Depois de 97 mortes no Norte, governo vai reunir secretários para discutir plano de segurança

O Ministério da Justiça também decidiu reforçar a segurança em prisões do Amazonas, Mato Grosso, Roraima e Rondônia. Alexandre de Morais meses atrás não atendeu a um pedido de reforço das autoridades de Boa Vista.

José Marcio Mendonça

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O presidente Michel Temer esperava aproveitar a trégua no Legislativo e da Operação Lava-Jato no período de festas e das férias de janeiro, inclusive o recesso forense e parlamentar, para recauchutar a própria imagem e a de seu governo, desgastadas ambas em boa parte pelas persistentes dificuldades na economia. No pacote de recuperação da confiança está uma possível queda forte dos juros básicos esta semana e ainda possíveis decisões pontuais para ajudar mais consumidores e empresas.

Porém, boa parte deste plano acabou ofuscada pelos massacres de presos no Amazonas e Boa Vista na última semana. Com mais quatro mortes registradas em uma cadeia pública de Manaus neste domingo, subiu para 97 o número de presos mortos nas prisões do Norte desde o dia 1º de janeiro – 64 em Manaus e 33 em Boa Vista. Ontem à noite, outro tumulto na cadeia pública deixou sete feridos.

O governo em Brasília acabou engolfado totalmente nesta história, por sua própria culpa: pela demora do presidente da República em sair da toca e se manifestar, por causa da ação errática, contraditória, do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes e pela falta de soluções emergenciais concretas.

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O ministrou, por orientação do Planalto, agiu para transferir responsabilidade pelo precário estado das prisões brasileiras e pelas falhas do sistema prisional exclusivamente para os governos estaduais, quando ela também tem parte na culpa por esta situação. E quando o governo federal é o responsável direto pelo combate ao tráfico de drogas, principal mote das chacinas.

Somente sob pressão, quatro dias depois da primeira tragédia, o governo federal lançou um Plano Nacional de Segurança, recebido com pouco entusiasmo pelos especialistas em segurança pública por ser vago em vários aspectos e requentar outros planos que nunca saíram do papel ou não deram certo. Apenas ontem, após mais quatro mortes violentas numa cadeia pública de Manaus, o Ministério da Justiça resolveu convocar os secretários estaduais da área para discutir uma política integrada de segurança. Mesmo assim somente para daqui a mais de uma semana, dia 17.

As críticas ao ministro da Justiça estão cada vez mais duras, inclusive dentro do governo. Não há, porém, sinais de que o presidente pretenda substituí-lo neste momento. Morais é contumaz praticante de gafes políticas e administrativas.

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SEM SOLUÇÃO AINDA A AJUDA

AOS ESTADOS ENDIVIDADOS

Temer está evitando viagens ao Exterior nesses dias para se concentrar nas eleições para as presidências da Câmara e do Senado. Até desistiu de participar do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça. Agora abriu uma exceção, para os funerais do ex-primeiro-ministro e ex-presidente de Portugal, Mário Soares. Não há ainda indicações sobre ida à posse de Donald Trump no Estados Unidos, no dia 20.

Continua sem solução a questão da ajuda de Brasília aos estados mais endividados. A situação pode começar a se agrava, pois hoje começa o retorno das férias/folgas de fim de ano. O quadro ficou mais complicado com as duas liminares concedidas pela ministra presidente do STF, Carmem Lúcia, suspendendo o bloqueio de recursos do governo do Rio de Janeiro.

Em consequência, o governo federal fala em suspender avais para novos empréstimos aos estados. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles visitou o Supremo na sexta-feira para explicar o problema para Carmem Lúcia. Temer e a ministra estiveram reunidos no sábado e, além da tragédia das prisões, também trataram do assunto. Uma solução definitiva, porém, sobre se o governo pode ou não bloquear recursos de estados inadimplentes, somente após da volta das atividades do STF, em fevereiro.

Destaques dos

jornais do dia

– Investimento direto no país ignora crise: US$ 75 bi em 2015 e US$ 78,8 bi até novembro” (Valor)

– “Eleição na Câmara abre briga por cargo no governo” (Estado)

– “Sistema penal perdeu 72 obras (novos presídios e reformas) em dez anos” (Globo)

– “Por falta de segurança, juiz concede prisão domiciliar a 161 detentos em Roraima” (Estado)

– “Presos por pensão alimentícia são liberados em Manaus” (Estado)

– “Odebrecht pediu a Palocci cargo na gestão Dilma” (Estado)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Ricardo Noblat – “O futuro nos aguarda” (diz que governo Temer meteu o dedo na tomada e conseguiu se colocar no centro da crise carcerária) – Globo

2. Fábio Giambiagi – “Equívocos sobre o euro” (diz que precisamos encarar os fatos – a tentativa de ignorar os limites da economia levou ao desastre dos últimos anos e agora a reconstrução será dura) – Globo

3. Editorial – “Menos cargos” (diz que país precisa de regras para aumentar a eficiência do funcionalismo, mas governo Temer é tímido diante do corporativismo de servidores) – Folha

4. Editorial – “Temer paga produtividade a aposentados e pensionistas” (diz que governo não demonstrou, na prática, a intenção de mudar o quadro de privilégios que é um pilares da iníqua desigualdade de renda no Brasil) – Valor

Destaques dos jornais

do fim de semana

SÁBADO

– “Estados Unidos criaram quase 12 milhões de emprego em oito anos de Obama” – Globo

– “Juiz suspende reajuste dos transportes públicos integrados em São Paulo” (Estado)

– “PCC mata 31 em Roraima e divulga cenas no WhatsApp” (Estado)

– “Secretário da Juventude de Temer cai após defender massacre” (Globo/Estado)

– “Presos dizem que massacre em Manaus foi retaliação” (Globo)

– “Operador de Serra admite ter recebido caixa 2 na Suíça” (Folha)

DOMINGO

– “Pelo menos dez clãs do Peru enviam drogas para o Brasil” (Globo)

– “27 facções brigam pelo comando do crime no país” (Estado)