Por falta de inteligência do governo, teremos que piorar mais antes de melhorar, diz Aragão

Para presidente da Arko Advice, Brasil passa por sua maior crise desde a redemocratização e falta de habilidade do governo torna a solução ainda mais difícil de ser encontrada; "se essa crise seria desafiadora para governos bons, imagina para um governo como esse"

Thiago Salomão

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CAMPOS DO JORDÃO – “A grande Oktoberfest que o Lula criou acabou”. Com essa frase de início, o presidente da consultoria política Arko Advice, Murillo Aragão, já deixou claro qual seria o tom de seu discurso no painel “Conjuntura Política e a Operação Lava Jato”, apresentado no 7º Congresso Internacional de Mercado de Capitais e Financeiro, promovido pela BM&FBovespa.

Para ele, o Brasil passa por sua maior crise desde a redemocratização e que a fragilidade atual do governo só torna ainda mais difícil e distante a solução. “Se essa crise seria desafiadora para governos bons, imagina para um governo como esse”, disse o presidente da Arko. “Não há organização dos atores, é como se houvesse 22 jogadores em campo e todos jogassem contra todos”, complementa.

E ele é bem pessimistas ao explicar o problema dessa falta de inteligência política: “isso me leva a crer que a situação vai ter que piorar antes de melhorar, o que é muito ruim em ambientes de volatilidade como o mercado financeiro”, explica Aragão. Para ele, o setor privado teria que ter uma posição muito mais atuante ao invés de “promover gemidos contra a CPMF”, pois foi graças a ele que o Brasil conquistou uma posição de destaque no mercado financeiro internacional.

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Uma prova da falta de habilidade política do governo está na busca por soluções para o ajuste fiscal. Aragão cita Cazuza para dizer que “mentiras sinceras interessam” neste momento. “O PT conseguiu ganhar as eleições, mas não tem nem uma narrativa para justificar o ajuste fiscal, falta uma expectativa pós-ajuste. Mesmo que seja uma mentira, que seria prometer algo no futuro em troca do apoio de hoje, isso tem que existir”, diz.

Um ponto de alento mencionado por Aragão é que a crise não chega a ser institucional. “Se o governo é fraco, as instituições estão sendo testadas e se mostrado fortes. Uma hora a inteligência política vai ter que aparecer”. Dentre as decisões inteligentes do governo, ele elogia a escolhe de Joaquim Levy para ser ministro da Fazenda – “sem ele, a situação da presidente estaria muito pior”, diz. Outra decisão inteligente foi trazer o vice-presidente Michel Temer para a coordenação política, que só não deu certo porque ele não tinha as condições de trabalho necessárias.

Para tornar a apresentação mais didática, Aragão separou cada assunto em perguntas. Confira as principais perguntas que ele selecionou – e suas respectivas respostas:

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– O impeachment de Dilma é uma realidade?
O impeachment parece febre, uma semana está em 38, sobe para 40, cai de novo. Mas o impeachment não é uma realidade: não há um fato que mova a maioria do Congresso em direção ao impeachment. A questão não está posta. Mas há uma incerteza gigantesca causada pela Operação Lava Jato. Ninguém sabe o que pode vir das próximas delações. Mas há diferenças importantes entre Collor e Dilma: Collor não tinha base política, tinha percepção de que não era honesto e havia um fato político claro (o Fiat Elba). Meu cenário para Dilma é que ela vai “continuar sangrando” em praça pública até terminar o mandato.

– O TSE ou o TCU são uma ameaça para Dilma?
O TSE é um risco, pode cassar o mandato dela. Mas leva tempo. Lembrando que o No caso do impeachment de Collor, todo mundo sabia que entraria o Itamar Franco. Hoje, ninguém sabe se é o Temer, se vem uma nova eleição, se vem o Aécio, mesmo que essa última seja uma possibilidade muito remota. Sendo menos de 2 anos de exercício, teria que ter nova eleição. O TCU, mesmo que rejeite as contas, não vejo o Congresso votando isso rapidamente, as agendas de Renan e Eduardo Cunha não são as mesmas.

