Para Jarbas Vasconcelos, saída de Dilma é inevitável: “governo apodreceu antes de uma gestação”

Experiente deputado que mantém posição independente dentro do PMDB diz, no entanto, que antes da presidente é preciso que se resolva a saída de Eduardo Cunha do comando da Câmara

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O Brasil nunca viveu em sua história momento semelhante de degradação e incertezas como o atual. A forte avaliação é do deputado federal Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), conhecido por petencer a uma ala independente em seu partido. Em uma reflexão sobre todos os momentos que viveu ao longo de seus 45 anos de política, como senador, prefeito, governador e deputado, Jarbas diz que nem mesmo na década de 70 viu algo similar. “Estamos em um processo que está chegando ao fim”, disse em entrevista à revista IstoÉ.

Apesar de enxergar o fim de um ciclo, o peemedebista ressalta que o cenário é um tanto nebuloso. “Estamos sem perspectivas, sem saber o caminho e o desdobramento das coisas. Em 1964, a gente sabia que haveria um golpe de Estado e que seria de esquerda ou de direita. Agora não. Sabemos e sentimos que o Brasil está às vésperas de mudanças importantes, mas ainda não é possível saber quais”, disse. Para ele, a “ficha” de Dilma ainda “não caiu”, mas na medida em que o país “caminha para o fundo do poço”, mais claro fica a inviabilidade de o governo se manter. “Acredito que é inevitável a saída dela. O Collor perdeu o mandato com quase dois anos de governo. Dilma acabou de completar oito meses de mandato e já vive essa crise política. O governo Dilma apodreceu antes mesmo do tempo de uma gestação”, completou.

Jarbas Vasconcelos reforça que as duas únicas saídas seriam o impeachment ou a renúncia. Segundo ele, o denominador comum dessa crise seria o nome do vice-presidente Michel Temer e que seria função de todos os partidos assumir o compromisso de unir forças para garantir sustentação à travessia por ele esperada. Ainda sobre esse possível cenário, ele defende que no dia seguinte ao da saída de Dilma, grandes mudanças poderiam ser vistas. “Dilma renunciando ou Dilma sofrendo um impeachment, no outro dia, o País seria outro. Os setores iriam pensar positivamente. Chegamos a essa situação porque o conjunto da sociedade foi atingido. Hoje você tem a insatisfação do dono da casa até a empregada doméstica”, analisou.

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No entanto, antes mesmo da saída da presidente, o experiente parlamentar diz que é preciso lutar pela saída de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) do comando da Câmara dos Deputados. Segundo ele, seu companheiro de sigla usa a casa para se proteger de denúncias, com o aparelhamento de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) e a polarização da discussão com o governo, alegando que tudo não passa de tentativas do Planalto de enfraquecê-lo. “Eu sabia que ele era lobista. Mas votei nele porque achei que o mal maior era entregar a Casa ao PT. Entretanto, confesso que não esperava tanta suspeitas em torno dele. Eu li as 80 páginas de denúncias contra ele e asseguro que são coisas escabrosas, vergonhosas. Ele pisoteou a moral e a ética da Câmara e ficou sem condições de presidi-la. Imagina se a Dilma insiste em ficar no cargo e esse cenário desemboca no processo de impeachment? Como vamos ter uma figura dessas comandando o processo? Antes de pensar em sucessão e na saída efetiva da Dilma, a gente tem de resolver primeiro a saída do Cunha. Estamos trabalhando no manifesto que defende sua saída”, disse Jarbas à revista. Até o momento, o manifesto contra o presidente da Câmara conta com cerca de 50 assinaturas de deputados.

Durante a entrevista, o deputado pernambucano ainda reforçou o papel de dois atores na condução do Brasil para o novo cenário esperado: Michel Temer (vice presidente) e Renan Calheiros (presidente do Senado e do Congresso Nacional). Para ele, assim como Renan tem mostrado apoio ao governo, ele pode reforçar o impeachment. “Do jeito que ele vai para o governo, ele abandona. No primeiro semestre, a maior oposição foi feita por ele”, afirmou. Já do lado do vice, ele vislumbra uma percepção da dimensão do momento. “Quando ele dá por exaurida a missão dele nas negociações do ajuste fiscal, acho que ele abre espaço para fazer uma coisa importante. Isso não é fácil, pois ele tem os compromissos assumidos pelo cargo de vice-presidente. Acredito que quando ele começar a conversar com as pessoas do partido que, como eu, são da ala mais afastada dele, vai perceber que estamos dispostos a nos unirmos. Eu votei contra ele duas vezes nas últimas eleições. Mas agora estou disposto a ajudá-lo”, concluiu.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.