O maior caso de pagamento de suborno da história

Departamento de Justiça dos Estados Unidos divulga dados das propinas pagas pela Odebrecht e pela Brasken no Brasil e em mais 11 países: US$ 1,1 bi (R$ 3,3 bi), dos quais US$ 599 mi (R$ 1,9 bi) somente para brasileiros

José Marcio Mendonça

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Quando se esperava em Brasília que o recesso natalino desse uma trégua na avalanche de más notícias que nos últimos meses, com frequência quase religiosa, vem assombrando o mundo político, a partir da Operação Lava-Jato e investigações de outros malfeitos com a coisa pública, eis que outro torpedo, também de alto poder de destruição, cai sobre essas cabeças.

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos (conhecido pela sigla DOJ), no bojo da assinatura do acordo de leniência da Odebrecht e da Brasken com os governos brasileiro, americano e suíço, divulgou algumas informações sobre o que seus investigadores levantaram das peripécias das duas empresas no Brasil e no Exterior. É o desdobramento lá fora da Operação Lava-Jato. Os EUA investigam porque empresas brasileiras envolvidas, como a Petrobras, estão na bolsa de lá.

Os números – podem estar incompletos, tanto que as investigações americanas prosseguem – são estarrecedores, mesmo para quem acompanha no Brasil as revelações agora da Operação Lava-Jato e de outros casos antigos como o do mensalão. Em onze países da América Latina e da África, mais o Brasil, a Odebrecht e a Brasken gastaram US$ 1 bilhão (R$ 3,3 bilhões), dos quais US$ 599 mi (R$ 1,9 bi) internamente, em pagamento de propinas em cerca de 100 obras. O esquema funcionou de 2001 a 2014.

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Sem que seus nomes estejam explicitados no relatório, aparecem apenas como números e indicações genéricas de cargos e funções, há referências a 14 brasileiros, entre eles dois ex-ministros, três parlamentares e dois altos funcionários do Executivo, como destinatários do dinheiro irregular.

“O maior caso de pagamento de suborno da história” – definiu o Departamento de Justiça americano.

GOVERNO PODE PERMITIR

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JORNADA DE 12 HORAS DIÁRIAS

Em meio a mais esta turbulência, o presidente Michel Temer lança hoje o seu pacote trabalhista, para tentar melhorar o ambiente do emprego no Brasil. E à cata de uma agenda positiva. Que, no caso, pode não ser tão positiva assim, pois algumas centrais sindicais já estão se manifestando sobre as mudanças que estão conhecidas.

Há duas novidades além do que já estava acertado (ver o “Primeiras Leituras” de ontem):

(1) a autorização para que os trabalhadores saquem até R$ 1 mil das contas do FTGS que estiverem inativas, ou seja, não tenham sido movimentadas nos últimos 12 meses.

(2) a possibilidade de jornadas de trabalho de até 12 horas diárias, limitadas a 220 horas mensais.

No caso do Fundo de Garantia, a ideia inicial, para pagamento de dívidas, era permitir o saque em qualquer conta, mas pressões do setor imobiliário, temeroso da redução de recursos para a construção de moradias, fizeram o governo recuar. Agora, vem o chamado “meio termo”. O governo ficou incomodado com as críticas de que seus “pacotes” têm pouco efeito no curto prazo e trazem poucos benefícios diretos para o cidadão. Calcula-se que essa liberação poderá injetar R$ 30 bilhões na economia, alavancando um pouco o consumo. As mudanças virão por Medida Provisória.

Na polêmica da dívida dos estados, o presidente disse que está propenso a sancionar o projeto de acordo de renegociação como saiu da Câmara. Não quer ficar mal com governadores e parlamentares. Porém, garante – como voltou a insistir também o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles – que na assinatura dos contratos vai exigir as contrapartidas que a Câmara tirou.

Vamos dar uma ligeira pausa nos próximos dias. Esperemos que a política e etc. não nos tragam surpresas. Voltaremos na próxima terça-feira, dia 27. Bom Natal.

Destaques dos

jornais do dia

– “Petrobras vende fatia em áreas do pré-sal por US$ 2,2 bi à Total” (Globo)

– “Governo dá um mês para os juros do cartão de crédito caírem” (Globo)

– “Prévia da inflação fecha o ano perto do teto” (Globo/Estado/Folha/Valor)

– “Conta inativa do FGTS poderá ter saques” – Globo

– “Lula diz que Lava-Jato chega a ‘grau de loucura’ para persegui-lo” (Globo)

– Ex-assessor de Temer recebeu R$ 1 milhão de operador” (Estado)

– “Marginal do Tietê fica sem atropelamento fatal por 19 meses” (Folha)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Míriam Leitão – “Falsa proteção” (diz que Temer tornará permanente um programa de emprego ruim de Dilma – Globo

2. Editorial – “De costas para o futuro” (diz que a votação da Câmara do acordo dos estados sem exigir contrapartidas foi irresponsável e só ganham o funcionalismo e os estados) – Folha

3. Vinícius Torres Freire – “Temer foge para frente” (diz que presidente reage ao abalo de seu governo acelerando reformas e cavando mais apoio nas elites) – Folha

4. Editorial – “O ajuste ameaçado” (diz que Temer não pode se render à decisão que destruiu as bases da renegociação da dívida dos estado) – Estado

5. Celso Ming – “Ilusão de noiva” (diz que diante da derrota e da impressionante fragilidade política demonstrada pelo governo é de se temer pelo destino das reformas previdenciária e trabalhista) – Estado