Após Copom, especula-se que diretoria de Tombini esteja com “prazo de validade vencido”

Depois da confusão dos últimos dois dias a opinião generalizada é que o Copom cedeu a pressões políticas, m,esmo tendo justificativas técnicas para não elevar a Selic e por isso o “prazo de validade” da diretoria de Tombini estaria vencido

José Marcio Mendonça

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Depois da polêmica nota do presidente do BC, Alexandre Tombini na terça-feira, na qual ele deu sinais de que o Copom poderia não seguir o que vinha indicando que faria ontem, elevando a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual (pp), de 14,25% para 14,75%, a grande maioria do mercado financeiro e mesmo de analistas independentes, passou (1) a considerar que para não perder de todo a confiança, ele daria mais 0,25 pp na Selic; e (2) de todo modo sairia com a confiança dos agentes econômicos, que vinha tentando recuperar desde o início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, novamente comprometida.

Porém, o Banco Central surpreendeu mais ainda: ao fim de uma reunião muito tensa, muito depois da hora em que costuma anunciar suas decisões em condições normais, ele avisou que decidiu manter intacta a Selic por mais 45 dias, até a próxima reunião em março. Há analistas dizendo que a Selic não sobe mais até o fim do ano.

No breve comunicado, o BC deu ênfase às “incertezas externas” ´para justificar sua decisão. Anote- que dois diretores votaram contra (6 a 2 foi o placar pela manutenção) e que um deles, Toni Volpon, o mais novo da equipe, é o único que não tem origem na burocracia estatal, veio do mercado financeiro. Desde que assumiu, Volpon tem dado algumas declarações dissonantes da linguagem quase coesa da diretoria do BC.

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Esta quarta-feira foi, de fato, outro dia de cão do mercado brasileiro e na economia mundial, o que daria razão à ação preventiva do Copom.. O preço do petróleo no mercado internacional continuou a deslizar ladeira abaixo, sem sinais de quando chegará ao fundo do poço – o que, segundo os especialistas, vai trazer mais pontos negativos que positivos para a economia mundial – Brasil incluso. Por a aqui, o dólar fechou em R$ 4,10, a Bolsa caiu mais de 1% e as ações da Petrobras mais negociadas perderam quase 7%. Retrato, assim, de um desastre que pode até justificar a cautela do Banco Central.

Porém, mesmo assim, a reação dos analistas, quase unânime, mesmo dos que entendiam mesmo antes da confusão toda dos últimos dias, que o BC não deveria subir os juros e sim rebaixá-los, foi de que o Copom, com Alexandre Tombini à frente, literalmente pisou na bola. Nas circunstâncias em que a decisão se deu, com as pressões veladas do governo e abertas do PT e de políticos para o BC ser comedido com os juros para não aprofundar a recessão, ficou a cristalina certeza de Tombini e sua turma foram fracos.

A interpretação corrente é que a credibilidade do BC foi de novo jogada no chão. Para usar uma expressão utilizada pelo ex-presidente Lula a respeito de Joaquim Levy ainda como ministro da Fazenda, e que ajudaram a empurrar o economista para a fora do governo, diz-se que a diretoria de Tombini está com o “prazo de validade vencido”.

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Lula dá prazo a Dilma
O próprio Lula contribuiu para a interpretação de que o BC vacilou. Ontem, pela manhã, o ex-presidente que não falava em público há dias, deu uma coletiva a blogueiros no Instituto Lula, na qual, indiretamente, defendeu mudanças na política econômica, ao dizer que a presidente Dilma precisa apresentar propostas para a retomada do crescimento, até para mostrar que o ministro da Fazenda mudou. Ou seja, de que adianta ter trocado Levy por Nelson Barbosa se a política continua assentada somente na austeridade fiscal. Lula cobrou “logo” medidas de estímulo aos investimentos e estabeleceu um prazo máximo de 20 dias para isso. O ex-presidente afirmou ainda que as medidas precisam ser “críveis”.

