Prisão de Palocci, com informações da Odebrecht, pode causar estragos generalizados

Em Brasília se fala em novas prisões, em outros alvos de prisão e a lista de políticos que poderiam estar na lista de “ajudados” pela empreiteira subiu de 100 para cerca de 200 nomes. Ficou mal na história também o ministro da Justiça e o governo novamente vacila.

José Marcio Mendonça

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No caso da prisão ontem do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil, Antonio Palocci, no bojo da mais uma etapa da Operação Lava-Jato, não se pode dizer também que houve uma surpresa, ainda mais depois que o ministro da Justiça, no domingo, informou “alegremente” (é só ver o sorriso dela para as câmeras) aos jornalistas num evento político-eleitoral tucano em Ribeirão Preto que esta semana teríamos mais novidades oriundas da força tarefa que investiga o petrolão.

Não é surpresa porque, desde a prisão e posterior soltura do também ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, já circulavam em Brasília especulações que os próximos alvos seriam exatamente Palocci, que sempre, como ministro e como ex, teve ações muito ativas nas relações do governo e do Partido dos Trabalhadores com o mundo empresarial. Na mesma linha, inclusive, na capital ontem já se apontava os próximos alvos da operação, tão logo passe o período eleitoral: a ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, e o ex-presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

Não foi surpresa a prisão de Palocci, mas, mesmo assim, ela causou mais temor no mundo político de um modo geral, inclusive nas hostes governistas, do que causaram, até agora, todas as outras prisões efetuadas pela Operação Lava-Jato. Isto pela quantidade de revelações contidas na peça de acusação acatada pelo juiz Sergio Moro para decretar a prisão de Palocci. E desta vez com um detalhe que chamou também a atenção, na liturgia desses eventos: os procuradores mais notoriamente identificados com a Operação, entre eles, Deltan Dallagnol, não apareceram. Foi uma turma nova, fria e cirúrgica na comunicação.

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A impressão é que se procurou evitar as críticas à “espetaculosidade” da operação. Mesmo assim, o PT, que indiretamente outra vez é o maior prejudicado pelo caso, não deixou de denunciar o caráter político-eleitoral da prisão e da Lava-Jato em geral. No que foi ajudado pela “espetaculosidade” dominical do ministro da Justiça.

Uma das razões do medo generalizado foi o fato de praticamente toda a argumentação para o pedido de prisão de Palocci ter sido baseada em documentos apreendidos nas várias ações de apreensão e busca levadas avante pela Lava-Jato na empreiteira Odebrecht e na decodificação de mensagem dos celulares de Marcelo Odebrecht, presidente da empresa nos últimos anos até sua prisão. Como já se sabia e como agora ficou mais uma vez visível, até mesmo para os casos menos “republicanos” a Odebrecht mantinha uma detalhada contabilidade sobre cada negócio, cada verba distribuída. E Marcelo também era muito organizado na distribuição de ordens e atribuições. Tudo muito bem registrado, o que leva a crer que desse ventre ainda podem sair muitas bombas. E vai ainda aos negócios da Odebrecht no Exterior, na maioria financiada pelo BNDES, outro veio ainda não explorado – daí inclusive as especulações com o nome de Coutinho.

E que prenuncia o que pode sair da delação premiada de Marcelo e mais cerca de 50 executivos da empresa, que está em fase adiantada de negociação. Brasília já falava não mais em 100 nomes de políticos e assemelhados, mas em cerca de 200, como beneficiários de ajudas político-eleitorais da empresa. Ecumenicamente, sem distinção de credos, ideologias ou coloração partidária.

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Porém, há a possibilidade de a delação da Odebrecht ser prejudicada – um prejuízo para a empresa, naturalmente e seus executivos. A força-tarefa ontem também deu uma demonstração de que a documentação retirada da empreiteira, com sua meticulosidade, pode ser suficiente para os processos, dispensando boa parte das delações. Ou seja, a empresa e seus executivos terão que oferecer mais do que estão oferecendo aos promotores para ganharem os benefícios da delação premiada.

O TIRO NO CORAÇÃO DO PT E

AS VACILAÇÕES DE TEMER

É repetir o óbvio, como já escrevi num texto publicado ontem neste blog em “Fato Real”, a prisão de Palocci com os detalhes contidos na peça acusatória contra o ex-ministro acatada por Moro, é mais tiro no coração eleitoral do PT e do ex-presidente Lula. Deve ajudar de um modo geral a esvaziar ainda mais os votos da maior parte dos candidatos petistas nas eleições de domingo. E vai exigir, posteriormente, mais e mais esforço do PT para se soerguer. O PT ainda vai tentar o último lance de salvação com o discurso da perseguição política. (Sobre esse assunto ver a entrevista do cientista político Rafael Cortez ao “Na Real na TV”).

