A derradeira cartada de Dilma falhou: impeachment sai até a madrugada

Até os adeptos da presidente afastada - e que consideram que o desempenho dela ontem no depoimento no Senado foi muito bom e forte - reconhecem que ele não foi capaz de mudar a tendência da imensa maioria dos senadores pela efetivação do interino Michel Temer.

José Marcio Mendonça

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As reações tanto dos grupos pró-impeachment quanto os dos contrários ao afastamento definitivo de Dilma Rousseff que estavam ontem no Congresso Nacional, seja de senadores que votam quanto de pessoas que lá foram para acompanhar a sessão do Senado, entre eles os convidados de presidente licenciada, indicam que ela fez ontem sua última apresentação pública como presidente..

E que até mais tardar a madrugada de quarta-feira Michel Temer deixará de ser interino e poderá embarcar amanhã, devidamente empossado, em direção à China, para uma reunião do G-20 e, em seguida, uma visita oficial ao governo chinês, em sua primeira viagem internacional.

Resumindo a fala presidencial, que durou mais de 12 horas: Dilma não apresentou argumentos diferentes dos que vêm sendo desfiados há meses por seus defensores e por ela mesma, desde que em abril a Câmara começou a julgar o pedido de impeachment. As teses do golpismo, da perseguição política, da honestidade pessoal, de que não cometeu os crimes fiscais, que a situação econômica é consequência da crise econômica externa, que é vítima da vingança de Eduardo Cunha…, foram repassadas e repisadas.

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A avaliação geral é que ela falou para sua própria biografia. No geral, angariou simpatias, não votos no painel eletrônico do Senado. Disse, no velho chavão “a luta continua”, que vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal.

A bola, então, está agora, sem mais nenhuma direito à alegação de pruridos democráticos, de respeito à interinidade, com Michel Temer.

A informação é que o presidente, antes de embarcar para a China, empossado oficialmente, fará o de praxe “pronunciamento à Nação”, na qual dará as linhas gerais de seu governo, mostrará as dificuldades que encontrou e preparará os brasileiros para os sacrifícios e medidas duras que estão por vir.

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Mas, mais que discursos e diagnósticos, o que se espera, como registram ainda hoje comentários nos jornais, são ações imediatas do Planalto e dos ministérios. Fatos. E para isso ele precisará, de agora por diante, fazer o que praticamente não aconteceu em sua interinidade – colocar a política a serviço de economia.

Em outras palavras: domar a base aliada para aprovar as medidas de ajuste fiscal, a começar pela PEC do Teto de Gastos, sem grandes desfigurações. E domar sua própria equipe para aceitar os limites de concessões impostos pelo lado econômico do governo. (A respeito, ver a entrevista de Bolívar Lamounier no “Na Real na TV”).

Temer que conquistou inicialmente a confiança dos meios empresariais e financeiros e de parte da opinião publica, agastados e assustados com os desarranjos econômicos do governo Dilma e ganhou o “benefício da dúvida da interinidade”, agora terá de mostrar ação efetiva. Não tem mais escudos.

Parte desta disposição do governo poderá ser medida amanhã, quando oficialmente ele precisa mandar para o Congresso Nacional a proposta orçamentária de 2017. Pelo que está prometido, o déficit primário deverá cair de previstos R$ 170 bilhões este ano para R$ 139 bilhões no próximo exercício. A questão é saber como esta redução será alcançada, se os números de receitas e despesas são exequíveis, como comenta hoje editorial da “Folha de S. Paulo”.

A respeito dos desafios que esperam o presidente já não mais interino, ler a análise de Francisco Petros “Fecha-se o impeachment e permanecem as crises”, na coluna “Fato Real” neste blog.

Outros destaques dos

jornais do dia

– “Fies deve R$ 792 milhões ao Banco do Brasil e à Caixa” (Valor)

– “Governo Temer pretende criar dois tipos de contrato de trabalho” (Estado)

– “Na Justiça idosos ganham decisões contra planos de saúde” (Folha)

– “Indústria melhora, mas ritmo desacelera” (Folha)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Editorial – “Contas duvidosas” (diz que é essencial que o governo resista à tentação de produzir um Orçamento com projeções fantasiosas para o crescimento da economia e da receita) – Folha

2. Delfim Netto – “Onde estamos e por que estamos?” (diz que embarcamos por caminho errado na economia, temos que pagar as penas e os riscos da escolha, mas não é fim – pode ser a oportunidade de novo recomeço) – Valor

3. José Paulo Kupfer – “Economia pós-impeachment” (diz que há muitas incertezas e que a retomada depende da combinação virtuosa de uma série de fatores econômicos e políticos) – Estado