Aliviado com as manifestações focando Renan, Temer diz que prepara pacote para a economia

Todos dizem que é preciso entender o que diz a rua. Porém, Renan diz que vai votar a lei de abuso de autoridade, uma dos motivos das manifestações de ontem, pois podem botar um freio na Lava-Jato e outras investigações de corrupção.

José Marcio Mendonça

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Pelo menos de um mês para cá o presidente Michel Temer semana após semana vem vivendo o seu inferno astral. Esta semana não deverá ser diferente para o Palácio do Planalto, embora o presidente tenha se livrado do maior temor deste fim de semana do Palácio do Planalto: ele não foi o alvo das manifestações ocorridas no domingo em todo o país.

A multidão que esteve nas ruas centrou fogo, em defesa do juiz Sérgio Moro e da Operação Lava-Jato, nos políticos em geral, no Congresso e, principalmente, no presidente do Senado, Renan Calheiros, com alguma sobra também para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Os dois foram mostrados como os grandes adversários do combate à corrupção.

As agruras do presidente da República vão se concentrar nas questões econômicas e na administração de seu governo. As insatisfações externas com o andar da carruagem econômica cresceram. E já estão fazendo eco internamente. Há ministros, que não se identificam abertamente, que querem imediatamente algum alento na economia.

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Desde o fim da semana passada (“Primeiras” de sexta-feira) já se insinua que o ministro da Fazenda precisa olhar também para o desenvolvimento econômico, não apenas para o ajuste fiscal. Muitos já identificam nesse movimento o início de fritura de Henrique Meirelles e sua equipe. O conservadorismo do Banco Central também já é alvo de objeções. De acordo com o “Valor Econômico”, Temer e Meirelles conversaram sobre essas pressões no fim de semana.

Temer terá de dar um sinal mais claro e forte de apoio a Meirelles e, ao mesmo tempo, indicar que vai tentar alguma saída para a paralisia econômica. Os mais pessimistas dizem que a recessão pode se ampliar, caso de Paulo Rabelo de Castro, presidente do IBGE, em entrevista à “Folha de S. Paulo”.

Segundo o jornal “O Globo”, o presidente, em entrevista a Jorge Bastos Moreno, disse que não tirará Meirelles, mas que prepara medidas emergenciais contra a recessão. Disse que é “preciso impulsionar a economia com dez medidas”. Não deu detalhes, porém.

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Há ainda uma questão prática que precisa ser resolvida esta semana, pois se aproxima a hora de os governadores pagarem o 13º salário ao funcionalismo: como ajudar os estados sem comprometer as finanças federais. Já se foram quase dez dias da data marcada por Meirelles para assinar o acordo de liberação emergencial de R$ 5,3 bilhões. Além de o dinheiro ser considerado insuficiente pelos governadores, eles não aceitam as exigências de fazer certos ajustes também em suas contas. Liberar o dinheiro sem isso vai desgastar Brasília. Não liberar, é correr risco de ver agitações de funcionários públicos por todo o país.

Para amainar um pouco a “ansiedade” dos empresários e do mercado, o governo promete enviar amanhã para o Congresso sua proposta de reforma da Previdência. Ela será apresentada previamente hoje aos líderes do Legislativo e às centrais sindicais.

RENAN DIZ QUE VAI

VOTAR A LEI DO ABUSO

A reação de Renan, o político mais entusiasticamente “lembrado” pelas manifestações de ontem, foi meramente protocolar. Em nota, o presidente do Senado lembrou o óbvio: os protestos são legítimos. Rodrigo Maia também, embora menor, alvo dos protestos, seguiu na mesma linha.

O presidente Temer procurou chamar a atenção do Congresso e do mundo político em geral: devem estar atentos ao diz a população. Temer, porém, deve fazer que todos vejam isto de fato e tomem algum “juízo”– afinal, são seus aliados e a coisa pode depois respingar nele e no governo.

Renan diz que está prestando atenção nas ruas. Mas ao mesmo tempo garantiu que não vai deixar de colocar amanhã em votação a proposta de renovação da lei de abuso de autoridade, com normas para conter a ação de juízes e promotores. Exatamente o que as pessoas foram para a rua no domingo condenar. E mais: segundo a “Folha de S. Paulo”, Renan não pretende tão cedo levar ao plenário uma proposta, já aprovada nas comissões da Casa, que extingue o foro privilegiado para a maioria das autoridades.

Destaques dos

jornais do dia

– “Estudo mostra que incentivo fiscal de R$ 60 bilhões entre 2011 e 2014 não levou a indústria a reagir” (Globo)

– “Gasto discricionário do governo federal terá forte aumento no final do ano” (Valor)

– “Reforma da Previdência pode gerar economia de R$ 678 bi em dez anos, diz governo” (Folha)

– “Novo código comercial vai mudar rotina das empresas” (Valor)

– “Bancos cortam 10 mil vagas em outubro” (Globo)

– “Estado do Rio traça estratégia para suspender pagamento de dívidas” (Globo)

– “Decreto vai autorizar doação de armas apreendidas às polícias” (Globo)

LEITURAS SUGERIDAS

1. José Casado – “Políticos em choque com as ruas” (diz que Renan e Maia acreditaram que tudo podiam – inclusive fazer política em confronto com o público) – Globo

2. Paulo Guedes – “Falido e fedido” (diz que enquanto a economia afunda e o desemprego aumenta sem parar, os presidentes do Senado e da Câmara promovem guerra institucional em causa própria) – Globo

3. Valdo Cruz – “Saindo de casa, de novo!” (diz que o risco é a ansiedade do mundo da política superar o bom senso e o Palácio do Planalto sair inventando medidas para salvar a própria pela e a dos ameaçados pela Lava-Jato) – Folha

4. Vera Magalhães – “O que vem por aí” (diz que o governo respirou aliviado, mas não há otimismo no Executivo com o que está por vir na política e na economia) – Estado

5. Gustavo Loyola – “De onde virá a recuperação” (diz que a elevada capacidade ociosa na economia e a gradual redução da Selic devem abrir espaço para alguma retomada) – Valor

Destaques dos jornais

do fim de semana

SÁBADO

– “Proposta de reforma fica pronta: idade mínima de 65 anos // pensões podem ser reduzidas // militares não serão afetados” (Globo)

– “Rio: bilhete único é suspenso por falta de pagamento” (Globo)

– “No Brasil, 44% começam a trabalhar antes dos 14 anos” (Globo)

– “Crise eleva desigualdade de salário de mulheres em cargos de chefia” (Folha)

– “Desafio da Previdência: fatia de idosos sobe” (Folha)

– “Um em cada quatro jovens não estuda nem trabalha” (Estado)

– “Produção industrial volta ao nível de 2008” (Globo/Folha/Estado)

– “Operação policial prende prefeita da Ribeirão Preto” (Estado/Globo/Folha)

– “PF indicia Cabral a mulher e mais 14 por corrupção” (Globo/Estado/Folha)

DOMINGO

– “Lava-Jato: empresas investigadas param obras que já gastaram R$ 55 bi” (Globo)

– “Calote na faixa 1 do Minha Casa chega a 30%/” (Estado)