Petrobras corta R$ 32 bi de investimentos e põe à venda sua parte na Braskem

O corte corresponde a menos 24% do previsto anteriormente a ser investido pela companhia no período 2015-2019. Mesmo com a redução, há dúvidas entre os analistas sobre a viabilidade do plano.

José Marcio Mendonça

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A crise definitivamente bateu às portas da Petrobras: a crise internacional de petróleo, a crise econômica brasileira e a crise interna na empresa provocada pelos efeitos da corrupção de na estatal reveladas na Operação Lava-Jato expuseram a dramática situação da estatal.

Menos de um ano depois de ter trocado toda a diretoria da empresa, a começar pelo presidente, indicando o ex-Banco do Brasil Aldemir Bendine para a presidência, e reformulado todo o Conselho de Administração, com membros mais independentes de Brasília, a Petrobras teve finalmente de admitir o que vinha tentando disfarçar: que sua situação é gravíssima e exige um tratamento de choque.

Anteontem, segunda-feira, Bendine, que chegou a ter atritos com o primeiro indicado por Dilma para o Conselho de Administração reformulado, o presidente também da Vale, Murilo Ferreira, levando a seu afastamento do CA, soltou uma inusitada nota aos funcionários instando-os a trabalhar mais para colocar a estatal nos trilhos. Preparava o terreno.

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A gestão Bendine chegou a ser aplaudida como tendo resolvido, dentro das circunstâncias possíveis, a questão dos balanços da empresa, cuja publicação chegou a ser suspensa no ano passado por determinação da auditoria independente, por divergências na forma de contabilizar as perdas com o petrolão.

A nota de Bendine anteontem antecipava as notícias de ontem: com a produção em queda, o caixa abaixo da crítica, o preço do petróleo caindo no mercado internacional (nesta terça-feira aproximou-se do piso de US$ 30 o barril, menor valor desde de 2003), a empresa anunciou um corte de US$ 32 bilhões em seus investimentos para o período 2015-2019, valor 24% menor que o plano anteriormente já revisado. Imediatamente, as ações mais negociadas da empresa na bolsa caíram quase 10%.

As providências de reformulação serão mais drásticas, com a ampliação do plano de desinvestimentos para fazer caixa. Segundo a “Folha de S. Paulo”, a diretoria resolveu se desfazer dos 36% de participação na Braskem, gigante nacional da petroquímica, na qual é sócia da Odebrecht e do BNDES. A participação da Petrobras na companhia está avaliada em R$ 5,8 bi. A venda de parte da BR Distribuidora, um dos pontos da discórdia entre Bendini e Murilo Ferreira, está emperrada. O plano prevê a arrecadação de US$ 14,4 bi com a venda de ativos. Foi recebido com muito ceticismo, como praticamente inviável por analistas indepedendentes.

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Paz no PMDB?

Na seara política, o jogo se desenvolve nos bastidores: tudo indica que está sendo acertada uma convivência pacífica entre o PMDB (entre todas as alas do partido, inclusive os grupos de Michel Temer e Eduardo Cunha, exceção apenas para um pequeno grupo de rebeldes), e o governo.

Para efeito externo, o grupo dissidente da Câmara lançaria um candidato à liderança, para concorrer pró-forma com o atual líder, Leonardo Picianni (RJ), porém Picianni seria reconduzido à liderança como quer o Palácio do Planalto, os dissidentes mineiros seriam recompensados com o Ministério da Aviação Civil para o deputado Mauro Lopes e os governistas desistiriam de lançar um candidato à presidente nacional da legenda contra Michel Temer.

Com isso, o governo respiraria mais aliviado para enfrentar a questão do impeachment depois do Carnaval. O jornal “O Estado de S. Paulo”, porém, traz uma informação nova que pode complicar este quadro. De acordo com a reportagem, o ex-diretor da Petrobrás, Nestor Cerveró, teria declarado no dia 7 de dezembro à Procuradoria-Geral da República, ter ouvido do senador Fernando Collor que ele negociou diretamente com a presidente Dilma Rousseff  a indicação para cargos de chefia na BR Distribuidora. “O Globo” traz também a mesma informação.

Só não está claro ainda o que será feito de Eduardo Cunha, cuja cassação pode ser definida concomitantemente ao impeachment de Dilma. As especulações são de que o deputado fluminense ganharia uma sobrevida, perdendo a presidência da Câmara, mas mantendo o mandato de deputado, que é o seu real objetivo hoje para fugir das garras do juiz Sérgio Moro e dos promotores da Lava-Jato em Curitiba. Ele quer a garantia do foro privilegiado do STF.

Outros destaques dos

jornais do dia

– “Último discurso mostra Obama ativo em seu ato final” (Globo)

– “Justiça condena ex-diretor da Petrobras a 4 anos de prisão” (Globo)

– “PM usa bombas para reprimir atos contra aumento de ônibus em São Paulo” (Globo/Estado)

– “Lula loteou BR Distribuidora entre Collor e o PT, diz Janot” (Folha)

– “Correção do IR não é prioridade na Fazenda” (Estado)

– “Nova fase do Minha Casa inicia sem os mais pobres” (Estado)

– “Aquisições de estrangeiros superam operações locais” (Valor)

– “PT perde para o PMDB posto de maior bancada na Câmara” (Valor)

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LEITURAS SUGERIDAS

  1. Editorial – “Acerto geral” (diz que com mais delações, cresce a cada dia o número de envolvidos no escândalo da Petrobras, comprometendo quase todo o sistema político) – Folha
  2. Delfim Neto – “Acomodação” (defende a reforma trabalhista com a livre negociação entre patrões e empregadas defendida pelo governo) – Folha 
  3. Elio Gaspari – “Os mascarados estão soltos” (diz que Marcelo Odebrecht está preso mas os desordeiros que barbarizam São Paulo foram libertados) – Folha/Globo 
  4. Vinicius Torres Freire – “Gerentona diferentona” (diz que Petrobras e setor de petróleo precisam de reforma urgente, que os livrem das algemas dos anos Dilma) – Folha
  1. Celso Ming – “Plano carunchado” (diz que os números do novo plano de negócios da Petrobrás não passam confiança e deixam a idéia de que há enrolação) – Estado
  1. Editorial – “Consertando a Petrobras” (diz que a empresa continua a encolher enquanto se recupera dos danos sofridos em anos de pilhagem) – Estadão
  1. Editorial – “Operação de salvamento das empreiteiras da Lava-Jato” (diz que chamada de presente de Natal, a MP 703 permite acordo de leniência com empresas sem que elas sejam obrigadas a fazer revelações) – Globo
  1. César Romero – “Descompasso entre arrecadação e atividade” (diz que estudo mostra que correlação entre PIB e receita ficou negativa; o risco e o ajuste das contas voltar a ser feito pela expansão insustentável da dívida pública e/ou inflação) – Valor