Nova crise com Renan não deve impedir a aprovação da PEC do Teto de Gastos

A proposta deve ser aprovada hoje na Câmara e em princípio não terá dificuldades no Senado em seguida. Mas o ambiente conturbado com a prisão dos policiais do Senado pode pôr em risco a tranquilidade nas relações de Temer com o Congresso.

José Marcio Mendonça

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A PEC do Teto de Gastos vai à votação hoje em segundo turno na Câmara em um clima extremamente tenso. O ambiente conturbado, provocado pela prisão na sexta-feira do chefe da polícia legislativa do Senado e mais três policiais da instituição, não deve impedir contudo a aprovação hoje da proposta – e com boa margem de vantagem novamente. O governo conta com cerca de 365 votos, mais, portanto, que os 366 do primeiro turno.

Porém, a confusão pode dificultar o andamento desse projeto e outros de interesse do governo e de necessidade urgente, daqui para frente no Congresso, principalmente no Senado, para onde a PEC vai em seguida e onde se situa o epicentro dessa nova crise, centrada na pessoa do presidente da Casa, senador Renan Calheiros e espraiada por todo o mundo da politica.

As reações de Renan desde sexta-feira contra a detenção de seus subordinados, sob suspeita de agirem para bloquear ações da Operação Lava-Jato, vêm num crescendo e dão o cenário geral. Ele soltou imediatamente nota condenando as prisões já em tom duro, com críticas à PF e ao Judiciário e já se indispôs com o ministro da Justiça. No domingo, segundo o colunista Ilimar Franco, de “O Globo”, teve no Palácio do Jaburu uma conversa extremamente tensa com o presidente Michel Temer (a informação disponível até ontem cedo é que eles tinham conversado apenas por telefone). Renan queixou-se apenas do ministro Alexandre Morais ou foi mais longe na conversa?

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Ontem, o presidente do Senado foi ao tom mais elevado. Ao anunciar que vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra a ação da PF no Senado, envolvendo no recurso a Justiça Federal em Brasília, de onde saiu a ordem para as prisões, buscas e apreensões de sexta-feira, Renan chamou o magistrado responsável pelo despacho de “juizeco” e o ministro da Justiça de “chefete de polícia” e acusou da PF de “fascista”. Não é preciso ser adivinho para saber que isso terá desdobramentos. O STF, tão acusado de se imiscuir nas questões da política, está sendo chamado por um político para dirimir uma questão que tem um fundo político também.

LAVA-JATO: RENAN QUER UMA

REUNIÃO DOS TRÊS PODERES

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O nervosismo extrapolado e um tanto quanto histriônico de Renan é um retrato do nervosismo que tomou conta dos políticos depois da prisão de Eduardo Cunha e não parou de aumentar. A prisão dos policiais na sexta-feira mostrou de vez que a “cidadela” que eles acreditavam instalada no Poder Legislativo é frágil. E que a Lava-Jato, na PF, no Ministério Público e no Judiciário até onde se vê é incontrolável. Por isso mesmo, Renan quer aprovar logo a lei de abuso de autoridade. O clima de medo agora é propício para esta tentativa, fracassada semanas atrás.

Informa o “Painel’ da “Folha de S. Paulo” que Renan pretende ainda sugerir ao presidente Michel Temer uma reunião dos presidentes dos três poderes para discutir esses imbróglios políticos, jurídicos e institucionais. Algum controle das instâncias inferiores e de órgãos subordinados?

Ontem apareceram outros dois motivos para ampliar a tensão brasiliense. A Polícia Federal pediu o indiciamento do ex-ministro Antônio Palocci e de Marcelo Odebrecht e mais quatro pessoas em um dos processos da Lava-Jato. Ao mesmo tempo, revelou-se que o ex-presidente Lula recebeu R$ 8 bilhões da empreiteira em negócio intermediado por Palocci, dinheiro de propina. Na planilha de corrupção da empresa o ex-presidente seria identificado como “amigo”.

E, para completar, “O Globo” de hoje revela que finalmente Marcelo Odebrecht e mais de 50 executivos da empresa fecharam um acordo de delação premiada com a força-tarefa de Curitiba, tida como a “delação das delações”, a mais temida de todos pelo universo dos políticos.

Neste turbilhão, o governo age como pode para não deixar contaminar seu projeto econômico. A segunda-feira foi um dia também de muitas conversas de “convencimento” dos parlamentares a votarem maciçamente na PEC hoje. Mais do que nunca o governo precisa mostrar que tem controle do processo legislativo. Por via das dúvidas, o “convencimento” foi além da simples “lábia”. Por exemplo: saíram finalmente as nomeações para 12 cobiçadas vice-presidências da Caixa Econômica Federal, contemplando o PMDB, o PP, o PR, o PSDB e o DEM.

Dias mais tranquilos na política, com reflexos na economia, não virão tão cedo.

Outros destaques

dos jornais do dia

– “Receitas com imposto e multas da repatriação já chegam a R$ 33,1 bilhões” – Blog do Fernando Rodrigues no UOL/Estado

– “Recuperação judicial esta ano é recorde com alta de 62% em relação a 2015” (Globo)

– “Novo discurso busca atrair investimentos em petróleo” (Valor)

– “Total tem interesse na área de abastecimento da Petrobras” (Estado/Valor)

– “Governo indica Décio Oddone para a ANP” (Globo)

– “Embraer faz acordo US$ 206 mi em caso de propina” (Globo/Folha)

LEITURAS SUGERIDAS

1. José Casado – “Amigos de Temer – “diz que no Congresso pouco importam as vitórias de um governo tampão em 55 dias de poder – só se conversa sobre o futuro de Temer e do PMDB com as delações de Odebrecht e de Cunha( – Globo

2. Delfim Netto – “PEC 241: Essência do mal ou começo do bem” (elogia a proposta mas diz que não existe uma bala de prata para resolver todos os problemas) – Valor

3. José Paulo Kupfer – “Limites da confiança”(diz que a decepção com núemros da economia é o outro lado da moeda do otimismo exagerado) – Estado

4. Almir Pazzianoto Pinto – Decisão para a história” (diz que uso abusivo de recursos tem conseguido manter livres facinoras de alta perisculosidade” (Estado)