Vai saindo à luz do dia o movimento por anistias de políticos e para conter a Lava-Jato

Ontem, por exemplo, de “lavada’, por 314 votos a 17, a Câmara aprovou urgência para votação de um projeto que reduz as punições a políticos e proíbe o TSE de cassar o registro de partidos por irregularidades em suas contas.

José Marcio Mendonça

Publicidade

Einstein: “É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.” No Brasil, é mais fácil desintegrar a sociedade do que mudar o sistema político e seus vícios.

Não se façam ligações automáticas, mas, por estranha coincidência (em política no Brasil as coincidências nunca são apenas “meras”), na esteira da escolha do agora já ex-ministro da Justiça e ex-tucano Alexandre de Moraes para o STF, parece ter sumido o pouco de inibição que restava ao mundo político por pôr em marcha o seu grande desejo para 2017: inibir a Operação Lava-Jato e conseguir o máximo possível de anistia para comprovados participantes de falcatruas político-eleitorais nos últimos anos.

Dos bastidores, o movimento (que de uma forma ou de outra aplaudiu, se não influenciou a escolha de Moraes) começa a vir a luz do dia, sem disfarces ou subterfúgios Ontem, por exemplo, um acordo entre o comando da Câmara e líderes partidários permitiu a aprovação da urgência para votar um projeto que reduz as punições a políticos e proíbe o TSE de cassar o registro de partidos por irregularidades em suas contas.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Uma anistia branca e nada irrestrita pelo tamanho do que se sabe da Operação Lava-Jato e outras nesse campo. A proposta está na pauta de hoje dos deputados e não há dúvidas de que será facilmente acatada: o regime de urgência nesta terça-feira ganhou de goleada, 314 votos a 17, com adeptos de todas as cores e religiões partidárias, no mais puro ecumenismo congressual. Ainda neste capítulo, o esforço de José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá et caterva para emplacar Edison Lobão na presidência da Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

Há mais passos ensaiados – pelo menos é o que se suspeita. PMDB e PSDB fazem pressão junto ao presidente da República, muito sensível a esse tipo de “argumento”, para escolher em suas fileiras o sucessor de Moraes no Ministério da Justiça. Menos pela “glória” de ter mais um ministério para chamar de seu, um enorme abacaxi diante da atual crise de segurança pública no país, e mais para ter em mãos um posto estratégico para discutir e quem sabe influenciar decisões do Judiciário, fazer contraponto aos ousados operadores da Operação Lava-Jato. A Polícia Federal é subordinada ao Ministério.

GILMAR MENDES DIZ QUE

Continua depois da publicidade

CURITIBA CONTRARIA STF

Na mesma linha, pode-se talvez enquadrar a insistente nas últimas horas circulação do nome do criminalista paulista Luiz Claudio Mariz de Oliveira como o candidato preferido de Temer para o lugar de Moraes. Mariz é amigo de Temer e chegou a ser a primeira opção dele para o Ministério da Justiça, na formação inicial do governo peemedebista. Acabou descartado (desconvidado?) depois de uma entrevista em que criticou abertamente a Operação Lava-Jato. Na ocasião, Temer tinha horror de qualquer gesto que pudesse parecer tentativa de criar obstáculos para as investigações. Por que o nome volta agora? Como perguntava Machado de Assis, “mudou o Natal ou mudei eu?”.

Ainda nesta marcha batida, não parece também simples “mera coincidência” a avalanche crescente de críticas do ministro do STF, Gilmar Mendes, à “República de Curitiba” e quejandos da Operação Lava-Jato. Mendes é hoje o ministro do Supremo mais próximo de Temer e de outros políticos, talvez o mais político de todos os integrantes da Corte, e esteve muito próximo da escolha de Moraes para o lugar de Teoria Zavascki. Anda com as mangas descobertas.

Ontem, no julgamento de um pedido de habeas corpus pela liberação do ex-tesoureiro do PP, Claudio Genu, preso em Curitiba, primeiro caso da Lava-Jato relatado por Edson Fachin, Mendes votou com o relator e os outros colegas da segunda turma, negando o pedido. Mas produziu uma catilinária condenando o excesso de prazo para as prisões preventivas da Lava-Jato e disse que as decisões do juiz Sérgio Moro conflitam com a Suprema Corte.

Hoje vai ser possível sentir a temperatura do STF em relação à Operação Lava-Jato depois dos últimos acontecimentos que abalaram a corte: está pautada para o plenário, com parecer de Fachin, decisão sobre um pedido de soltura do ex-deputado Eduardo Cunha. Vai ser muito elucidativo ver como vota cada ministro e os argumentos jurídicos de cada um, com possíveis sinais de como o Supremo se comportará quando crescer o fogo político por anistias de caixa 2 e coisas tais.

Destaques dos

jornais do dia

– “BB, Caixa e AGU contestam no STF pedido de liminar para apressar ajuda do governo federal ao Rio de Janeiro”

– “Fazenda quer facilitar a retomada de bens de quem está inadimplente” (Globo/Folha)

– “Congresso faz pressão por ‘novo’ Refis mais generoso” (Valor)

– “BNDES vai apoiar PPPs de iluminação pública nos municípios” (Valor)

– “Projeto reduz em 65% florestas demarcadas por Dilma” (Estado)

– “Janot pedirá fim do sigilo de parte das delações” (Estado)

– “Promotoria de Minas investiga Cidade Administrativa de Aécio” (Estado)

– “Cunha diz a Moro que Temer discutir indicações do PMDB à Petrobras” (Estado/Valor)

– “’Chantagem da PM aterroriza Vitória: 76 pessoas mortas e 270 lojas saqueadas em 4 dias” (Globo/Estado)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Elio Gaspari – “Estão patrulhando Andre Lara (diz que o economista do Real apanha por tocar no tabu dos juros) – Globo/Folha

2. Editorial – “Na berlinda” (diz Temer opta pelo desgaste de indicar Alexandre de Moraes para o STF, cuja imparcialidade, em especial no processo da Lava-Jato, será questionada) – Folha

3. Vinícius Torres Freire – “Carros começam a sair do buraco” (diz que somados veículos nacionais e exportações, vendas crescem pela primeira vez desde o início da recessão) – Folha

4. Rosângela Bittar – “O jogo do presente” (Temer evidenciou que não está fazendo uma obra para a posteridade – está jogando com o hoje e o agora) – Valor

5. Editorial – “Ao consolidar apoios, Temer reforça defesa política” (diz que o presidente ganha força suficiente para um jogo perigoso – garantir a proteção possível a seus mais íntimos colaboradores, os líderes do PMDB na mira da Lava-Jato) – Valor

6. Editorial – “Uma indicação compreensível” (diz que a escolha de Moraes se justfica por seu currículo acadêmico e por seu trânsito no mundo politico) – Estado