O ex-presidente ainda lembrou à pupila Dilma, certamente referindo-se ao PT e seus aliados sindicais e nos movimentos sociais, “que nós temos um lado, embora se governe para todos” e que as decisões do governo devem ser tomadas de maneira centralizada, sem discussões com a sociedade. “O governo precisa fazer as coisas mais combinadas com o nosso povo” – afirmou.

Segundo o repórter Raymundo Costa, do “Valor Econômico”, o discurso de Lula ontem mostra um ensaio do distanciamento que o ex-presidente pode adotar em relação a Dilma e ao governo caso os dois não se recuperem. O olhar e o coração de Lula estão no desempenho do PT nas eleições municipais de outubro e nas suas próprias chances para 2018. Ele não vai mostrar compromisso nem solidariedade com o fracasso.

Exatamente o oposto do que o vice-presidente da República, Michel Temer sugeriu ontem à presidente: falar menos e ouvir mais, inclusive a oposição.

O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, em entrevista na Suíça, deu razão a Lula na questão da política econômica ao dizer aos jornalistas que vai mesmo incentivar o crédito. O ministro procurou espargir otimismo, afirmando ainda que os números do FMI que tanto assustaram o BC são só projeções. O ministro disse que pode haver uma retomada no crescimento da economia brasileira ainda no segundo semestre de 2016. Barbosa renovou também sua aposta na CPMF. O mercado financeiro (vide declarações do presidente do Bradesco, Luiz Trabuco anteontem) diz que não há demanda por crédito.

A respeito do encontro entre a presidente e seu vice, armado para apagar o mal estar vigente entre os dois, todos os relatos indicam que foi meramente protocolar, puramente institucional. Dilma e Temer conversaram por mais de uma hora, mas apenas 15 minutos a sós, o restante foi acompanhado pelos ministros Jaques Wagner e Ricardo Berzoini. O resumo; Dilma e Temer acertaram uma convivência de ocasião, por interesses mútuos de sobrevivência, que será infinito até que os interesses divergentes entre os dois venham a se tornar inevitáveis. Os caminhos políticos dois correm paralelos e não se encontram nem no eternidade.

Outros destaques dos

jornais do dia

– “Justiça autoriza depoimento de Dilma [como testemunha] sobre compra de MPs” (Estado)

– “Presidente da Samarco é afastado” (Globo/Estado)

– “OAS acionou filho de ministro do TCU para tentar influenciar julgamento sobre aeroportos” (Globo)

– “Juiz abre ação por desvios [na Petrobras] desde governo FHC” (Estado)

– “TCU dá cinco dias ao governo para mostrar acordo com a Engervix” (Folha)

– “Investidores tiram US$ 735 bilhões dos mercados emergentes em 2015” (Folha)

– “Mão de obra estrangeira no Brasil cresce 26%” (Valor)

– “Fechamento de empresas [no Brasil] é o maior em dez anos” (Valor)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Celso Ming – “Os juros ficam onde estão” (diz que a atuação errática do BC reforçou as dúvidas sobre sua capacidade de conter a inflação e isso pode aumentar a incerteza sobre a política econômica) – Estado

2. José Paulo Kupfer – “Virada surpreendente” (a surpresa desta quarta-feira reforçou a impressão de que o BC cedeu a pressões do governo, jogando para baixo o crédito da instituição) – Estado

3. Miriam Leitão – “BC se enfraquece” (diz que BC ficou com o ônus fr parecer sem rumo, hesitante e sem autonomia nos juros) – Globo

4. Vinicius Torres Freire – “Crise lá, crise cá e os juros do BC” (gente graúda do mercado começa a comparar tumulto de agora a crises ruins do século) – Folha

5. Ribamar Oliveira – “Receita menor ameaça meta fiscal” (diz que retração de 3,5% obrigará a revisão de todas as projeções e que o governo terá de fazer um contingenciamento de R$ 100 bi para cumprir o superávit deste ano) – Valor