Políticos pensam na eleição presidencial e em 2018, mas a conta da economia ainda está aberta

A contabilidade do governo continua se deteriorando e o pessoal do mercado passou a esperar um pior desempenho para a economia de três semanas para cá, tanto este ano como em 2017.

José Marcio Mendonça

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Eleição, pelo menos até 2018 é coisa do passado, mesmo assim os resultados das urnas ainda continuaram produzindo ecos no mundo político e, consequentemente, ocupando ainda bom espaço na mídia, com especulações, análises, palpites. O exercício agora é especular quem se fortaleceu e quem se enfraqueceu, quem entrou no páreo e quem está fora do páreo nas presidenciais de daqui a dois anos. E mesmo que o assunto arrefeça na imprensa, ele vai marcar em parte os passos e as ações dos partidos daqui para frente, com implicações nos trabalhos no Congresso Nacional e nas relações do governo com o Legislativo e os partidos.

O cálculo eleitoral fará cada vez mais parte da contabilidade de partidos e parlamentares, pois a maioria deles começará logo a jogar também o próprio jogo de reeleição. Por essas e outras, o presidente Michel Temer, embora a base aliada tenha saído com excelente musculatura das eleições – vai comandar, com seus diversos partidos, mais de 80% do país –, terá cada vez mais trabalho para manter a tropa de choque coesa.

Até porque a agenda governista para o próximo ano, com a reforma da Previdência, alterações na lei trabalhista e controle muito rígido dos gastos públicos entre outras questões polêmicas, na visão de muitos políticos não combina sempre com os momentos eleitorais. Para se ver como a situação é delicada: ao “Valor Econômico”, o ministro Eliseu Padilha disse que a reforma da Previdência será apenas a “possível”.

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O que pode ser um erro de cálculo, uma má leitura do atual espírito dos brasileiros, revelado nas urnas de outubro. Diversos candidatos se elegeram defendendo políticas de austeridade fiscal. E a avalanche de votos brancos, nulos e de abstenções, em índices “nunca antes vistos neste país”, indica o desgosto com eleitorado com a política e o estilo de gestão da coisa pública que estão aí.

Assim, o presidente Michel Temer, com o amparo do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, terá de apresentar, num prazo relativamente curto, em algum sinal concreto de melhoria do ambiente econômico, para não deixar crescer a inquietação da opinião pública e não dar armas à combalida oposição, na ocasião perdida no Congresso Nacional e sem forças ainda na área sindical e dos movimentos sociais. A conjunção dos astros políticos é inteiramente favorável ao governo, contudo, não perdurará muito. O ambiente econômico não se alimenta apenas de expectativas.

EM 12 MESES O ROMBO DAS CONTAS

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PÚBLICAS ESTÁ EM R$ 188 BILHÕES

E dois dados divulgados ontem mostram que a confiança que Temer e sua equipe conquistaram pode estar “subindo do telhado”:

1. O índice de confiança do comércio e da indústria, medido mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas, depois de alguns meses positivo, voltou a cair no mês de outubro.

2. Pela terceira semana consecutiva, os cerca de 100 analistas consultados semanalmente pelo Banco Central sobre as perspectivas da economia nacional, rebaixaram as previsões para o PIB deste ano – de menos 3,22% para menos 3,3% para – e de 2017 – de 1,23% para 1,21% (ficou semanas em 1,30%). Em reunião com diretores do Banco Central em São Paulo, informa “O Globo”, analistas financeiros manifestaram sua preocupação com o PIB fraco.

E o rombo nas contas públicas continua assombrando. A contabilidade oficial consolidada do setor estatal com um todo – governo federal, governos estaduais e governos municipais – fechou setembro com um rombo de R$ 26,6 bilhões e de R$ 85,5 bilhões em nove meses, R$ 188 bi em 12 meses, os piores número desde o início da série histórica em 2001. A dívida bruta passou dos 70% e o déficit primário venceu os 3%.

A boa notícia é que as contas deste ano e de 2017 terão a ajuda da receita com impostos e multas propiciada pela regularização de capitais brasileiros irregularmente mantidos no Exterior. Encerrado o prazo ontem para a adesão à repatriação, o governo contabilizou a arrecadação de R$ 50 bilhões de reais, menos do que dizia anteontem que arrecadaria – entre R$ 60 bi e R$ 65 bi – mesmo assim uma montanha de dinheiro que ajudará a cumprir as promessas de fechar 2016 com um déficit primário de R$ 170,5 bi em 2016 de R$ 139 bi em 2017. E ainda dará para dar um pequeno alívio aos quase falidos, com poucas exceções, estados e municípios.

Outros destaques

dos jornais do dia

– “TCU investiga calote de estados em bancos públicos” (Estado)

– “Terceirização pode ter projeto alternativo”

– “Preço do gás de cozinha sobe com mudança de política da Petrobras” (Folha)

– “Estrangeiro reduz aportes em grandes obras” (Valor)

– “Crédito encolhe e reduz lucro do Itaú em 8,9%” (Globo/Folha)

– “Temer anuncia ‘cartão’ de R$ 5 mil para reforma de casa” (Folha/Estado)

– “Petroleiros rejeitam proposta da Petrobras” (Valor)

– “Nova regra reduziria partidos de 35 para 9” (Globo)

– “Delator: Palocci pediu propina em Belo Monte” (Globo)

– “Rools Royce é investigada por pagar propina, inclusive no Brasil” (Estado/Folha)

LEITURAS SUGERIDAS

1. José Casado – “A disputa pela Vale” (diz que reforçado nas urnas, o PMDB manobra para lotear o comando da empresa, e entra em rota de colisão com o principal aliado de Temer, o PSDB) – Globo

2. Editorial – “Pêndulo brasileiro” (diz que corrupção e crise econômica abatem o PT e favorecem a ascensão do PSDB, mas quadro político mais fragmentado preocupa) – Folha

3. Mário Sérgio Conti – “Vozes de Brasília” (diz que a capital entrou em estado de alerta, aguarda tudo ao mesmo tempo: delações, protestos, conciliação) – Folha

4. Delfim Netto – “A cautela do Banco Central é apropriada” (diz que é urgente dar ao Banco Central conforto para acelerar a baixa de taxa de juros – e a PEC 241 é um bom começo) – Valor

5. Editorial – “Agora, é reconstruir o país” (diz que eleitos terão de agir levando em conta que a paciência dos brasileiros tem limite) – Estado