Determinado, Levy luta contra superávit zero e pode evitar caminho ao rating “junk”

Em linha com o ministro da Fazenda, governo Dilma decidiu adotar, para os próximos dias, medidas de aumento da receita e também de corte de despesas; para a LCA, medidas devem afastar, pelo menos no curto prazo, risco de perder grau de investimento

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Conforme destacado pelo banco BNP Paribas na última segunda-feira, apesar do esforço do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a “gravidade” continua levando a economia para baixo. 

Além das constantes revisões para baixo do PIB (Produto Interno Bruto), o governo está tentando evitar um superávit zero em 2015, segundo informações do jornal Folha de S. Paulo. A meta para este ano é de 1,1% do PIB. Segundo a previsão do governo Dilma Rousseff é que, sem a adoção de medidas adicionais nas áreas de despesas e receitas, o superávit pode ficar em cerca de 0,15% do PIB. Para evitar isso, a presidente decidiu adotar, nos próximos dias, medidas de aumento da receita e também de corte de despesas em estudo pela equipe econômica.

De acordo com o apurado pela Folha, a intenção é manter a meta fixada para o ano, deixando uma definição final sobre a redução da meta fiscal apenas para setembro. Já segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a mudança deve ocorrer possivelmente em novembro, e não no próximo relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas, que tem que ser divulgado até quarta-feira. 

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Segundo Levy, quanto mais postergar a alteração do número, mais o governo se aproximará de uma revisão precisa da meta fiscal. Além disso, outra preocupação do ministro é de que uma revisão da meta abriria caminhos para novos gastos e afrouxamento do ajuste. 

Assim, conforme destaca a LCA Consultores, as sinalizações recentes sugerem que, apesar da conturbação política e do aprofundamento da crise de confiança e da recessão, o governo continua comprometido com os ajustes na condução econômica. “A expectativa é de que esse comprometimento com os ajustes, mesmo que demorem a surtir efeito na recuperação da confiança e na retomada do crescimento econômico, seja visto pelas agências de classificação de risco como um passo na direção certa para evitarmos um rebaixamento de nossa nota de crédito soberano a grau especulativo”, afirmam os economistas da consultoria.

Na avaliação da LCA, as agências Moody’s e Fitch, que mantém o Brasil dois degraus acima do limiar entre a nota de investimento e o grau especulativo, deverão rebaixar o rating em um degrau – mas deverão atribuir à nota soberana uma perspectiva estável (o que equipararia as avaliações dessas agências à da S&P). Isso afastaria, ao menos no curto prazo, o risco de perdermos o selo de grau de investimento, acalmando um pouco os mercados domésticos.

“Entretanto, dada a frustração com os resultados recentes das contas fiscais e da atividade econômica, num contexto de conturbação política, não se pode descartar a hipótese de que a nossa nota de crédito seja colocada sob perspectiva negativa, o que representaria uma ameaça mais pronunciada ao nosso grau de investimento. Isso tenderia a acentuar a volatilidade cambial no decorrer deste segundo semestre e ao longo de boa parte de 2016”, avalia.

BC e o ciclo de aperto monetário
Porém, por ora, o cenário-base da LCA é de acomodação ainda que lenta dos focos de risco e preservação do grau de investimento atribuída a nota de crédito soberano. Por outro lado, alguns ajustes nas premissas podem ser feitos para incorporar um grau ainda maior de incerteza na seara política e um aprofundamento relevante da crise de confiança privada. 

Um primeiro ajuste decorrente desses recentes desenvolvimentos desfavoráveis ocorreu na expectativa da LCA para a taxa básica de juros. Isso porque o Banco Central, depois de um forte ajuste da política monetária, tem sinalizado que poderá desacelerar ou abreviar o ciclo de elevação da taxa básica Selic – decisão que faria sentido num contexto em que a economia enfrenta uma anemia profunda e a inflação dá mostras de arrefecimento mais consistente.

“Em declarações recentes, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, enfatizou a tendência favorável de descompressão das expectativas de inflação, antes mais evidente para prazos mais longos, mas que agora começa a ser observada também para 2016. Ademais, a autoridade monetária também tem notado que a distensão do mercado de trabalho vem se acentuando, percepção reforçada por mais um resultado bastante negativo da geração líquida de postos de trabalho formal”, avalia a consultoria.

Com isso, a curva projetada pela LCA para a Selic foi ajustada para incorporar apenas mais um aumento de juros, a ser promovido na reunião do Copom do final deste mês, com expectativa de um aumento de 50 pontos-base, para 14.25% (mas com chance nada desprezível de que seja menor, de 25 pontos-base). “A perspectiva de que o ciclo de elevação de juros seja estendido até a reunião do Copom de meados de setembro – tal como vínhamos projetando anteriormente – parece ter claramente perdido probabilidade”, avalia.

Além disso, deve haver mudança nas projeções para o desempenho do PIB (sobretudo para este ano, mas provavelmente também para o ano que vem), uma vez que os indicadores recentes de atividade vêm apontando resultados decepcionantes e a crise de confiança privada vem se aprofundando na esteira do aumento de incertezas políticas. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.