Temer põe Forças Armadas no combate às rebeliões. Mas com atuação restrita

É uma medida de impacto popular, mas paliativa. O Plano Nacional de Segurança ainda não sai do papel, há um grande impasse: de onde vai sair o dinheiro para as ações?

José Marcio Mendonça

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João Dória inaugurou uma nova categoria de gestor público: o prefeito-marketing. E está fazendo escola.

A utilização das Forças Armadas no combate ao caos no sistema presidiário nacional – mas “sem contato com os presos”, como avisou o ministro da Defesa, Raul Jungman – é uma medida de forte, extrema, que deve ter enorme impacto na opinião pública, porém, como já mostraram alguns especialistas, é mais um paliativo nessa desesperada busca dos poderes públicos de que modo equacionar do problema. As funções das Forças Armadas serão bastante restritas.

Há um governo à procura de fatos positivos – ou de um autor. Por isso, o emprego das Faz foi um lance do governo também para a plateia. Como classificou o desembargador aposentado e ex-secretário Nacional Antidrogas, Walter Maierovitch, é enfrentar o crime organizado com espingarda de chumbinho. Deixou-se a situação chegar a tal ponto que agora tudo é urgente e precisa-se de muita ação objetiva, prática. Pacificar apenas as prisões rebeladas ou em vias de traz apenas alívio temporário.

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O governo Temer, apesar de mais uma semana de grandes atribulações, depois que descobriu que o quadro é gravíssimo, nacional, não apenas localizado, continua ainda sem acertar com os estados um verdadeiro Plano Nacional de Segurança, um projeto conjunto, fechado, consistente, de combate à extrema violência que tomou conta das prisões brasileiras e de ataque à “insegurança pública” que já está deixando os brasileiros assustados. Um pequeno exemplo de que o nó não está apenas nas prisões: ontem, no Rio de Janeiro, traficantes mandaram fechar lojas na Rua Riachuelo, no centro da capital, em represália à morte de um homem durante operação da PM. Na madrugada, houve um confronto da política com usuários de droga na cracolândia paulistana.

O maior sinal de que ainda não se sabe bem o que fazer e como foi que se cancelou o encontro que o presidente da República teria nesta quarta com os governadores. Foram fortes as críticas dos secretários de Segurança estaduais às propostas apresentadas pelo ministro da Justiça, Alexandre de Morais na semana retrasada. Entre outras coisas, diante da quebradeira geral do setor público, eles querem saber de onde vai sair o dinheiro para pagar as ações.

O secretário de Defesa de Rondônia, coronel Lioberto Caetano, definiu o impasse: ”Se o governo não mostrar a origem dos recursos, os governadores não vão assinar isso. Nós vamos assessorá-los. A gente assina se for uma coisa que atenda efetivamente às necessidades. O Brasil já passou pela experiência. Não estamos mais na fase de testes.”

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Haverá agora encontros pontuais com os governadores, para aparar arestas. Alguns deles vão hoje a Brasília. O Planalto será um muro de lamentações.

PARA VENDER O BOM

PEIXE DA ECONOMIA

Enquanto o lobo da “insegurança pública” ameaça, o governo faz força de voz e de braços para sair da defensiva. Ontem, a ata do Copom trouxe mais alento de que a queda acentuada da taxa de juros vai continuar – as apostas da maioria dos analistas é que no próximo encontro virá outra paulada de 0,75 ponto percentual. O cuidadoso BC disse apenas que é preciso cuidar bem do ajuste fiscal – o caminho já está asfaltado. A Selic pode chegar abaixo dos 10% no fim do ano.

Amanhã, o presidente Temer vai a Ribeirão Preto, capital nacional do agronegócio, para anunciar a liberação de R$ 12 bilhões de crédito para o setor, para o pré-custeio da safra 2017/2018. Hoje Temer vai ao Sebrae para lançamento do programa “Empreender Mais Simples”. A estratégia é multiplicar os palanques para o presidente vender as boas novas da economia – inflação baixa, juros em queda e, contrariando previsões internacionais, economia com o desempenho apontando para o alto.

Em Davos, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfagn, se esfalfam para mostrar ao mundo econômico e financeiro que o pior da economia brasileira já passou e convencê-los a abrir as burras de investimento para o Brasil. Meirelles, depois de um rosário de conversas com investidores, disse que o interesse por nosso país está de volta e é genuíno. A nova arrancada da economia brasileira vai dar o tom do discurso do ministro hoje, embora ele tenha admitido em entrevista que vai fazer uma revisão, para baixo, dos números para o PIB previstos em novembro.

Destaques dos

jornais do dia

– “Governo estuda antecipar terceira rodada do pré-sal para este ano” (Globo)

– “Ata do Copom reforça aposta da redução mais rápida de juros” (Globo)

– “Teles virtuais: Correios vão vender celulares” (Globo)

– “Investimento em infraestrutura é o mais afetado pelo contingenciamento de gastos em São Paulo” (Valor)

– “China produz menos petróleo e precisa importar mais” (Valor)

– “Primeira-ministra quer rompimento total do Reino Unido com a União Europeia” (Valor)

– “Líder do MTST é preso em reintegração de posse” (Estado/Folha/Valor)

– “Receita cobra R$ 10,1 bi de implicados na Lava-Jato” (Valor)

– “Delações da Odebrecht vão ser divulgadas em fevereiro” (Estado)

– “Mais de 320 prefeituras podem decretar estado de calamidade financeira” (Valor)

– “Estados transferem 2 mil presos para prevenir novos massacres” (Globo)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Elio Gaspari – “O século xx1está atolado no XIX” (diz que o governo Temer, como seus antecessores, lida com o problema da segurança manipulando dois truques destinados a empulhar a plateia – é preciso desligar a máquina de propaganda) – Globo/Folha

2. Vinícius Torres Freire – “O Brasil vai ter de pegar no tranco” (diz que no curto prazo não há mais o que o governo possa fazer para reanimar a economia, dados os limites da política que propôs e a ruína deixada pela administração antecessora) – Folha

3. Pedro Ferreira e Renato Fragelli – “A generalizada ineficiência brasileira” (diz que o Brasil é pobre não tanto por insuficiência de capital físico, mas porque organiza muito mal sua produção) – Valor

4 Roberto Godoy – “Soldado é soldado, polícia é polícia” (diz que um grupo cuida da defesa do país, o outro trata da segurança interna – são organizações de estilo diferente) – Estado

5. Monica de Bolle – “Incerteza endêmica” (diz queTump e Brexit seriam reflexos do medo do desconhecido que se apoderou dos indivíduos) – Estado