Temer tem nova boa vitória na PEC, mas não consegue acalmar os ânimos do Senado e do STF

A Câmara aprovou com larga vantagem a PEC, mostrando que a governabilidade de Temer ainda é elevada e deve se repetir no Senado. O risco é o acirramento do conflito Legislativo-Judiciário depois do ataque de Renan e a resposta de Carmem Lúcia.

José Marcio Mendonça

Publicidade

O Congresso e o mundo político (com a atenção de boa parte dos agentes econômicos) estiveram voltados ontem para dois assuntos: a votação em segundo turno da PEC do Teto de Gastos na Câmara e o clima de tensão entre o senador Renan Calheiros e a ministra Carmem Lúcia, respectivamente presidentes do Senado e do Supremo Tribunal Federal, após os ataques de Renan ao juiz que ordenou a prisão de quatro policiais da casa que ele dirige e da dura resposta Carmem, mesmo sem citar diretamente o político alagoano.

Renan chamou o magistrado de primeira instância de Brasília de “juizeco” e Carmem disse que agredir um juiz é agredir todos os juízes e exigiu o mesmo respeito ao Judiciário que ele dedica aos outros poderes. Foi chumbo grosso que cruzou os ares de Brasília, acendendo o temor de uma crise institucional que poderia (pode, se não for debelada) prejudicar a votação dos projetos de rearrumação das contas públicas e da economia nacional planejados por Temer e Henrique Meirelles.

Por isso, a votação da PEC ganhou outra dimensão. A decisão sobre a PEC foi a esperada e a melhor possível para o governo. Os sete votos a menos (359) ontem que os do primeiro turno (366) não representam um enfraquecimento do apoio ao governo na Câmara. E Temer precisava dessa demonstração para acalmar um pouco mais os confinantes e ao mesmo tempo ainda desconfiados agentes econômicos. Foi um sinal de que, pelo menos, por enquanto, o presidente mantém um ótimo grau de “governabilidade” na Câmara. O mesmo deve ocorrer no Senado, onde se espera que a PEC esteja definitivamente aprovada até 13 de dezembro.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Já o caso Judiciário-Senado (com reflexos indiretos na Câmara) que tem potencial para se tornar uma crise institucional, pois não é de hoje que há escaramuças, com queixas de lado a lado, entre os poderes Legislativo e Judiciário, não teve uma solução tranquilizadora. Depois do ataque de Renan e do duro contra-ataque de Carmem Lúcia, bombeiros entraram em cena para tentar apagar o princípio de incêndio, embora no Congresso, muito assustado com Lava-Jatos e que tais, alguns incendiários ainda tenham jogado um pouquinho mais de querosene na fogueira.

CARMEM LÚCIA RECUSA

ENCONTRO COM RENAN

Continua depois da publicidade

O presidente Temer, que em nome da “governabilidade”, da necessidade de não atrapalhar a votação da PEC do Teto Senado – e, portanto, precisando não desagradar Renan – entrou na liça para acalmar os ânimos. Teve até de engolir a classificação de seu ministro da Justiça como mero “chefete de polícia”. Atendendo pedido de Renan, que parece ter sentido também o calor do fogo, Temer convidou Carmem Lúcia para uma conversa a três no Palácio do Planalto para colocar as coisas no eixo.

A presidente do Supremo, porém, alegando compromissos anteriores de agenda recusou o encontro. Os três vão se ver publicamente apenas na sexta-feira num evento no Itamaraty sobre Segurança Pública, marcado há tempos. O que se comentava nos meios políticos e jurídicos é que a recusa da mineiramente moderada presidente do Supremo demonstra que o esgarçamento das relações Legislativo-Judiciário é muito mais grave do que se imagina.

Em parte pelo corporativismo natural em qualquer área da administração pública (e Carmem teria falado também e muito para o público interno) e em boa medida porque o Judiciário (unindo-se aí ao Ministério Púbico e à Polícia Federal) está agastado com os movimentos no Congresso, via lei do abuso de autoridade, para tentar conter (ou enquadrar) as ações da Justiça e de órgãos auxiliares no combate à corrupção. Entidades de juízes e procuradores encamparam a posição da presidente do Supremo.

A votação com grande margem da PEC do Teto ontem mostrou que o ambiente no Congresso ainda não foi contaminado por essas disputas. O mesmo deve se registrar na tramitação da proposta fiscal no Senado, Porém, não se pode afirmar o mesmo depois disso se um grande entendimento entre os dois lados não for alcançado. Até porque a Operação Lava-Jato e similares, pano de fundo de todo o desentendimento atual, vai seguir impávida e inexorável. Inclusive com ameaças diretas para Renan com seus nove processos no STF e novas delações que segundo se teme podem pegar centenas de políticos.

Outros destaques

dos jornais do dia

– “Dívida púbica federal supera R$ 3 bilhões pela primeira vez na história” (Globo)

– “Mercado aposta em queda mais lenta dos juros” (Folha/Globo)

– “Petrobras quer plataforma 100% estrangeira” (Globo)

– “Governo estuda proteção cambial nas concessões” (Valor)

– “Por falta de movimento, Galeão vai desativar Terminal 1 em novembro” – Globo

– “Após compra da Time Warner, AT&T terá de vender Sky no Brasil” (Globo)

– “Com acordo fechado, Emílio Odebrecht cumprirá regime de prisão domiciliar” (Valor)

– “”País tem 1.022 escolas e 84 universidades ocupadas em 19 estados e em Brasília” (Estado)

 LEITURAS SUGERIDAS

1. Editorial – “Flor da pele” (diz reação de Renan a prisão de policias gera atritos entre Poderes, mas constitui problema menos se limitar-se ao campo retórico) – Folha

2. Elio Gaspari – “Assim, acabam absolvendo Lula” (diz que o balanço do episódio da condução coercitiva foi sua martirização, papel em que o ex-presidente se sente bem) – Folha/Globo

3. Vinícius Torres Freire – “Juros ainda sobem” (diz que taxa de juros real de um ano vai ao maior em um mês, com dureza do Banco Central) – Folha

4. Merval Pereira – “Crise institucional” (diz que o confronto entre os poderes Judiciário e Legislativo prossegue sem que exista força política capaz de fazer a mediação) – Globo

5. Editorial – “Flexibilização do BC” (diz que o modesto corte de juros foi um desvio dos critérios indicados pelo BC” – Estado

6. Dora Kramer – “Pânico faz o valente” (diz que quando os fatos criam pernas, as pessoas perdem a cabeça – é o caso de Renan) – Estado