Contrariando PT, Dilma dá aval para reforma da Previdência com idade mínima para aposentadoria

Dilma negou ainda que tenha discutido com o PT uma “guinada à esquerda” e manteve a defesa do ajuste fiscal. O plano inicial do governo é estancar o ritmo de queda da economia

José Marcio Mendonça

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A tradicional entrevista coletiva da presidente Dilma Rousseff no início do ano, ontem, sem dúvida marcou o aval presidencial à política econômica defendida pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, com o apoio enfático à reforma da Previdência com a criação da uma idade mínima para a aposentadoria e a manutenção das linhas básicas do ajuste fiscal, contrariando o que o ex-presidente Lula e o PT vêm defendendo.

Sem se desculpar diretamente, a presidente admitiu erros na condução da política econômica em 2014 ao não “perceber” o tamanho da crise que já se desenhava no horizonte. Dilma defendeu também a aprovação da CPMF como o único caminho para melhorar a saúde pública agora. A presidente foi explícita ainda ao dizer que nunca discutiu com o PT “uma guinada à esquerda”.

Ou seja, defendeu o que Joaquim Levy já vinha tentando fazer e Nelson Barbosa, com diferenças de nuance, se propôs perseguir também o equilíbrio das contas públicas antes de pensar em retomar o crescimento com vigor. Dilma foi clara que o superávit fiscal do ano será mesmo 0,5% do PIB.

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A reação de desconforto do PT foi imediata. A presidente deu apenas um sinal que pode ter agradado aos petistas: admitiu que a meta de inflação a ser perseguida pelo Banco Central este ano deve ser o teto superior de 6,5%, o que, em tese, permitirá que o Copom não eleve a taxa de juros em sua próxima reunião de 19 e 20 de janeiro, como vinha sinalizando que o faria. Para o PT, o aumento dos juros será um desastre nas atuais circunstâncias, pois ampliaria a recessão e o desemprego.

A presidente não deu indicações do que pode estar preparando para a retomada o mais rapidamente possível da atividade econômica – tese defendida imediatamente pelo PT e por Lula, envolvendo facilitação do crédito, incentivo ao consumo…

Dilma, porém, terá de ir para a ação no corpo a corpo no Congresso e com os partidos aliados se quiser que suas propostas avancem. O deputado Paulo Teixeira, do PT de São Paulo, já ontem mesmo lembrava que as mudanças na Previdência para terem alguma possibilidade de aprovação precisam ser “pactuadas” com as centrais sindicais. O ano eleitoral torna alterações tidas como “impopulares” mais complicadas ainda. A batalha é considerada inoportuna politicamente, desgastante e fadada ao fracasso.

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As redes sociais, tão logo encerrada a entrevista, ferveram de indignação. João Pedro Stedile, dos sem terra, prometeu ações de rua se as mudanças previdenciárias prejudicarem os trabalhadores rurais. Guilherme Boulos, dos sem teto, ameaçou com um “levante popular” contra o governo.

Quanto à criação do imposto do cheque, que a presidente classificou como uma “questão de saúde pública”, ela encontra fortes resistências no meio empresarial e em parte da população mais bem informada – portanto, vai esbarrar no mesmo temor de votar medidas “impopulares” em ano de eleições. O PT preferia que o governo apostasse mais em impostos mais “politicamente corretos”, como o sobre grandes fortunas e sobre heranças.

Um das frases dita pela presidente está sendo interpretada por alguns analistas como um sinal de que ela está querendo se afastar das alas mais descontentes do PT, aquelas que estão pressionando por mudanças na política econômica: “Eu acho muito bom que o PT tenha suas posições. Agora, o governo não responde só ao PT, só ao PMDB, só a qualquer um dos partidos da base aliada. Responde a todos, mas também responde à sociedade, às necessidades da sociedade”.

Não é um rompimento com o PT, como defende de modo radical o ex-ministro e ex-governador, de opiniões radicais, Cid Gomes. Porém, é sinal de afastamento do petismo, o que poderia facilitar alguma aproximação maior com o PMDB de Michel Temer e com alas da oposição, uma conciliação que Jaques Wagner tenta acertar.

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Outros destaques dos

jornais do dia

– “Indústria caiu 2,8% e tem pior novembro desde 2008” (Globo/Estado/Valor)

– “Prestação básica do Minha Casa deve triplicar” (Globo)

– “Delegados dizem que há desmonte da PF” (Globo)

– “Janot prepara novos inquéritos; Wagner pode ser investigado” (Estado)

– “Poupança cai pela primeira vez em 20 anos” (Estado)

– “Banco Votorantim compra ativos da PDG em operação da R$ 1,6 bilhão” (Estado)

– “Petrobras vai acelerar venda de ativos para reforçar caixa” (Valor)

 LEITURAS SUGERIDAS

  1. Editorial – “China expõe fragilidade da indústria brasileira” (diz que desaceleração chinesa subtrai bilhões das exportações brasileiras e país não consegue compensar as perdas com exportação de manufaturados) – Globo
  2. Editorial – “Depois do jantar” (diz que Dilma está no fundo o poço da popularidade, mas que Lula tem tudo a perder com a persistência da crise) – Estado
  3. Claudia Safatle – “Guinada silenciosa” (diz que intenção do governo é fazer a economia parar da cair para em um segundo momento fazê-la voltar a crescer. Nada será feito da forma escancarada nem o governo fará gestos tresloucados) – Valor