– O PMDB deixará o governo?
O PMDB deve desembarcar do governo, mas só no fim do mandato. No Brasil, todo mundo gosta de mudar de bote sem melhor o pezinho. Isso sempre foi assim no Brasil, desde a revolução de 1930, na redemocratização. O desembarque será mais estrondoso se houver uma saída presidencial, mas hoje não há um nome forte.

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– A oposição tem competência de emparedar o governo?
Não. O governo foi excepcional em produzir escândalos ao longo dos anos, mas nenhum fez a oposição marcar sob pressão. O PSDB, que deveria ser o partido do debate, insiste no modelo de três ou quatro caciques fazerem o conchave e tomar as decisões. Eles perdem a chance de viajar pelo Brasil. A oposição deve ganhar a próxima eleição. Mas dada a fragilidade da atual oposição, pode ser outra oposição que se cacife até 2018.

– Dilma pode chegar a 2018 com força política?
A Dilma tem condições de manter a governabilidade, mas precisa dividir o governo com a contrapartida de apoio. Dilma não é “o cara” e trabalha com um nível de competência política muito baixo. Ela pode terminar o mandato e ser relevante em 2018. A sociedade é acoelhada e as pessoas têm medo de peitar o governo. O máximo que a sociedade faz é manifestação uma vez por mês.

– O PT pode acabar após essa crise?
Partido é como jornal, morre aos pouquinhos. O PT pode sobreviver ao “petrolão”, mas sofrerá duramente, mas perde muito de sua viabilidade eleitoral por conta de tudo que aconteceu. Ele deve perder prefeituras já em 2016. Em São Paulo, ele já perdeu 23% das prefeituras. Além disso, vai faltar dinheiro para as eleições. O PT operou muito bem a máquina estatal para financiar sua política, mas o “petrolão” muda isso.

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– Até quando vai durar a Lava Jato?
Ninguém sabe quando a Lava Jato acaba. Não vai ser a curto prazo que vai acabar. As informações vão continuar abalando o sistema político nacional. Os políticos ainda estão sendo indiciados. Nem começaram a ser julgados. Então ao menos pelos próximos dois anos veremos repercussões na política e na economia.

– Os desdobramentos da Lava Jato serão relevantes?
Sim, e já estamos vendo isso. O modelo do capitalismo tupiniquim, o Capitalismo de Laços, explodiu. Acabou aquele negócio de empresas que ganham licitações com cartéis financiarem campanhas. Antes, os empresários não eram presos. No mensalão todo o setor privado pegou penas duras. Isso levou a mensagem de que ninguém mais está protegido – e é por isso que as delações estão ocorrendo. Vai faltar dinheiro nas eleições municipais.

– Onde o Brasil estará daqui 6 meses?
Em 6 meses, acho que o Brasil continua na UTI política e na UTI econômica.

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– O Lava Jato chegará até o Lula?
Chega no PT, mas não sei se chega pessoalmente no Lula. Não vejo problema em ex-presidente vender empresas do país. Sarkozy veio fazer isso com trem, Obama veio fazer isso com avião. O que é importante é ver se houve o patrocínio do homem público ao interesse privado. Se chegar ao presidente Lula, tem que ser consistente e bem documentado, que justifique o que poderá ocorrer. O Brasil é um país submetido ao acaso e à incompetência. Temos que esperar.

– As manifestações são a resposta que o Brasil precisa?
Não vejo isso aqui assim. Brasileiro gosta de um só Carnaval, que é o de verdade. Nossas manifestações são muito mais “Occupy Wall Street” do que as da Ucrânia, que derrubaram o governo local. Quem deveria se posicionar de fato é o setor privado. Não podem ser só gemidos contra a CPMF. O Brasil só chegou aonde chegou em termos de importância no mercado financeiro internacional por causa do nosso setor financeiro. É ele que devia tomar uma posição mais atuante.

*O jornalista está no congresso a convite da BM&FBovespa

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Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers