A economia brasileira e da Amazônia na era Donald Trump

Historicamente irrelevante nas relações comerciais das grandes economias, o subcontinente América do Sul pode ocupar função estratégica e determinante na era Trump.

José Marcio Mendonça

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Wilson Périco é economista, presidente do CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas e vice-presidente da Technicolor para a América Latina.

Será longa e tortuosa a caminhada de superação desta recessão. As previsões de recomposição da economia do Brasil, com ou sem o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recomendam paciência e expansão da criatividade. Entretanto, os reflexos da nova política externa do governo republicano – confirmada nos pronunciamentos pós-eleitorais – revelam desafios e oportunidades para a América do Sul, para o país e, especialmente, para a Amazônia.

A melhor maneira de conservar o patrimônio natural é atribuir-lhe função econômica. Por isso, a diplomacia brasileira já se movimenta para aproveitar/ocupar os espaços que se ensaiam. A China, confirmadas as promessas, ou ameaças alopradas do futuro governo Trump, vai olhar para os trópicos com mais interesse. Sol combina com produção de alimentos e nenhum governo próspera com insegurança alimentar do povo. Este mercado, hoje familiar aos asiáticos, será a melhor saída para eventuais barreiras de exportações para os Estados Unidos.

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Por que não flexibilizar e aceleração da Transpacífico, e de quebra recompor os corredores logísticos internos, BR-319, BR 164, BR-74 de olho no Caribe e no México? Chances novas para a América do Sul, carta fora do baralho desde 1989, com o fim da bipolaridade e da Guerra Fria, entre soviéticos e americanos. O subcontinente sul-americano pode voltar a ter relevância no novo desenho das relações multilaterais. Caso as ameaças de Trump se confirmem em relação ao México – ele vai governar para a reeleição – será natural um redirecionamento de investimentos e de fluxo comercial dos mexicanos com o Brasil e vizinhos.

Para integrar este novo mosaico, a Zona Franca de Manaus, a rigor, o Amazonas, precisa inserir-se no sumário de uma nova política industrial, ambiental e de ciência, tecnologia e inovação, cuja estruturação e definição são inadiáveis. Afinal, além da proteção da floresta, contribuição vital para o Acordo do Clima, a ZFM – para levar adiante seus polos de biotecnologia e tecnologia da comunicação e da informação – não pode seguir usurpada em 80% dos recursos auferidos para este fim. O país gasta muito e gasta mal para manter sua ineficiência e compulsão perdulária. Do mesmo modo, não podemos congelar a expansão industrial da ZFM – atualmente com apenas 0,64% dos estabelecimentos industriais do Brasil – por abuso de burocratas de Brasília – e seus interesses inconfessos – que alegam prejuízos fictícios a novos empreendimentos em outras regiões do país.

Reter na região as contribuições das empresas para pesquisa e desenvolvimento é essencial para diversificar, adensar-se a regionalização da economia. Como cumprir o dever constitucional de reduzir as desigualdades regionais, se o Brasil confisca, para fins obscuros, 80% dos recursos para pesquisa e regionalização da economia pagos pelas empresas de Manaus? E mais: suspender o confisco de suas verbas é o único caminho para recompor a autonomia da Suframa, órgão responsável pelos acertos da ZFM, o melhor arranjo fiscal da história do Brasil para redução das desigualdades regionais.

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Desenvolvemos aqui tecnologia para propagação de espécies de alto valor comercial em laboratório – caminho inteligente do reflorestamento de áreas degradadas – e dispomos de inteligência regional para agregar inovação tecnológica aos produtos fabricados no polo industrial de Manaus. Às vésperas de completar 50 anos, e desfalcada de infraestrutura de comunicação, energia e logística de transportes, vitais para sua competitividade, a ZFM convida o Brasil para conhecer um mundo de oportunidades de acelerar os caminhos de recuperação da economia, com a consolidação e ampliação do polo industrial de Manaus, base das incontáveis promessas da bioeconomia sustentável,tanto no manejo florestal como prospecção de princípios ativos da floresta, para segurança alimentar – a piscicultura -, a produção de fármacos e cosméticos, as oportunidades do polo mineral e turístico. São caminhos que demandam um mutirão de parcerias tecnológicas, vontade política e integração de talentos em favor da proteção da floresta e de um novo projeto para o Brasil.