Novas rebeliões e fugas e novo caso de corrupção Geddel-Cunha não deixam o governo respirar

Mais 26 mortos decapitados em um massacre em Natal e fugas em três estados mostram que a crise do sistema penitenciário é mais grave que as autoridades admitem. E o fantasma da Lava-Jato e similares voltou a rondar Brasília.

José Marcio Mendonça

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Este foi mais um fim de semana no qual o governo do presidente Temer não pode desfrutar com calma as delícias do verão, a trégua proporcionada pelos recessos forense e legislativo e as boas notícias da economia surgidas na última semana, principalmente em relação à inflação, à atividade econômica e aos juros. As dores de cabeça voltaram a bater no Palácio do Planalto.

No campo da segurança pública e da crise do sistema prisional, mais um massacre com 26 mortos decapitados neste domingo numa penitenciária da Natal, novamente por divergências entre facções do crime organizado, mais as fugas em cadeias do Paraná, da Bahia e de Minas Gerais, com 76 detentos foragidos, demonstram, de vez, se ainda havia alguma dúvida por parte das autoridades constituídas, que a crise é gravíssima e o controle das prisões – quiçá da segurança pública – está nas mãos dessas facções.

O governo em Brasília, que anunciou um novo Plano Nacional de Segurança depois do massacre de Manaus, recebido com certo ceticismo pelos especialistas em segurança pública por ser requentado e pouco inovador, pretende colocar este plano em pé esta semana, provavelmente com alguma novidade. Amanhã, o ministro da Justiça, Alexandre de Morais, reúne os secretários estaduais de Segurança em Brasília para discutir o projeto e engajá-los nas propostas. Na quarta-feira, o presidente Temer faz o mesmo com os governadores.

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O governo pretende mudar o lado do disco e passar à ofensiva antes que a população comece a entrar em pânico. Em algumas capitais, principalmente, as pessoas já estão com medo de sair às ruas em determinadas horas. Somos novamente um triste destaque na imprensa internacional.

No campo político e do pantanoso terreno da corrupção na administração pública, o “novo caso” Geddel Vieira Lima-Eduardo Cunha, agora dentro da Caixa Econômica Federal, acendeu todos os temores de que a Operação Lava-Jato e similares tem um poder de fazer também “massacres” violentos do mundo da política – com reflexos dentro do próprio governo, ainda que indiretamente.

Esse episódio das propinas cobradas pela dupla para liberar empréstimos é típico dos riscos palacianos. Embora ocorrido ainda no governo Dilma Rousseff, quando Geddel era vice-presidente da Caixa, portanto fora da jurisdição direta de Temer, é notório que o político baiano era um dos políticos mais chegados a Temer, da cúpula peemedebista desde muito e na CEF ocupava vaga do PMDB. Até hoje, embora tenha perdido o ministério por causa do escândalo do apartamento de Salvador, ainda não foi substituído e todos os seus auxiliares de confiança continuam no Palácio do Planalto.

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Quanto a Eduardo Cunha, preso em Curitiba, seu novo envolvimento em um caso de corrupção, acendeu o temor, diante da possibilidade de mais uma condenação, ele opte de vez por fazer uma delação premiada, para minorar suas possíveis penas. Cunha já chegou a dar indícios de que poderia apelar para esta saída, mandando recados para todos os ares de Brasília, mas depois de acalmou. O ex-presidente da Câmara sabe de coisas, dizem, “de que até Deus duvida”.

Num primeiro momento, o Palácio do Planalto está optando pelo total silêncio nesse caso. Geddel em tese não é mais um dos seus e o episódio ocorreu no governo anterior. Foi essa interpretação que os porta-vozes informais do governo tentaram passar desde sexta-feira. Porém, há quem acredite que Temer terá de agir para não deixar se contaminar, pois, além de tudo, um nome de alguém que seria de sua confiança na Caixa naquela época também foi citado na embrulhada. Os empréstimos investigados já somam R$ 1,4 bilhão.

Voltou-se a falar que o presidente precisa precipitar a reforma ministerial inicialmente imaginada para depois da eleição para as presidências da Câmara e do Senado. Não somente para recompor sua base política, mas também para se livrar de auxiliares já arrolados em algumas delações premiadas, antes que mais revelações desagradáveis surjam com a volta do Judiciário e da Lava-Jato. Diz-se que é urgente a nomeação do substituto de Geddel – em princípio será o tucano Antonio Imbassahy – e a troca de boa parte da equipe da pasta, ainda ligada ao ex-ministro.

É difícil saber se Temer vai agir agora com a velocidade que alguns acham que ele precisa para afastar esse novo fantasma o quanto antes – nesses casos, a reação de Temer tem sido sempre lenta, quando o fogo já está chegando na porta do palácio. Veja-se, por exemplo, a história da demissão do próprio Geddel.

MEIRELLES: “O PIOR NA

ECONOMIA JÁ PASSOU”

Na sua agenda positiva, informa a “Folha de S. Paulo”, o governo deve anunciar a liberação de uma linha de crédito da R$ 1,2 bilhão, num convênio entre o Sebrae e o Banco do Brasil, voltada para as micro e pequenas empresas.

Em entrevista a “O Estado de S. Paulo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de partido para o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, espargiu otimismo, o mesmo que ele vai tentar vender para os investidores e empresários lá fora. Disse que o “pior da economia já passou” e garantiu que “ao contrário do que aconteceu no passado, a redução dos juros agora é sólida, baseada na queda da inflação”. Para ele, “finalmente o Brasil está enfrentando seus problemas.

Destaques dos

jornais do dia

– “Reforma causa corrida nos estados por aposentadoria” (Valor)

– “TRF mantém ou endurece penas dadas por Moro” (Folha)

– “Presídios federais estão próximos dos limites adequados de ocupação” (Globo)

– “Colômbia prende ex-senador em caso Odebrecht” (Estado)

– “Universidade estadual do Rio acumula dívida de R$ 360 milhões” (Valor)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Paulo Guedes – “Democracia e mercado” (diz que o político que enriqueceu na vida pública e o empresário que tem muito poder político são aberrações de um degenerado capitalismo de Estado) – Globo

2. Editorial – “Satisfação atrasada” (diz que inflação volta a fica dentro do centro da meta e BC acelera ritmo de corte da Selic, o que mais provável um início de reação em meados do ano) – Folha

3. Editorial – “Entre princípios e picaretagem” (diz que o assunto com o qual todos os deputados estão preocupados é a nomeação para cargos” – Estado

Destaques dos jornais

do fim de semana

SÁBADO

– “Prévia do PIB aponta alta de 0,2% em novembro” (Globo/Estado)

– “Oito estados começam a privatizar saneamento” (Globo)

– “PF: Geddel e Cunha agiam na Caixa em troca de propina” (Globo/Estado/Folha)

– “Construtora poderá ficar com 10% no caso de distrato” (Estado)

DOMINGO

– “Crise em penitenciárias atinge Rio Grande do Norte e briga de facções mata ao menos 10” (Folha/Globo/Estado)