De poderoso conservador a peão do impeachment: como mídia internacional noticiou o caso de Cunha?

Com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff se aproximando da votação que decidirá pelo seu afastamento do cargo, o Brasil tem atraído atenção em nível global pelo cenário de instabilidade política

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A liminar concedida pelo ministro relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, pedindo o afastamento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de suas funções teve repercussão nos principais veículos da imprensa internacional. Com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff se aproximando da votação que decidirá pelo seu afastamento do cargo, o Brasil tem atraído atenção em nível global pelo cenário de instabilidade política.

Confira a seguir como alguns dos principais meios da imprensa estrangeira noticiaram o afastamento do peemedebista:

New York Times
Pelo veículo norte-americano, o jornalista Simon Romero referiu-se a Eduardo Cunha como “o poderoso deputado que orquestrou o esforço para impedir a presidente Dilma Rousseff” e contextualizou o episódio no conturbado momento que o país enfrenta. Também foi lembrada na matéria a condenação do vice-presidente Michel Temer, que prepara para suceder a atual mandatária, pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo por doações de campanha acima do limite legal, o que o tornaria inelegível para pleitos nos próximos oito anos. Diz a publicação que as notícias, no entanto, não tendem a salvar Dilma na votação do Senado.

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O jornal ainda lembra que o peemedebista pode recorrer da decisão, e aponta para o segundo na linha sucessória, Waldir Maranhão, nome que também aparece nas investigações da Operação Lava Jato. “As nuvens legais em torno de Cunha e Temer apontam para preocupações em torno da legitimidade de um possível governo conduzido pelo centrista PMDB, que recentemente rompeu aliança com o partido de esquerda PT, de Dilma, para buscar seu impeachment”, dizia a reportagem. Por fim, também é apontado que, embora Rodrigo Janot tenha dito que o vice não enfrentará nenhuma investigação sobre as delações contra ele, seus potenciais ministros estão envolvidos em casos de corrupção sob apuração.

El País
Pelo veículo espanhol, a jornalista Raquel Seco referiu-se a Cunha como “político sempre polêmico e extremamente poderoso, quem conseguiu iniciar o processo para destituir a presidente Dilma Rousseff e está sendo investigado pelo caso Petrobras”. Na matéria, foram lembrados processo contra o deputado no Supremo e investigação contra ele que tramita na Comissão de Ética da casa legislativa. “Mas Cunha, um sobrevivente político nato que conhece a fundo o funcionamento do Congresso, conseguiu atrasar o processo ao máximo para seguir à frente do parlamento e liderar o impeachment de Rousseff. Estava a ponto de conseguir derrubar sua arqui-inimiga e converter-se em vice-presidente, apesar de três em cada quatro brasileiros apoiarem sua suspensão”. A reportagem também contextualiza a decisão do ministro Zavascki, que diz que Cunha na presidência da casa “representa um risco para as investigações do Supremo” e “conspira contra a dignidade da instituição”.

Ao final, o El País ilustra uma trajetória de familiaridade com polêmicas do peemedebista. “Cristão evangélico, possui dezenas de domínios de internet relacionados com o nome Jesus e soube aproveitar seus momentos de protagonismo para fazer publicidade de sua fé”, escreveu Raquel Secco na matéria. “A religião tem relação com muitas polêmicas do parlamentar, que antes de político foi corretor de seguros, economista, agente de bolsa e empresário de rádio”. A jornalista lembra, por fim, de sua ofensiva para a criação do “Dia do Orgulho Heterossexual”, sob a alegação de que seria “necessário resguardar direitos e garantias a heterossexuais, evitando-se uma discriminação pela ‘ideologia gay'”.

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The Guardian
O britânico The Guardian afirmou que Cunha foi “suspenso de todas suas funções pela alegação de tentar intimidar parlamentares e obstruir investigações contra si”. Diz a publicação que a decisão traz ainda mais incerteza política antes da esperada suspensão de Dilma e a formação de um novo governo conduzido por Temer. O peemedebista foi referido como um poderoso rival da mandatária e condutor do processo contra ela na Câmara dos Deputados. Lembrou-se também que o deputado seria o terceiro na linha sucessória da presidência da República.

Le Monde
O jornal francês Le Monde disse que Cunha foi “descartado” de suas funções por um juiz da Suprema Corte brasileira. O jornal chama o presidente da Câmara dos Deputados de “deputado evangélico e ultraconservador que originou o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff por ‘maquiar’ as contas públicas”. O Le Monde não deixou de lembrar que como responsável pela aceitação do processo de impedimento na Câmara, Cunha também é, ele mesmo, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro dentro do esquema de desvio de recursos da “gigantesca petroleira pública” Petrobras.

Clarín
O argentino Clarín tratou Cunha como o “impulsor do juízo político à presidente Dilma Rousseff”, que era até o momento o segundo na linha sucessória da mandatária, mas podia se converter no primeiro com o afastamento da petista aprovado no Senado na semana que vem. A matéria ainda lembra que a Constituição brasileira proíbe que um réu assuma a presidência ainda que de forma interina, o que traria complicações caso Michel Temer presidente se ausentasse do país e o peemedebista seguisse no comando da Câmara.

Agencia Efe
A agência de notícias espanhola Efe, usada por alguns veículos latino-americanos 
como o equatoriano El Universal para noticiar o episódio brasileiro, disse que a destituição de Eduardo Cunha já era exigida aos gritos por governo e oposição. A agência lembra o papel do parlamentar de, como comandante da Câmara, receber pedidos de impeachment e aceitá-los, como fez ao final do ano passado, “quando um grupo de juristas vinculados à oposição acusó Rousseff de manobras fiscais irregulares nos anos de 2014 e 2015”. “Para alguns analistas, no complicado xadrez da crise brasileira, Cunha teve papel de peão, uma peça usada geralmente na abertura, e que controla o jogo médio, e que, em um dado momento, pode ser sacrificada para facilitar o combate”, escreveu a reportagem. Ainda pontuou o texto que a decisão do magistrado Zavascki “deixou fora do jogo um personagem incômodo a Temer”.

The Wall Street Journal
O Wall Street Journal destacou o aumento na incerteza política no Brasil por conta da decisaõ de Zavascki de afastar Cunha. “A decisão do ministro Zavascki vem em meio a uma profunda crise política no Brasil, enquanto o Senado se prepara para votar na quarta-feira um relatório da Comissão [de Impeachment] pedindo que comece o julgamento do impedimento da senhora [presidente Dilma] Rousseff por acusações de que ela violou as leis orçamentárias”, diz o texto. O WSJ destaca a importância de Cunha para a abertura e a aprovação do processo na Câmara e lembra que ele era segundo na linha sucessória depois do vice-presidente Michel Temer. A reportagem também afirma que apesar do afastamento, Cunha não teve o seu mandato interrompido e continua a ter o chamado “foro privilegiado”. 

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.