Novo cenário: o que fez a Bolsa despencar e o dólar disparar da “noite para o dia”?

Especialistas do mercado destacam o por quê deste movimento e também o que fazer: o momento é de cautela

Paula Barra

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SÃO PAULO –  Depois de quase seis meses do rali eleitoral, que oscilaram entre maior e menor força, o Ibovespa sofre no mês de setembro com perdas de mais de 10%, em meio ao enfraquecimento de Marina Silva (PSB) nas pesquisas eleitorais Datafolha e Sensus, enquanto Dilma Rousseff (PT) tem uma leve tendência de alta, assim como o terceiro colocado, Aécio Neves (PSDB). O cenário ficou ainda mais volátil em meio à proximidade do primeiro turno das eleições, no próximo sábado. 

Com o Datafolha e o Sensus confirmando esta tendência, o Ibovespa chegou a cair 5,40% apenas na sessão desta segunda-feira (29), na sua pior sessão desde 8 de agosto de 2011, quando a agência de classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou a nota de crédito dos EUA e fez o índice brasileiro fechar em baixa de 8,08%, chegando a cair 9,73% no intraday. Enquanto isso, o dólar e o contrato de juros futuros disparam, com a expectativa de saída do investidor unido ao cenário de alta de juros nos EUA. Além disso, espera-se também que, com a reeleição de Dilma, espera-se alta da taxa de juros Selic mais a frente, já que a perspectiva por ajuste fiscal é mais baixa, o que deve forçar mais altas da taxa básica para conter a inflação, apesar dos preços represados. 

Conforme aponta o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, o mercado já vinha precificando desde a semana passada o cenário com maior chances de reeleição de Dilma Rousseff, com o mercado registrando sucessivas baixas. Vale ressaltar que o Ibovespa registrou alta de 2,23% na sexta, com os investidores na expectativa de que uma matéria da revista Veja revelaria dados que poderiam afetar a campanha de Dilma, que foi divulgada mas que acabou não surtindo tanto efeito eleitoral. Cabe lembrar que o mercado não aprova um segundo governo de Dilma, dado o cenário de maior intervenção nas companhias estatais e política monetária mais frouxa que não deve levar aos ajustes fiscais necessários para a economia. 

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E porque tamanha volatilidade? Com o mercado sensível a pesquisas eleitorais, o mercado acabou superestimou as chances de Marina vencer, destaca a Eurasia. O diretor da Eurasia Group, João
Augusto de Castro Neves, afirma que o favoritismo de Dilma está consolidado. Castro Neves afirma que vai esperar as próximas pesquisas para rever as chances da petista ganhar as eleições, atualmente em 55%. Com o mercado revendo as projeções, o resultado é a forte oscilação dos mercados. 

Em meio a isso, como o investidor pode se proteger neste cenário? Conforme a maior parte dos especialistas ouvidos pelo InfoMoney, a palavra de ordem é cautela. 

Alex Agostini ressalta que “nós teremos uma semana bastante complicada, no que diz respeito à volatilidade” e é preciso esperar as próximas sinalizações, uma vez que o mercado está em um grande movimento de sobe e desce. Nesta semana, as novas pesquisas devem gerar ainda mais volatilidade para o mercado. “Há até quem considere que Dilma possa vencer no primeiro turno. Este cenário é pouco provável, e o segundo turno deve gerar um cenário ainda mais apreensivo, com o mercado ainda mais de olho nos levantamentos eleitorais”.

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De acordo com Agostini, mesmo se Dilma for eleita, a volatilidade da Bolsa pode ser menor, porque o que move os mercados hoje é a incerteza com relação ao cenário das eleições. Porém, avalia, um cenário em que a Bolsa teria alta só seria possível caso a petista se repaginasse e indicasse que faria os cortes de gastos públicos, liberação dos preços administrados e compromisso com o tripé econômico, ao invés de “dobrar a sua aposta”. Porém, uma recuperação mais forte só ocorreria em 2016, já que 2015 será um ano difícil por conta de ajustes. 

Contudo, este não é o cenário base em que a Austin trabalha, avaliando que Dilma deve continuar com sua política monetária mais frouxa e apostando que o cenário irá melhor com a mudança de “ventos” no exterior, o que deve azedar ainda mais os mercados. 

A percepção de risco tem aumentado cada vez mais uma vez que uma reeleição de Dilma traz incertezas ao mercado em relação a quais políticas serão adotadas pelo seu governo e, consequentemente, isso tem impactado também os juros futuros, que mostram hoje forte alta. Além do questão eleitoral, há também uma expectativa de aumento de juros nos Estados Unidos, o que deve puxar recursos lá para fora, deixando o cenário ainda mais desafiador para o mercado brasileiro. Não será nada fácil ficar na Bolsa nas próximas semanas. O cenário é ruim não só para Bovespa, mas para todas as bolsas emergentes”, reforma o economista da Guide Investimentos, Ignacio Crespo.

Crespo ressalta que, somente nesta semana, há sete pesquisas. “O que poderia impactar o rumo de Dilma nas eleições era o depoimento do ex-diretor da Petrobras, mas parece que isso tem sido limitado. A candidata tem conseguido se esquivar, talvez por ter mais tempo de televisão para se defender e sua campanha tem sido bem eficiente para blindá-la dessas questões”, afirmou.

A palavra de ordem é cautela
E no curto prazo, o que fazer? Segundo aponta o analista da XP Investimentos, Thiago Souza, a ordem também é ter cautela, uma vez que o mercado está “bastante emotivo” e o cenário eleitoral ainda está bastante indefinido: ou seja, o mercado ainda pode ter novas viradas. 

Desta forma, aponta o analista, é bastante arriscado para um investidor tirar toda a sua exposição em papéis de estatais e bancos e realizar o prejuízo. Uma parcela pode ser alocada em empresas exportadoras, devido à alta do dólar, caso de Fibria (FIBR3), Suzano (SUZB5), Embraer (EMBR3) e até mesmo a Vale (VALE3;VALE5), que vem tendo forte queda na Bovespa, mas não está tão associado ao call político. 

O dólar passa a ser uma boa aposta neste cenário: somente hoje, a divisa sobe 1,75%, a R$ 2,46 e voltando aos níveis de 2008. “O mercado entrou com todas as fichas numa vitória da oposição e pagou para ver. O que a gente está vendo hoje é a reversão desse movimento”, disse o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo, em entrevista a Reuters.

“Se isso se confirmar (avanço de Dilma) nas próximas pesquisas, o céu é o limite para o dólar”, afirmou o gerente de câmbio da corretora Fair, Mário Battistel, também para a agência de notícias. Para ele, a moeda norte-americana pode ir acima de R$ 2,50 reais no curto prazo.

Battistel também acredita que o BC pode atuar com mais força no mercado para evitar essas arrancadas, ampliando os leilões de swaps, entrando com leilões de linha ou até mesmo com venda de dólares à vista. Até agora, a autoridade monetária deu continuidade às intervenções diárias no mercado de câmbio nesta sessão, vendendo a oferta total de até 4 mil swaps cambiais, que equivalem à venda futura de dólares.

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