Prisão de Mantega chama a atenção e ofusca a questão do déficit e as mudanças na educação

Governo quer sete horas diárias de aula no ensino médio e somente três disciplinas obrigatórias: português, matemática e inglês. Na economia, aposta-se na repatriação de capitais para fechar as contas públicas de 2016.

José Marcio Mendonça

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A prisão e posterior soltura do ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma, Guido Mantega, por acrescentar mais ingredientes explosivos na Operação Lava-Jato – a mostrar que de dentro de seu ventre pode sair o imponderável e que o início de seu fim pode estar ainda muito distante – acabou por ofuscar durante todo o dia outras duas notícias de extraordinária importância para o país e que mexerão com o futuro dos brasileiros tanto ou mais que os efeitos que as investigações de corrupção poderão ter sobre os costumes políticos e administrativos no Brasil.

Mesmo as denúncias envolvendo o ex-ministro Mantega, que direta ou indiretamente vão atingir os dois ex-presidentes petistas e o próprio Partido dos Trabalhadores, acabaram sendo mais discutidas por causa da forma e das circunstâncias constrangedoras como o ex-titular da Fazenda foi detido do que em sua essência. O lateral anuviando o principal, outro vício da política e de parte da mídia brasileira.

Como resumiu em sua coluna de hoje a “Folha de S. Paulo” o jornalista Bernardo Mello Franco, escrevendo diretamente de Brasília, as suspeitas contra Mantega são graves e precisam ser devidamente apuradas, mas a prisão do ex-ministro deu munição a quem critica os excessos da Lava-Jato. É mais um argumento (ou desculpa) para no Congresso tentar-se conter a Operação e criar obstáculos para novas “Lava-Jatos”, desejo hoje de boa parcela do mundo político nacional.

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De toda forma, na antevéspera da eleição, é mais um prejuízo para o PT e seus candidatos contabilizarem nas urnas de outubro. Pesquisas eleitorais indicam, por exemplo, que em apenas uma capital, Rio Branco, lidera a intenção de votos para a prefeitura. Isto é reflexo direto do petrolão e da crise econômica, cuja responsabilidade recai nas costas da ex-presidente Dilma Rousseff.

Os temas essenciais do dia, que merecem discussões e acompanhamento com muita atenção, porém, são dois outros.

O primeiro, recorrente ao longo do ano, diz respeito às contas públicas e à promessa do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de entregar, no final do ano, a contabilidade oficial com um déficit de “apenas” R$ 170,5 bilhões. A revisão da programação orçamentária do quarto bimestre do ano não trouxe nenhuma mudança na previsão de gastos, o governo manteve intocados os dados anteriores. Como houve uma frustração da receita prevista no período, a solução foi incluir na arrecadação agora revista a entrada até o fim de 2016 de R$ 6,2 bilhões oriundos de impostos e multas pela regularização de capitais de brasileiros mantidos no Exterior.

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É uma receita ainda incerta (ver “Primeiras” de ontem) e o governo talvez tenha de fazer mais cortes lá na frente. Mas optou por esta solução agora para não fazer marola na véspera das eleições. Mesmo assim, governo indica que poderá reduzir o déficit para R$ 169 bi.

NO ENSINO MÉDIO, SETE

HORAS DIÁRIAS DE AULA

O segundo tema foi a Medida Provisória assinada pelo presidente Michel Temer com mudanças nas normas do ensino médio no Brasil. É, segundo os especialistas, a mais radical alteração no processo educacional brasileiro desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996. É extremamente polêmica e vem no momento em que o ensino do Brasil dá mostras claras, em qualquer tipo de avaliação, que só tem piorado ano a ano. O Brasil está ficando para trás na formação de seus quadros para a economia e vida modernas. E sem o envolvimento da sociedade e dos meios de comunicação nesse debate é difícil imaginar o que pode virar esse projeto na cabeça de um Congresso Nacional acuado e pouco interessado nas questões de fundo do país.

Alguns dos destaques dados à MP pelos principais jornais:

“Plano federal para o ensino médio mira a especialização” (Folha)

“Projeto prevê flexibilização de disciplinas e repete metas de ter 25% dos alunos em escolas de tempo integral até 2025” (Folha)

“Disciplina opcional não segura estudante que carregar déficit” (Folha)

“Reforma exclui educação física e artes do currículo obrigatório” (Globo)

“Pressão por esportes e artes atingirá governo e Congresso” (Folha)

“Desafio será ter professor especializado” (Folha)

“Resultado depende dos estados e pode gerar desigualdade, dizem especialistas” (Folha)

“Plano do ensino médio prevê sete horas de aula dia” (Globo)

“Só português, matemática e inglês serão obrigatórios no ensino médio” (Estado)

“Oopção por Medida Provisória e pouco investimento recebem críticas” (Valor)

Outros destaques

dos jornais do dia

– “Para analistas, corte do juro em outubro está mais provável” (Folha/Estado)

– “PEC concederá autonomia ao Banco Central” (Valor)

– “Cenário melhora e mercado começa a destravar emissões” (Valor)

– “Limite de reajuste aos servidores deve voltar ao projeto de ajuda aos estados” (Estado)

– “Reforma da Previdência deve afetar militares” (Globo)

– “Com greve dos auditores, autuações da Receita caem 14%” (Estado)

– “Para liberar recursos, Aeronáutica anuncia redução de pessoal de até 25%” (Folha)

– “Recessão argentina se agrava e PIB cai mais que o previsto” (Valor)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Editorial – “Pesada e agressiva” (diz que país precisa enfrentar debate maduro sobre a carga tributária, que é muito elevada e especialmente injusta com os mais pobres) – Folha

2. Bernardo Mello Franco – “Passo em falso” (diz que as suspeitas contra Mantega são graves e precisam ser apuradas, mas que a prisão do ex-ministro deu munição a quem critica os excessos da Lava-Jato) – Folha

3. Rogério Furquim Werneck – “Qual é a política de preços da Petrobras?” (diz que preços internos de derivados de petróleo deveriam estar alinhados aos preços vigentes no mercado internacional) – Globo/Estado

4. Editorial – “Tratamento de choque para o ensino médio” (diz que é correta a decisão do governo de baixar a fase final do ciclo básico por medida provisória,diante da grave estagnação do aprendizado em nível muito baixo) – Globo

5. Cláudia Safatle – “Avança a PEC da autonomia do BC” (diz que proposta dará ao Banco Central foro privilegiado mas não garante mandato fixo) – Valor