Dilma não é Collor: ela é respeitável e tem um partido, diz Aloysio Nunes

Em entrevista à Folha, senador tucano defendeu cautela sobre o pedido de impeachment da presidente; citado na Lava Jato, Aloysio definiu situação como "kafkaniana", mesma expressão usada por Anastasia em entrevista ao Estadão

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que foi vice na chapa de Aécio Neves em 2014, defendeu cautela sobre o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Ele afirmou ainda que há poucas comparações a serem feitas entre Dilma e Fernando Collor, que renunciou para não sofrer o processo de impeachment, em 1992. “Collor era um político sozinho, sem partido e teve um comportamento pessoal chocante, como presidente. Era um personagem burlesco no poder. Dilma tem respeitabilidade pessoal, tem um partido e tem o apoio de movimentos sociais”, afirmou o senador. 

E, segundo o senador, o pedido de impeachment colocaria o País em um ambiente de instabilidade maior, destacando que os “processos demoram, geram tensionamento. Pode haver um desdobramento dramático”, alerta. “O clima de radicalização é preocupante. O Lula vai tentar mobilizar esse pessoal, e a Dilma dá a impressão de que não vai se render facilmente. Ela vai brigar, vai lutar pelo mandato.”

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Em março, Aloysio Nunes deu uma declaração polêmica ao se mostrar ser contra o impeachment da presidente: “Não quero que ela saia, quero sangrar a Dilma, não quero que o Brasil seja presidido pelo [vice-presidente, do PMDB] Michel Temer […] Vejo essa palavra [impeachment] como expressão de rechaço à ordem atual, sem entrar no mérito”, afirmou o senador no início do ano. 

Segundo o senador destacou à Folha, a oposição deve refletir sobre as consequências de um afastamento da presidente. “Muita gente no PMDB está excitada com a hipótese de a Dilma sofrer impeachment e o Temer assumir. Talvez seja o ideal para o Lula. A gente entra no governo, e ele fica livre para fazer oposição e sair candidato em 2018”.

Ao falar sobre a delação do dono da UTC, Ricardo Pessoa, no âmbito da Lava Jato, em que ele foi citado, Aloysio afirmou que só recebeu doações legais e disse viver em uma situação ‘kafkaniana”. “É absurdo imaginar que eu tivesse influência na Petrobras. Seria um crime impossível”.

A mesma expressão (“kafkiana”) foi utilizada pelo senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, quando foi perguntado pelo inquérito contra ele no STF no âmbito da Lava Jato. 

Considerado moderado dentro do PSDB, Anastasia reforçou o discurso do partido de admitir a interrupção do mandato de Dilma e rebateu as acusações do petista de que discutir o tema seja “tramar um golpe”. 

“Golpismo é quando se dá um movimento contrário à Constituição ou às instituições. Vamos aguardar com muita serenidade as decisões do Tribunal de Contas da União, do Tribunal Superior eleitoral e, se for o caso, do Supremo Tribunal Federal. O que há de golpismo nisso? São as instituições funcionando. É natural que o PT na defesa que faça lance essa imagem de golpismo, que não existe. A ordem constitucional traz remédios para resolver problemas que porventura surjam”, afirmou na entrevista. 


Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.