Domingo no Parque, ontem em Brasília…

Há a ideia de que as manifestações serão relevantes para determinar o futuro de Dilma - mas há algo além que é essencial para a derrubada de Dilma

Francisco Petros

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A mídia, de forma geral, tem enfatizado a ideia de que as manifestações do dia 13/3/2016 serão relevantes para a determinação do futuro político do governo e da presidente Dilma Rousseff. É certo que algum efeito, eventualmente importante, os protestos hão de produzir no andamento do processo de impeachment, mas alguém precisa informar o distinto público que este não é passo, digamos, “essencial”, para a derrubada de Dilma Rousseff. Ao contrário.

O que temos de perceber é que o principal nó do impeachment foi finalmente retirado das cordas que impediam que as marionetes políticas se posicionassem em favor do pleito de retirar a presidente da cadeira na qual já escorrega. Trata-se da aliança do dividido PMDB com as oposições. Michel Temer deve ser reeleito e foi capaz de mostrar às correntes internas do partido que, sem Dilma, o vice-presidente estará com eles. A reunião de ontem à noite no apartamento do Senador tucano Tasso Jereissati, em Brasília, é marco e essência da aliança que mudará a presidência. Mas, o que isso significa, de fato?

O significado desta “união” do PMDB e PSDB em favor do impeachment tem um pressuposto óbvio e uma consequência não tão óbvia. A premissa é que com Dilma há completa ausência de que exista recuperação econômica razoável a curto prazo. (Esqueçam o longo prazo! A coisa está grave é agora!). Logicamente, também as forças da realpolitik dos poderosos que comandam a economia estão agindo com enorme energia para ocupar o Alvorada com outro personagem que não Rousseff. A banca foi a última a mudar de posição. Já mudou, diga-se.

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No que tange à consequência do acordo interno do PMDB e externo com o PSDB, entre Temer, Renan, o pessoal de Eduardo Cunha e os picadinhos de oligarquia espalhados pelo vasto Brasil é que todos sabem que em torno do PSDB (principal parceiro do impeachment, mas não único) se agrupará a mesma maioria que adornou os governos de Lula I e II e Dilma I e 1/2. Ou seja, o loteamento do Poder se fará da mesma forma já feita e, quem sabe, com um pouco mais de cuidado e elegância que a atual presidente que comete gafes políticas a torto e a direito como no caso da nomeação do Ministro da Justiça, cujo nome nem vale a pena citar.

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As manifestações de domingo, portanto, não serão nada demais, senão o mero ato da semifinal do processo de impedimento da presidente. A final já tem um campeão acertado com os políticos de Brasília e o nome dele atende pelo nome de Michel, o discreto.

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Há, ademais, um paradoxo que todos tentam calar. Será que o tão comentado “presidencialismo de coalizão” há de produzir resultados expressivos se considerarmos que teremos na essência “mais do mesmo”. Questão de fundo, como se vê.

A resposta se distribui em dois grandes capítulos. O primeiro é que, sem Dilma Rousseff, a economia ganha tração pelo simples fato de que se substitui a presidente que não consegue operar e não proporciona confiança entre os agentes. Logo, sem ela, o pessoal da realpolitik econômica vai poder embarcar em seus jatinhos e voltar a frequentar o Planalto e fazer planos para um novo período. Haverá confiança inicial não porque Temer seja respeitável constitucionalista, mas porque ele está ali para engendrar o óbvio que é fazer a roda da economia girar. O segundo é que as tais “reformas estruturais” ficam onde sempre ficaram: aparecem, de vez em quando, como coadjuvantes da política econômica e social e voltam para as cadeiras de espera dos gabinetes brasilienses. Todos fingem que as querem, mas ninguém quer os sacrifícios que delas decorrem. As reformas são as amantes irrealizadas da política brasileira: as orgias que produzem são apenas nos sonhos.

Todavia, a depressão econômica é fruto da crise política e os problemas conjunturais brasileiros serão redescobertos e, assim, se verá que eles não são tão grandes: a inflação vai cair porque não temos mais de fazer enormes ajustes tarifários e o dólar vai cair, o problema fiscal está magnificado pela depressão econômica que estamos metidos, os juros poderão cair no médio prazo e o desemprego vai se estabilizar, quiçá, reduzir um pouco. É isso mesmo, o cenário inicial será de euforia.

O que estou a dizer não é que a coisa será resolvida magicamente. O que estou a afirmar é que foi a falta de confiança no pálido futuro que jogou o país numa recessão de quase 4% no passado quando esta poderia ser algo em torno de -0,5% ou 1%! Só isso!

Obviamente, todos os problemas estruturais desta Terra,, estes sim!, precisam de soluções e estas não são exatamente o que o pessoal do mercado e da realpolitik econômica está disposta a enfrentar em Brasília. O Brasil é país de analfabetos, de trens e ônibus atolados, de hospitais indecentes, de favelas imorais, de 50 mil assassinatos por ano e assim vai. Se o PT usou esta realidade para fazer proselitismo e se corromper por meio de arrastões do setor público, isso é outra coisa. Mas, que a agenda real do país é essa, não resta dúvida!

O velho Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896-1957) disse pela boca do Príncipe de Salina, personagem de Il Gattopardo, que “a não ser que nos salvemos, dando-nos as mãos agora, eles nos submeterão à República. Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude”. Aqui ele teria de sentenciar diferente:  “é preciso que nada mude para que tudo pareça que mudou”.