A faceta dessa história, envolvendo o que alguns estão chamando em Brasília de “boquirrotice” do ministro da Justiça, mostra mais uma vez o caráter vacilante do governo Temer (e do presidente naturalmente) em casos mais delicados da administração e de seus auxliares. O ato do ministro foi equivocado, em ele tentou dar uma explicação, uma justificativa de que tinha sido mal interpretado, mas a gravação da conversa não deixa dúvida de ele foi imprudente (no mínimo), o episódio rendeu barulho o dia inteiro nas redes sociais e na mídia eletrônica, com cobranças de demissão de Alexandre de Moraes, e Temer não agiu com determinação. O Palácio fez vazar que Temer não gostou, que o presidente receberia o ministro para ouvir as explicações dele dar-lhe uma carraspana, porém o encontro foi adiado e ficou-se em nada.

Vai alimentar mais ainda as críticas sobre essas vacilações, idas e vindas do Palácio do Planalto, que muitas vezes desgastam a imagem do governo e do presidente junto à opinião púbica. Hoje mesmo temos outro fato nessa linha. Segundo a “Folha de S. Paulo”, o Palácio do Planalto já estuda enviar sua proposta da reforma da Previdência ao Congresso depois das eleições. Esta é outra novela do “vai não vai” palaciano. É um dos projetos mais importantes do ajuste de longo prazo das contas públicas . Também é simbólico para demonstrar a disposição do governo de enfrentar dificuldades políticas, pois é polêmico e tido como “impopular”. Pressionado, Temer disse que mandaria o projeto até o dia 30, para mostrar que não está para praticar um “estelionato eleitoral”, esconder as medidas desagradáveis para ajudar os aliados nas urnas. E agora?

O governo discute seus problemas de comunicação. Mas o mais sério está sendo o de ação, de afirmação.

O presidente marcou um jantar hoje no Palácio da Alvorada, em sua “reinauguração” sob nova direção, com os líderes do partidos aliados para estabelecer a estratégia de votação urgente da PEC do Teto de Gastos após o primeiro turno das municipais. O tempo é curto se não houver disposição e boa vontade. Devem ser discutidas também alterações na lei de repatriação de capitais, que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles não gostaria que ocorressem, mas o Congresso insiste e vai mudar.

Atenção também para o Boletim Trimestral da Inflação que o Banco Central divulga hoje e que deve trazer perspectivas mais positivas para a economia brasileira.

Outros destaques dos

jornais do dia

– “Dívidas das famílias caem e abrem espaço para consumo” (Valor)

– “Petrobras pretende reunir térmica em empresa e busca investidores” (Folha)

– “Banco Central projeto déficit de US$ 18 bi para as contas externas este ano” (Folha/Globo)

– “Dívida federal recua 0,07% em julho e soma R$ 2,95 trilhões” (Globo)

– “Ministério Público pede cassação de Dória e punição de Alckmin” (Folha)

– “Temer estuda deixar a reforma da Previdência para depois das eleições (Folha)

– “Governo blinda FGTS de pedaladas no Minha Casa Minha Vida” (Estado/Globo)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Editorial – “Exibição infeliz” (diz que as declarações de Alexandre de Moraes domingo evento político em Ribeirão Preto tornam necessária boa dose de vontade para enxergar mera coincidência em suas revelações e posterior prisão de Palocci) – Folha

2. José Casado – “Nomes e notas” (diz que Lava Jato avança rumo à Camex e à Secretaria de Assuntos Internacionais da Fazenda) – Globo

3. Editorial – “Momento difícil na luta contra a impunidade” (diz que continua a conspiração contra a Lava-Jato e aproxima-se no Supremo o julgamento sobre se penas devem ser cumpridas a partir da segunda instância) – Globo

4. Editorial – “Mercado de trabalho ainda vai demorar tempo para reagir” (diz que assim como demorou a refletir a queda na produção, o emprego vai levar tempo para se recuperar) – Valor

5. Nílson Teixeira – “Desonerações tributárias são exageradas” (diz que Executivo e Legislativo terão de proteger os mais pobres e escolher os grupos que arcarão com o custo do ajuste) – Valor