Crescem as pressões para Lula aceitar um ministério de Dilma e ganhar blindagem contra Moro

O ex-presidente anda resiste à oferta, pois que não quer passar a imagem de que tem o que temer, porém, a denúncia contra ele ontem da Promotoria Pública de São Paulo pode quebrar esses pruridos

José Marcio Mendonça

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SÃO PAULO – Só a resistência do ex-presidente Lula, que teme passar a imagem de que está com medo das investigações da Operação Lava-Jato e do processo contra ele em São Paulo e que quer “fugir” do juiz Sérgio Moro, estão impedindo a presidente Dilma Rousseff de nomeá-lo para um ministério, a partir do qual , com foro privilegiado, só poderia ser processado no Supremo Tribunal Federal (STF).

De resto, está tudo arranjado. Dilma já aceitou a proposta nascida dentro do PT, o partido é o maior entusiasta da idéia, aliados de peso como os peemedebistas do Senado que com ele se reuniram ontem em Brasília também, e até o posto já estaria escolhido, o mais talhado para os talentos do ex-presidente: a Secretaria de Governo, responsável pela articulação política.

As razões para a nomeação, para disfarçar o que de fato se trata – blindar o ex-presidente de outros constrangimentos com os de sexta-feira passada ou até de uma ordem de prisão – já estão arranjadas: (1) ajudar Dilma a organizar uma frente sólida contra o impeachment: e (2) reorganizar a base aliada para aprovar medidas para o reaquecimento da economia.

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Há um porém que parece afligir Dilma: o risco de se tornar uma “Rainha da Inglaterra”. Contudo, como sua prioridade agora é segurar-se na cadeira presidencial a qualquer custo, o risco, grandíssimo de fato, está relevado.

As resistências de Lula foram abaladas com a decisão da Promotoria Pública de São Paulo, no início da noite de ontem, de denunciá-lo por “lavagem de dinheiro e falsidade ideológica” por “ocultar” a propriedade do triplex do Guarujá reformado pela OAS. Foram denunciados também, a mulher dele, Marisa Letícia, e o filho Lulinha. Ao todo, no caso envolvendo a Bancoop, foram 16 acusados.

Lula continua se dizendo “perseguido” pela Justiça, porém esta ação do MP paulista é uma fratura na sua fortaleza, avalia-se. A denúncia do promotor ainda precisará ser aceita pelo Tribunal de Justiça e percorrerá um longo caminho até uma decisão final, mas Lula fica mais vulnerável. Por isso, a expectativa é que ele aceite a oferta do ministério, apesar de todos os inconvenientes que ele mesmo vê. Em São Paulo ele deve sofrer também pressões familiares.

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Fim da reforma da Previdência?
Um dos problemas, já destacados no “Primeiras’ de ontem, é que Lula, assim como todo o PT, não concorda com a maior parte das propostas de ajuste econômico da presidente e de seu ministro da Fazenda. É possível fazer os petistas encamparem, por exemplo, a idéia da meta fiscal móvel e da recriação da CPMF, mas não aplaudir o que significa “austeridade fiscal” e as reformas estruturais classificadas como impopulares.

Para ter Lula e o PT engajados de corpo e alma em sua defesa, Dilma certamente terá de pagar algum pedágio. É o caso da reforma da Previdência, que a presidente já admite adiar para tempos menos obscuros politicamente. No almoço que teve com Dilma, Ricardo Berzoini e Jaques Wagner ontem no Palácio do Planalto, o segundo encontro deles em dois dias, Lula voltou a defender a necessidade de uma guinada forte na política econômica.

Pelo menos de um modo, ontem Lula já agiu como articulador político informal de Dilma: no café da manhã que teve com os caciques peemedebistas do Senado, na casa de Renan Calheiros, o ex-presidente cuidou de formar uma barreira para tentar evitar que o partido decida depois de amanhã romper com o governo. À noite, um grupo de peemedebistas jantou com tucanos na casa do senador Tasso Jereissati, no manjado jogo pendular do peemedebismo.

É possível que o rompimento não saia já, pois o PMDB quer auscultar melhor a direção dos ventos – e com a experiência que tem não vai tomar uma decisão tão importante e talvez vital para seus planos futuros às vésperas de uma manifestação popular a favor do impeachment. A tendência do partido do vice Michel Temer é liberar seus votos no Congresso – e esperar para ver como está para definir como fica.

No início da noite o governo colheu um previsível revés no Supremo Tribunal Federal: por 10 votos a 1 (do ministro Marco Aurélio Melo) a corte decidiu que o promotor baiano Wellington César não pode continuar no Ministério da Justiça, a não ser que renuncie ao cargo na promotoria. Um desgaste a mais para Dilma, pois voltarão as pressões de Lula e do PT para que ela coloque no lugar alguém com mais perfil político.

Foi a primeira defesa do governo no STF do novo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, antecessor de Wellington César na Justiça. Cardozo caiu da Justiça em parte por “incompatibilidades” com o PT, que quer alguém mais claramente “amigável” no posto.

Outros destaques dos

jornais do dia

– “Recessão segura preços e inflação cede [de 1,27% para 0,90%]” (Globo/Estado/Folha)

– “Governo abate 40% das dívidas estaduais por apoio à CPMF” (Estado)

– “Mercado de trabalho passa por acomodação, diz FGV” (Estado)

– “País perde divisas, mas dólar cai” (Valor)

– “STJ autoriza indiciamento do governador de Minas” (Globo/Estado/Folha)

– “Relator pede cassação de Delcídio no Conselho de Ética” (Globo)

– “Cunha nega relação com falsificação de assinatura [de um deputado na Comissão de Ética]” (Estado/Globo/Folha)

– STF derruba liminar que eximia teles de cobrança de taxa da Ancine” (Valor)

LEITURAS SUGERIDAS

Tarso Genro – “As cartas e sua mesa” (defende um acordo nacional e diz que cidadãos sensatos preferem uma saída negociada que fortalece a democracia) – Globo

Editorial – “Imposto maior, saída errada” (diz que a solução mais simples pode ser a pior, mas poucas autoridades têm dado atenção a esses detalhes) – Estado

Celso Ming – “Inflação perde fôlego” (diz que o IPCA de fevereiro surpreendeu positivamente, mas que é prematuro essa redução define tendência firme de baixa) – Estado

Jânio de Freitas – “O plano obscuro” (diz que em condições normais haveria uma investigação para saber porque a Polícia Federal levou Lula para depor em Congonhas) – Folha

Vinicius Torres Freire – “O mundo não está contra Dilma” (diz que o mercado pode se animar com chance maior de impeachment, mas que preços seguem tendência mundial) – Folha

Ribamar Oliveira – “Á espera do ajuste fiscal de longo prazo” (diz que o acerto das contas públicas está cada vez mais difícil com a crise política) – Valor