Nova fase da Lava Jato é um presente para Dilma? Não conte com isso

Para a presidente, é importante manter a cautela e evitar comemorações antecipadas. A possível derrota de seu principal adversário no parlamento pode não ser uma lembrança atrasada de aniversário

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A deflagração de uma nova fase da Operação Lava Jato trouxe para o foco das investigações a cúpula do PMDB, com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no olho do furacão. Além do carioca, os ministros Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Henrique Eduardo Alves (Turismo), o líder do PP na Câmara, Eduardo da Fonte (PP-PE), o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) e mais 12 políticos tiveram suas residências reviradas pela PF.

Na avaliação do cientista político e professor do Insper Carlos Melo, os efeitos da nova ofensiva ainda tem efeitos desconhecidos, apesar de dificultar ainda mais a posição de Cunha frente à opinião pública. Não que seja um grande problema para o deputado e sua tropa de choque, disposta a jogar o jogo para o qual foi escalada independentemente da torcida. De todo modo, os efeitos ainda mais nocivos à imagem já maculada do parlamentar frente aos cidadãos pressiona a oposição, à qual era atribuída alguma negociação com Cunha em prol do impeachment de Dilma.

Para Melo, ainda seria cedo para chegar a tal constatação com tão poucas certezas. De todo modo, ele acredita que o afastamento do peemedebista da presidência da Câmara traria menos confusão ao processo – o que pode ser positivo para a oposição. “A possível saída de Cunha diminui a confusão que gira em torno da questão do impeachment”, argumentou. Se o fator Cunha não for resolvido, o impeachment pode correr o risco de não avançar – o que não garante que ele avançará caso o presidente da casa caia. Contudo, para a presidente, é importante manter a cautela e evitar comemorações antecipadas. A possível derrota de seu principal adversário no parlamento pode não ser um presente atrasado de aniversário.

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Conforme ressalta o analista político da Barral M Jorge Consultores Associados, Gabriel Petrus, essa nova fase da operação deve gerar mais impactos, pelo menos no curto prazo, ao PMDB, já que a Catilinárias foca no núcleo político do partido, com destaque principal para Cunha, que já está em uma situação já fragilizada para se manter no poder. Ao mesmo tempo, tira o foco – ao menos no curto prazo – do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. “Trata-se de um jogo binário entre Dilma e Cunha”, afirma Petrus, ressaltando que, quando um perde, o outro acaba ganhando.

Os ânimos podem se acirrar dentro do PMDB, avalia o analista político, enquanto a posição de Temer e a sua capacidade de unir um partido pode ser contestada. Porém, há pontos negativos para a presidente Dilma, uma vez que nomes de ministros do PMDB, que ainda resistem às pressões da ala pró-impeachment, como Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia).

O analista ressalta que a nova fase enfraquece o PMDB e Temer, ressaltando ainda que, pelo fato da nova fase cumprir processos de busca e apreensão com foco em grandes nomes do PMDB, significa que a Lava Jato ainda não chegou ao seu pico. Vale lembrar também que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, havia solicitado busca na residência do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mas não foi atendido pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal.

Por outro lado, o enfraquecimento de Cunha, mais no longo prazo, pode levar a dois cenários. Para a oposição, uma eventual saída de Cunha da presidência da Câmara representa uma maior legitimidade do processo de impeachment contra Dilma, já que muitos atores políticos ainda resistem a se posicionar pelo fato dele ter iniciado o processo. “A oposição tem muito interesse em que ele saia”, afirma Petrus. Ao mesmo tempo, o eventual novo nome para a presidência da Câmara poderá adotar um discurso mais conciliador, levando a um novo reequilíbrio. Porém, em qualquer um dos cenários, a posição de Dilma segue fragilizada.

Desta forma, vale ficar de olho nos eventos desta semana sobre o impeachment, caso da definição do rito do impeachment no STF (Supremo Tribunal Federal), além das movimentações do ex-líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), para tentar voltar ao comando da bancada.

Mais feridos do que vencedores
O analista político da MCM Consultores, Ricardo Ribeiro, destaca que a nova fase da Operação Lava Jato tem dois efeitos principais que, de certa forma, indicam tendências diversas sobre a tese do impeachment. Do lado favorável ao andamento do processo, a Lava Jato tende a dar mais força ao rompimento do PMDB com o governo em decorrência de a operação se aproximar do partido. É de se monitorar se a bancada no Senado seguirá a mesma linha de maior apoio ao governo.

Por outro lado, o fato de essa operação ter colocado grandes nomes do PMDB no centro das investigações levaria a uma maior apreensão de setores da sociedade e do empresariado sobre um eventual governo Temer. Uma vez que, se a Dilma for impedida, quem assumirá a máquina será o partido. Porém, por enquanto, o vice-presidente segue, de certo modo, em campo marginal operação. 

Ribeiro pondera que é muito cedo para dizer se essa nova fase da Lava Jato levará a um cenário mais ou menos favorável para o impeachment, ainda mais levando em conta que haverá desdobramentos da Catilinárias, já que hoje foram feitos apenas mandados de busca e apreensão.

Ainda sobre o cenário de impeachment, o analista diz que Dilma deveria estar preocupada, pois a tensão no PMDB deve aumentar em um momento de conflitos dentro do partido. Internamente, há quem defenda antecipação na convenção nacional da sigla para que se decida a ruptura oficial com o atual governo. 

Os dois pontos destacados pelo analista da MCM (acirramento dos ânimos no PMDB e uma maior evidência da vulnerabilidade de um eventual governo Temer, diminuindo o ímpeto sobre o impeachment) são reiterados pela consultoria de risco político Eurasia, que mantém as chances do impeachment em 40%. Os eventos de hoje não se mostraram um divisor de águas em relação ao processo de impedimento da presidente por conta desses fatores, avaliam os analistas da consultoria. 

Para eles, o fato do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), aliado do governo, não ter sido alvo direto desta operação, pode ter gerado um alívio para a presidente. Porém, isso pode ser temporário, dados os possíveis novos desdobramentos e o pedido de Janot para Teori. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.