileiras: Gerdau (GGBR4), BM&FBovespa (BVMF3), BR Malls (BRML3), Cosan (CSAN3), Localiza (RENT3) e Itaú Unibanco (ITUB4). 

Até mesmo os mais cautelosos estão vendo o Brasil com bons olhos. Em entrevista para a Bloomberg, Gary Greenberg, gestor de recursos do Hermes Global Emerging Markets Fund e que obteve resultados melhores que 97% de seus pares nos últimos 12 meses, fez alerta sobre o otimismo com ações de mercados emergentes. 

Embora prefira mercados como a Índia, onde reformas econômicas podem respaldar ganhos das ações, Greenberg também identificou empresas na Rússia e no Brasil que têm mais condições de suportar as retrações econômicas. No entanto, o “ciclo mágico” ainda não voltou para a maioria dos países em desenvolvimento, afirmou. 

Gestores e bancos estão otimistas com Temer e com o Brasil. Assim, se por um lado, o presidente interino pode estar satisfeito com a boa recepção às suas medidas econômicas, ele também deve ficar bem atento uma vez que terá que corresponder às grandes expectativas do mercado. 

(Com Bloomberg) 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.