Para Henrique Meirelles, com carinho

Há muitos senões, mas o ex-presidente do BC pode ganhar o Ministério da Fazenda. Não terá vida fácil porém, nem para subir nem para ficar depois

José Marcio Mendonça

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Diante da algaravia formada em torno da troca da possível troca do ministro da Fazenda, vale parafrasear o parceiro de blog Francisco Petros, no excelente comentário em “Fato Real” anteontem, para Henrique Meirelles, com carinho.

As pressões para que Joaquim Levy deixar o Ministério da Fazenda crescem exponencialmente dia a dia, como têm registrado os jornais e repercutido este blog no “Primeiras Leituras”. Com o patrocínio do ex-presidente Luis Ignácio Lula da Silva, o bate bumbo do PT e o beneplácito (e agora, com exceções) torcida e aplausos do que se alcunhava em tempos idos e vividos de “as classes produtoras”.

É possível que Joaquim Levy venha a ser expelido da Esplanada dos Ministérios num tempo entre a aprovação de algumas medidas do “seu ajuste” – um acerto que cambeta nos Orçamentos de 2015 e 2016, a prorrogação da DRU (Desvinculação das Receitas da União) e projeto de regularização de capitais brasileiros irregulares mantidos lá fora.

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Ficaria aberto o espaço para o novo ministro “adentrar ao gramado” sem o ônus de ter sido o patrocinadores das maldades econômicas que qualquer ajuste fiscal mais ou menos sério traz. Levy ficaria como bode expiatório não só das maldades como de tudo que de ruim que está aí e que ainda se projetará para 2016.

É possível que ocorra mesmo, porque o patrocinador da troca é Lula e ele, apesar das últimas vicissitudes que vem enfrentando, ainda tem o poder – como um “Greisco” tupiniquim. E também porque Levy não se ajude, com as trombadas com o mundo político que patrocina, com sua falta de tino nesse mister.

O avanço de Meirelles tem seus obstáculos, o primeiro é a cartilha pela qual ele reza, em diversos campos, bem diferente que reza a presidente Dilma. Os dois não frequentam confortavelmente as mesmas paróquias, as mesmas missas nem as mesmas procissões. Este é só o primeiro senão.

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Ademais, Meirelles, cujo sonhos políticos chegam ao infinito, não topará uma empreitada dessas se não tiver um mínimo de segurança, sua proverbial vaidade, de que dará conta de tirar a economia brasileira do buraco. Ou pelo menos reverter o quadro de apreensão de desconfiança atual em prazo relativamente curto. É isso que espera dele o padrinho Lula – ambos com olhos voltados para 2018.

Nessas condições ele quer, já está público, carta branca. Nada menos do que escolher o ministro do Planejamento, o presidente do Banco Central (obviamente toda a diretoria da instituição), orientar a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil e ter a garantia de que pode chamar de “sua” a política econômica que virá. No desespero, Dilma pode ceder. Porém, estará abdicando do pouco poder que ainda não terceirizou para Lula e o PMDB.

Os olhos de Meirelles postos em direção ao Palácio do Planalto, sabidamente seu plano de voo quando deixou a direção do Bank Boston para se aventurar na política em Goiás, põe à sua frente, um obstáculo pesado chamado PMDB. Que ele aliás enfrentou e foi por ele batido quando não conseguiu, nem com a força do “greiscow tupiniquim” a vaga de candidato a vice-presidente da chapa de Dilma Rousseff.

Os profissionais do PMDB, que também depois de muitos anos também resolveram mirar o Planalto e deixar a condição de meros coadjuvantes do poder já sentiram também que o missal de Meirelles não é o mesmo deles.

E já começaram a pular miudinho, como se pode ver pela declaração de ontem, quarta-feira, do líder do partido no Senado, Eunício de Oliveria, da copa e cozinha do vice Michel Temer. Segundo Eunício, trocar Levy por Meirelles é trocar seis por meia dúzia, até porque, diz ele, os dois “são tucanos”. O PMDB quer a primazia da nova política econômica e até já tem um “programa de governo” emergencial, a ser aprovado no congresso partidário de terça-feira.

Esse problema que aflige o PMDB é o dilema que Lula vai enfrentar lá na frente. Agora Meirelles é aposta de salvação. Mais na frente, os santos dos dois certamente vão se estranhar e se divorciar poque o no universo imaginado pelos dois para 2018 só cabe um. E Meirelles joga para ser o “Fernando Henrique da Dilma”, numa alusão ao fato do ex-presidente ter construído sua candidatura com o sucesso alcançado no combate à inflação.

Por tudo isso, Meirelles pode substituir Levy. Mas não terá nunca certeza de que ficará no Ministério da Fazenda o tempo que julgar necessário. Esse tempo ainda é Dilma, do PMDB e de Lula, principalmente estes dois últimos.