Mesmo com inflação de 25%, mercado deve confiar mais na Argentina do que no Brasil

Economistas veem desafio de Macri como maior do que o de Dilma, mas o país deve atrair investimentos com uma equipe econômica "mais homogênea"

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Os 12 anos de kirchnerismo na Argentina acabaram neste fim de semana com a vitória do oposicionista Mauricio Macri nas eleições. Em uma situação parecida com a brasileira de inflação alta, descontrole nas contas públicas e desvalorização cambial, os números mostram que os desafios do novo presidente serão ainda maiores do que aqueles que enfrentamos aqui. Contudo, economistas acreditam que nossos vizinhos devem atrair mais investimentos do que nós nos próximos anos. Este movimento se explica em uma palavra: confiança. 

Em conferência da GO Associados, o mestre em Economia pela USP e sócio da 4E Consultoria, Juan Jensen, lembra que o governo argentino deve começar o trabalho por retirar as restrições à compra de dólares, o que deve levar o câmbio a sair dos atuais 9,70 por dólar para algo perto dos 15 pesos por dólar, que é a taxa do câmbio paralelo. O ajuste neste lado, no entanto, acabará por pressionar ainda mais a inflação do país, que deve terminar 2015 em 25% e pode chegar a impressionantes 40% em 2016. 

Nesse caso, para enfrentar o aumento de preços, a receita é a mesma daqui, fazer um ajuste fiscal para auxiliar a política monetária. A Argentina deve fechar o ano de 2015 com 4% de déficit, bem mais que os 3,15% projetados pela mediana dos analistas de mercado no Brasil. Contudo, o caminho de enfrentamento deste déficit lá deve ser diferente do adotado aqui. “O ajuste fiscal dificilmente será feito com aumento de tributos na Argentina. O governo deve cortar os subsídios para pelo menos zerar o déficit nos próximos anos”, explica Jensen.

O enfrentamento da deterioração das contas públicas lá tem outra diferença substancial com o que ocorre aqui. Jensen diz que a equipe econômica do novo governo argentino é coesa e sem grandes diferenças ideológicas. O diálogo, assim, pelo menos enquanto está nas mãos do Executivo, deve ser facilitado. Isso gera uma grande confiança nos investidores, que passam a acreditar que as mudanças gerarão frutos no longo prazo.  

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Na mesma linha de Jensen vai Fabio Giambiagi, chefe do Departamento de Gestão de Risco de Mercado do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Segundo ele, com o resultado das eleições a Argentina passa a estar simultaneamente atrás e na frente do Brasil em alguns aspectos. Atrás em relação ao nível da inflação e com toda a dúvida que paira sobre a veracidade dos dados oficiais do governo. À frente, com relação às perspectivas para o futuro caso Macri e sua equipe cumpram com o que prometem.

“O que foi falado da confiança é fundamental para tirar a economia da crise. A Argentina pode se tornar a queridinha dos investidores internacionais e o Brasil pode se tornar o ‘patinho feio’ dependendo da capacidade de negociação de Macri”, disse o economista. Será essencial, na sua avaliação, que o novo presidente possa construir pontes com o peronismo para assegurar a governabilidade. “Sua capacidade de diálogo será absolutamente fundamental”, prevê Giambiagi.

Novo Mercosul
Além disso, para os economistas, o resultado das eleições deve ter impacto em toda a América do Sul, com expectativas por uma melhora no diálogo também com os parceiros do Mercosul, em especial o Brasil. Com 90% das nossas exportações para o país vizinho sendo de manufaturados, uma abertura das barreiras alfandegárias que a Argentina impõe seria muito bem-vinda aqui, principalmente para a nossa indústria.

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“As barreiras alfandegárias têm criado uma irritação no governo brasileiro. O diálogo entre Brasil e Argentina não vinha sendo de alto nível”, avalia o embaixador Regis Arslanian. Para, ele Macri tem o potencial para elevar o nível deste debate e despolitizar a agenda do Mercosul. “Não faz sentido que sejamos uma zona aduaneira e nossos produtos sejam substituídos por produtos chineses nos nossos parceiros”, afirma. 

Ainda sobre o grupo, ele afirma que não vê como provável no curto prazo uma suspensão da Venezuela por conta da cláusula democrática. Apesar de Macri já ter indicado que irá pedir para suspender o país governado por Nicolás Maduro, ainda seria necessário um consenso com os outros membros do grupo. Por outro lado, se Paraguai e Uruguai votarem pela suspensão, como é provável que ocorra, isso pode deixar o Brasil isolado na defesa de Maduro, o que traria uma pressão política a mais contra o governo da presidente Dilma Rousseff. 

“Eu acho que se um dos dois maiores membros do bloco passa a ter uma agenda mais positiva, isso deve trazer alguma influência no restante do Mercosul”, diz o embaixador. 

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