Volta de recesso parlamentar deve piorar clima para Dilma no Congresso

Historicamente, presidentes que enfrentam um cenário de baixa popularidade tendem a ter dificuldades adicionais na conquista de apoio no parlamento após a volta de períodos de recesso

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Nem parece que deputados e senadores passaram duas semanas em recesso branco e devem voltar ao trabalho na semana que vem, tamanho grau de tensão política dos últimos tempos. Mesmo com as merecidas ou não férias dos parlamentares, o período marcou forte movimentação e tiroteio nos bastidores. Basta lembrar que na sexta-feira que antecipou o recesso, uma bomba caiu sobre o Congresso: após delação de Júlio Camargo sobre suposto recebimento de US$ 5 milhões em propina, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou seu rompimento com o governo e mudança para a oposição.

Desde então, muito se especula sobre o que deverá acontecer daqui para frente. Cunha já deu seguimento a alguns processos de impeachment protocolados na casa e instalou novas CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito), como a do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico Social). Ao mesmo tempo, fez discursos mais ponderados recentemente, destacando que não haverá pauta-bomba ou quaisquer iniciativas da sua parte com a intenção de causar saia justa para o governo. O parlamentar diz manter posição cautelosa sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff. No entanto, vale lembrar que a retórica deve sempre ser relativizada no campo da política.

Para muitos especialistas, paradoxalmente, o presidente da Câmara na oposição pode representar uma boa oportunidade de recuperação do governo Dilma, levando em conta também o possível enfraquecimento de Cunha após a delação na Lava Jato e o avançar das investigações. Há quem diga também que o desgaste com relação à postura do peemedebista cresceu recentemente. Enquanto muito se elogia a celeridade em algumas votações na casa, muitos parlamentares reclamam a mão de ferro sobre o regimento interno e a perda de qualidade das discussões. “Muitas vezes, não sabemos exatamente para que estamos votando”, disse certa vez um deputado. A visão é compartilhada por diversos colegas.

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No entanto, mais do que as apostas que só o futuro irá confirmar ou refutar, o Planalto pode ter grandes motivos para se preocupar com o retorno das atividades no Congresso. Historicamente, presidentes que enfrentam um cenário de baixa popularidade tendem a ter dificuldades adicionais na conquista de apoio no parlamento ou até na formação de um clima mais receptivo às pautas que encaminha após a volta de períodos de recesso. Quando o momento não é bom, a volta do recesso pode trazer consigo deputados e senadores mais ariscos e refratários à garantia pela governabilidade.

O motivo é a exposição prolongada às bases eleitorais. Mais do que os números indicados pelas pesquisas de avaliação do governo, os parlamentares passam a ter acesso aos reais rostos descontentes com o atual cenário econômico e político. Com o maior contato com a rejeição e pressão de suas bases, deputados e senadores voltam ao Congresso reverberando boa parte das críticas a que foram expostos. Aumenta a impaciência e diminui a compreensão para questões que envolvem o Executivo. Os efeitos já são esperados por muitos políticos.

Também vale ressaltar a tendência natural de o Congresso ganhar força na medida em que o Executivo enfraquece. No caso atual, além disso, o próprio perfil de Eduardo Cunha e a recente aprovação pela obrigatoriedade no repasse de emendas contribuíram para uma maior independência e ganho de força do parlamento. As expectativas são de que Dilma ainda sofra pressão popular de impeachment e as discussões podem aumentar no Congresso nos próximos dias. As dimensões que tudo isso ganhará só o tempo irá revelar, mas o que a história mostra é que, normalmente, a popularidade de presidentes cai na medida em que se aproxima de setembro. De acordo com estudiosos, há ampla correlação entre avaliação positiva do governo e a performance do índice de confiança do consumidor – que costuma cair no período. O mercado deverá ficar bem atento aos termômetros sobre o comportamento das lideanças políticas nesta segunda metade do ano.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.