Entre Temer e o que vem

Dilema tornou-se agudo: há os creem que é “melhor ficar do jeito que está para ver como é que fica“; do outro lado, há aqueles que profetizam que as dores de agora podem ser engrandecidas em troca de um cenário mais hígido na política e, quiçá, na economia

Francisco Petros

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A economia e a política percorrem caminhos que se entrecruzam e mutuamente estabelecem avanços e retrocessos. Na democracia esse processo ocorre, de forma transformadora ou conservadora, por meio do voto. Há de se notar que nem sempre a escolha do povo recai na melhor opção política: por vezes, o distinto eleitor vislumbra as benesses do curto prazo que se mostram ineficazes no longo prazo. Mais raramente, o eleitor vê-se diante de líderes que projetam a utopia realizável no longo prazo.

No atual momento do Brasil, o dilema tornou-se agudo: há os creem que é “melhor ficar do jeito que está para ver como é que fica”. De outro lado, há aqueles que profetizam que as dores de agora podem ser engrandecidas em troca de um cenário mais hígido na política e, quiçá, na economia.

Michel Temer é o personagem que tenta se vender como aquele que é capaz de sustentar a estabilidade, mesmo que, diante de imagens de seus assessores correndo com malas cheias de notas de dinheiro, não há de se falar em estabilidade. Suas manobras no Congresso Nacional tem sido relativamente eficiente para conter a sanha dos seus acusadores e do próprio Judiciário. A política de sua administração não guarda mais a sua característica anterior, a visão tecnoempresariocrática que abocanhava certo apoio da elite. As reformas econômicas, notadamente a da previdência social e do mercado laboral não repousam mais no Palácio do Planalto, onde reina a emergência de assegurar apoio mínimo dentre os políticos. Todavia, de forma paradoxal, percebe-se que a sociedade está mais convencida da imoral desigualdade entre os enormes benefícios previdenciários e laborais do setor público e a situação crítica que vige no privado. A agenda das reformas foi instalada na sociedade e será questão de tempo para que esta seja aprovada, agora ou mais adiante. A gravíssima situação da Federação, notadamente em estados como o Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, talvez acendeu os sinais vermelhos da insustentabilidade do modelo de privilégios públicos em detrimento dos parcos direitos privados. Temer em verdade se ausenta da agenda reformista e essa ganhou tração própria, mesmo que ainda não realizada ou realizável no curto prazo.

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Da mesma forma, a situação letárgica da atividade econômica não dá sinais de que vá melhorar muito, mas também não há que se esperar piora relevante. Seguiremos, muito provavelmente, por uma trilha relativamente segura em comparação com os riscos políticos. A grande contribuição para a relativa estabilidade econômica é a situação cambial que dá gás suficiente para a pinguela frágil na qual se transformou a administração do peemedebista. A inflação tornou-se a onça calma que tem sido alimentada com doses cavalares de baixa atividade e desemprego e a finança pública permanece capenga à espera de juros mais baixos e, de novo, as reformas estruturais.

Na política, o que se vê não são propriamente as conspiratas do seriado House of Cards. As maquiavélicas artes de Frank Underwood, personagem fictício de Kevin Spacey, ocorrem num meio-ambiente permeado de racionalidade e objetivos claros. Além do mais, Underwood não pode ir além do próprio interesse da elite econômica.

No Brasil, a corrupção endêmica destruiu a possibilidade de ações políticas racionais. O corre-corre das viaturas da Polícia Federal, as acusações do MP e as decisões judiciais fazem brotar uma novidade a cada dia. Com direito a comício político nos tribunais, como ocorreu na decisão da semana passada no TSE. Assim, as conspiratas políticas já não têm mais limites, mesmo porque por esses lados a elite econômica está mergulhada em transações materiais um pouco mais além que aquelas do patético Frank Underwood.

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Nesse ambiente de acuamento da Política em função das malas recheadas de dinheiro dos políticos é que reside os maiores riscos e as maiores chances do país. Nos pratos da balança, ainda não sabemos se vamos para frente ou se nos atolaremos mais na lama. Todavia, temos de reconhecer prima facie algumas coisas que parecem consolidadas.

A primeira delas é que a utopia da esquerda está enterrada. Para aqueles que temem Lula há de se avisar que o seu discurso salvacionista perdeu completamente o tônus mudancista. O que sobrevive é mera memória que se desfaz ante a exposição mais aberta de seu discurso mentiroso.

Da mesma forma, o centro político se destroçou pelas marmotas realizadas no seio do setor público em favor de benefícios privados. Quando se vê o tucanato ou o PMDB reunido, não é apenas a idade dos personagens principais que é octogenária. Suas ideias estão vencidas e eles persistem a cavar a própria cova. Se a esquerda jogou sonhos na vala de suas administrações, o centro mostrou-se incapaz de exercer a dominação social vez que não tem projetos e ações que sejam socialmente críveis.

O vazio político fará emergir inexoravelmente no horizonte novos players. Podem ser desejáveis ou indesejáveis para a Política e/ou a economia.

No campo dos indesejáveis temos de tomar cuidado com dois personagens: (i) aquele que se ocupam dos extremos, no caso não se trata dos polos da esquerda e direita, mas das figuras meramente imagéticas tal qual Trump ou Beppe Grillo, aquele comediante italiano que criou a terceira maior força política de seu país; (ii) o segundo é aquele tecnocrata que se diz apenas um “gestor”. A política carece de instrumentos de gestão modernos, mas a Política não é como um empreendimento, cujos fins são definidos e claros. Os fins da Política são, nas palavras sábias de Noberto Bobbio, “tantas quantos forem suas metas a que um grupo organizado se propõe, segundo os tempos e as circunstâncias”.  Portanto, sejamos práticos: contratemos o gestor para cumprir as metas políticas. Não façamos as metas vítimas de um gestor.

No campo dos desejáveis, creio que as regras devem ser bem gerais, mas necessariamente substantivas: (i) amar verdadeiramente o país, (i) ser capaz de gerar novas utopias e sonhos e (iii) saber enquadrar tais utopias e sonhos nas possibilidades que se ampliam por meio da economia e do direito. Um não-populista que seja capaz de conversar com o povo, mesmo que para dizer coisas que ele não gosta de ouvir.