“Deu zika”: foco dos “gringos” sobre o Brasil muda totalmente (e isso não é boa notícia)

O noticiário sobre o Brasil no exterior era dominado até pouco tempo atrás pelas crises econômica e política - agora, um novo ingrediente nada favorável está roubando a cena nas páginas internacionais

Lara Rizério

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SÃO PAULO – As últimas semanas foram de uma mudança bastante importante no modo como o Brasil é retratado na imprensa internacional. Se poucas semanas atrás, os grandes destaques da cobertura dos jornais “gringos” eram a derrocada da economia brasileira, a crise política, a repercussão do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff e as suas probabilidades, agora as atenções das publicações passaram a se concentrar no atual grande vilão do planeta: o zika vírus.

Não que as notícias sobre a forte volatilidade do mercado brasileiro ou sobre como a crise está impactando o Brasil tenham sido deixadas totalmente de lado, mas elas perderam muita relevância para o novo vírus, em meio às ameaças de contaminação global e depois dos alertas da OMS (Organização Mundial da Saúde) de que a microcefalia e o zika são emergência de saúde internacional. 

Uma rápida passada pelo últimas notícias do jornal “New York Times” referentes ao Brasil dá uma dimensão de como o foco mudou. Das últimas dez notícias sobre o País publicadas desde a última sexta-feira, nove foram para destacar o cenário preocupante com relação ao zika e as doenças recorrentes dele, como a microcefalia. 

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“O surto de zika, que é transmitido por mosquitos, começou no Brasil em maio de 2015 e desde então já se espalhou por mais de 20 países na América Latina. A principal preocupação é sobre a possível ligação entre o vírus e a microcefalia, que faz bebês nascerem com problemas no cérebro e má-formação na cabeça. O número de casos relatados de microcefalia cresceram rapidamente no Brasil, marco zero da doença”, afirmou o NYT em uma de suas reportagens, que ressalta também o que está sendo feito para combater o mosquito transmissor, o Aedes Aegypti.

A situação incerta e traumática de grande parte da população brasileira por conta do zika também foi destaque nas páginas do jornal: “tantas mães desesperadas sendo conduzidas para a ala infantil agarrando bebês com anormalmente pequenas cabeças que a recepcionista os coloca para fora, para ver se eles podem encontrar uma cadeira para esperar debaixo da mangueira”. Esta matéria foi feita em Recife, capital do estado de Pernambuco, onde há o maior número de casos de microcefalia no Brasil. 

Esta reportagem, aliás, mostra a situação de muitas famílias brasileiras, em um ambiente em que as condições para acessar o sistema de saúde não são nada favoráveis. Sob esta ótica, diversas reportagens também fazem uma ligação das crises econômica e política no Brasil com o zika vírus. 

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jornal britânico Financial Times ressaltou que esta é mais uma crise para a América Latina, que já sofre com problemas econômicos e é um dos principais lugares afetados pelo zika. “A epidemia emergente, que se espalhou para 23 países da América, não poderia ter vindo em pior hora para a região”, afirma o FT. “Recuperando-se do fim do boom das commodities, a América Latina é acusada de lentidão em combater o vírus”, afirma.

O FT destaca que no Brasil – lugar de origem do surto e o País mais atingido -, muitos críticos destacam que a incapacidade das autoridades em responder rapidamente com medidas simples para combater o vírus expõe ainda mais a paralisia da política e da economia.

Já a Economist da semana passada afirmou que o Brasil iria passar o Carnaval “festejando no precipício”, em meio a tantos problemas que o País tem que enfrentar. 

A desigualdade social no Brasil também foi abordada na imprensa internacional sob a ótica da epidemia da microcefalia no País. Uma reportagem da agência AFP ressalta as realidades diferentes entre as mulheres pobres e ricas sob a ameaça de contrair o vírus. “Duas mulheres, duas gravidez, um pesadelo. Mas duas histórias muito diferentes”, começa a reportagem que destaca os temores das gestantes. Porém, há finais bem diferentes nas histórias das mulheres ricas e das mulheres pobres. As mais abastadas possuem muitas opções de proteção, enquanto as mais pobres têm pouca chances para evitar se exporem ao vírus. 

Atenção exagerada?
Enquanto a cobertura é bastante intensa – e indica que continuará assim, ainda mais em ano de Olimpíadas no Rio de Janeiro. Contudo, há quem veja com certo exagero o pânico com o zika vírus. 

Este é o caso da Nature, umas das principais publicações científicas do mundo, que publicou recentemente um artigo tentando diminuir o pânico global sobre o assunto. 

Estudiosos afirmam não ser possível estabelecer o tamanho real do surto de microcefalia, e o aumento de casos da doença poderia ser pelo fato de, após o aparecimento dos primeiros relatos, ter crescido a atenção a problemas de nascença, como a microcefalia, e também por diagnósticos errados. 

Porém, em meio aos dados alarmantes que surgem a cada dia, todo cuidado parece pouco. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.