Dilma adia reforma ministerial por causa do PMDB. Mas PT também está um problema

Para contentar os peemedebistas a presidente precisará elevar a cota reservada ao partido de seis para sete ministérios. Terá ainda de contentar o PT, agastado com a perda da Saúde, com a diminuição de seu espaço e com a permanência de Mercadante, Cardozo e Levy em Brasília

José Marcio Mendonça

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A presidente da República embarcou para os Estados Unidos sem completar e anunciar a reforma ministerial que, inicialmente, estaria pronta anteontem. O problema, alegado pelo Palácio do Planalto, foi a falta de um acordo com o PMDB em torno das pastas que o partido receberá e quem deverá ocupá-las. Mas não foi só isto – o PT também está criando dificuldades para a Dilma Rousseff. A reforma ficou para terça-feira, em tese.

No primeiro momento, Dilma pretendia entregar aos peemedebistas apenas cinco ministérios, menos do que eles têm hoje, mas com a vantagem de levarem o cobiçado Ministério da Saúde e seus mais de R$ 100 bi de Orçamento. A composição, contudo não privilegiava o vice-presidente Michel Temer e, alertada por Lula, ela aumento a cota para seis pastas, desistindo de fundir a Aviação Civil com os Portos e segurando o deputado Eliseu Padilha na equipe.

O número subiu para seis. Porém, foi então a vez da grita dos deputados, cujo líder na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), havia recebido de Dilma a promessa de que a bancada indicaria dois deputados. E eles não consideram Padilha da cota deles. Para contentar todas as alas peemedebistas e seus caciques serão necessários pelos menos sete pastas e olhe lá se não mais.

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Mas isso complica enormemente o acerto com os outros partidos aliados e o cumprimento da meta de enxugar a Esplanada dos Ministérios de pelo menos dez inquilinos.

Assim mesmo, não há garantia de que essas pastas assegure a fidelidade irrestrita dos peemedebistas à presidente. Com a rude sinceridade que costuma exibir, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ao mesmo tempo adversário confesso da presidente e candidato a indicar o futuro ministro da Saúde, disse ontem que simplesmente dar pastas à sigla não vai adiantar.

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Temer: “assumir e corrigir erros”

O PMDB está cada vez mais com os pés fincados em duas canoas – a governista e a oposicionista. Segundo relatos dos jornais, Dilma pediu auxílio novamente a Temer para conjurar as insatisfações dos deputados peemedebistas e o vice disse que não tinha condições para isto.

E mais: o programa eleitoral de dez minutos que o PMDB levou ao ar ontem à noite em cadeia obrigatória de rádio e televisão, teve um viés crítico à presidente e ao governo, com um ranço oposicionista claro. “O Brasil não pode viver de promessas”, disse a apresentadora em um momento. E “um Brasil que se dizia tão gentil com seus filhos, de repente, resolve cobrar a conta. Isso dói” em outro.

O programa foi intitulado “É hora de reunificar os sonhos”. E explorou a polêmica declaração de Temer há pouco mais de um mês de que o país precisa de “alguém” para liderar a saída da crise em que se encontra, e que gerou atritos do vice com a presidente e levou à saída dele da coordenação política oficial. Ontem, Temer disse que “é necessário assumir e corrigir erros”.

Contudo, se o PMDB cria de modo aberto problemas para Dilma na reforma, o PT purga suas insatisfações mais reservadamente, embora os aborrecimentos petistas também sejam enormes. O líder do partido na Câmara, por exemplo, o deputado Sibá Machado, teve uma conversa com o presidente Eduardo Cunha, e depois uma reunião com os líderes de outros partidos aliados, cujo tema foi defender um movimento conjunto para defender mudanças na política econômica e a saída dos ministros Aloizio Mercadante, José Eduardo Cardozo e Joaquim Levy.

Vazada a informação, fontes petistas não reveladas disseram que Sibá, por causa disso, pode até ser afastado da liderança. Pode ser. Porém, o deputado (que já foi senador, suplente de Marina Silva), tem voo curto e, de acordo com outros parlamentares, não tomaria um caminho desses por livre e espontânea iniciativa. É extremamente obediente.

Além do mais, expoentes da corrente majoritária no partido, Construindo um novo Brasil (CNB), têm manifestado reservadamente sua insatisfação com a reforma (sem falar com o ajuste). Não estão aplaudindo nem a perda do Ministério da Saúde nem a permanência de Mercadante e Cardozo na Esplanada. Lula é que tem segurado a explosão.

Um outro destaque nos jornais de hoje, além das questões da reforma ministerial e da volatilidade do câmbio ontem, é a entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à “Folha”. FHC faz críticas à presidente pelo modo que está conduzindo a troca de ministros e fechamentos de pastas – “está vendendo a alma ao diabo para salvar seu governo”. Porém, não fica apenas no ato de jogar pedras.

Faz também uma sugestão concreta de possível saída para Dilma. Segundo ele, a presidente deveria convocar os adversários para debater um pacto em torno das reformas necessárias e oferecer sua renúncia antes do fim do mandato como garantia de que se empenhará para aprová-las. Segundo o ex-presidente, a crise só será superada quando as forças políticas encontrarem um meio de conter a expansão dos gastos públicos e reformar o sistema político.

Outros destaques dos

jornais do dia

– “Levy diz que país pode usar reservas para segurar dólar” (Globo)

– “Tombini esfria a temperatura do mercado de juros e câmbio” (Valor)

– “CMN sobe juros de longo prazo de 6,5% para 7%” (Globo/Valor)

– “Presidente do Fed espera alta de juros dos EUA este ano” (Globo/Valor)

– “Energia terá alta adicional de 8% em 2016” (Globo)

– “Desemprego sobre para 7,6%” (Globo/Estadão/Folha/Valor)

LEITURAS SUGERIDAS

  1. Rogério Furquim Werneck – “Dilma, devastação fiscal e derrama” (diz que a presidente não tem mais credibilidade para pedir que o país lhe conceda um novo imposto) – Globo/Estadão 
  2. José Paulo Kupfer – “Câmbio político” (diz que não há sinais de fuga de capitais mais que as turbulências no câmbio só vão cessar quando Dilma sair ou quando ficar claro que ela fica) – Globo 
  3. Editorial – “Uma decisão a ser respeitada” (diz que a posição do STF sobre fatiamento da Lava-Jato é legítima e tecnicamente defensável) – Estadão 
  4. Editorial – “Empregos piores” (diz que recessão derruba tanto o número de vagas quanto o poder de compra dos ocupados) – Folha 
  5. Claudia Safatle – “O que está em jogo” (diz que a falta de convicção de Dilma pode levar o país a enfrentar uma taxa de câmbio pior, ter mais inflação, mais juros, mais recessão, congelamento de crédito e taxa de desemprego de 10% a 12% no inicio de 2016) – Valor