Operação “resgata Levy” reverte tensão, mas Temer acende instabilidade

À tarde, diante da boataria de saída do ministro da Fazenda, a presidente desencadeou uma “operação resgata Levy” e conseguiu reverter um quadro de grande tensão na política e na economia. À noite, em São Paulo, Temer acendeu de novo o rastilho da instabilidade política.

José Marcio Mendonça

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A impressão que se teve à tarde ontem, depois que a presidente Dilma Rousseff reuniu no Palácio do Planalto os ministros Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Aloizio Mercadante, é que o governo tinha conseguido reverter a intensa boataria que dava conta, até no Exterior, da iminente saída do ministro da Fazenda do cargo. Tanto que o dólar, primeiro ente mais nervoso em momentos de crise econômica aguda, depois de ultrapassar a barreira dos R$ 3,80 passou a cair e fechou estável.

Levy, pelas informações disponíveis, embora tenha saído silencioso do encontro e retomado sua agenda de viagem para a reunião do G-20 na Turquia, teria conseguido unificar o discurso oficial em defesa de sua posição de perseguir o superávit primário de 0,7% do PIB no ano que vem ao invés de se conformar com o déficit de 0,5% proposto no Orçamento enviado ao Congresso no inicio da semana. A ordem de Dilma foi para que todos os ministros passem agora a defender o superávit primário. Nelson Barbosa ontem mesmo entrou na linha.

O acerto das contas como Levy defende virá principalmente com mais arrecadação. Em entrevista ao blog de Cristiana Lobo no portal G1, Mercadante disse que “de imposto ninguém gosta, mas ele é necessário”.

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Aliás, Mercadante, um dos que confrontavam diretamente a política fiscal de Levy foi o porta-voz da notícia da permanência de Levy no governo. O ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, também deu entrevista defendendo Levy. Sabe-se que Dilma foi instada por diversos empresários a dar este aval ao ministro.

Como registrado ontem neste espaço, a declaração que ela deu anteontem dizendo que o ministro da Fazenda não estava desprestigiado ocorreu depois de um encontro reservado com o presidente do Bradesco, Luis Trabuco. Informa o “Valor Econômico” que um movimento articulado por Trabuco, o presidente do Itaú, Roberto Setúbal e outros empresários de peso alertou a presidente para o desastre que seria a demissão de Levy.

Mais conselhos de Lula para Dilma
Porém, o clima voltou a se agitar mais para o fim da noite quando vazou, em gravação clandestina, um trecho da palestra do vice-presidente Michel Temer para um grupo de empresários e pessoas da sociedade paulista. A certa altura da conversa, Temer disse que acha muito difícil a presidente ficar no governo mais três anos e meio se a popularidade dela continuar em 7%, 8%. O jantar foi organizado pela socialite-empresária Rosângela Lira e o ambiente era majoritariamente de oposição ao governo. O grupo é pró-impeachment.

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Embora tenha feito a ressalva de que não moverá uma palha para assumir a presidência, tenha inclusive se irritado com perguntas sobre sua lealdade, e tenha ressaltado também que acredita que com a recuperação da economia a avaliação da presidente naturalmente crescerá, a declaração de Temer, posta no ar, acendeu outra vez o rastilho de pólvora da crise que Dilma parecia ter contornado.

Uma das preocupações da presidente é com o PMDB, não só porque o partido dá sinais de que está se afastando lenta e gradualmente do Palácio do Planalto, como já está criticando sem muitos disfarces a política fiscal que o ministro Levy quer levar adiante a ferro e fogo.

Há uma data no calendário peemedebista na qual todos estão de olho: 15 de novembro. É quando o partido realizará um Congresso Nacional no qual todas as roupas sujas internas devem ser lavadas. O grupo oposicionista da legenda pretende aproveitar a ocasião para propor a saída oficial da base governista.

A mesma preocupação em relação a Levy, Dilma está tendo com o PT, que também parece fugir de seu controle. O partido participa desde hoje de um evento de partidos de esquerda em grupos sociais em Belo Horizonte no qual uma das tônicas será a defesa de um cavalo de pau na política econômica do segundo mandato da presidente. Para segurar o PT, ela precisa se socorrer com Lula. Ontem, fora da agenda, ela e o ex-presidente tiveram um encontro à noite no Palácio da Alvorada.

Contudo, o próprio ex-presidente, em conversas reservadas, não tem escondido sua insatisfação com os rumos da economia. Segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, Lula teria sugerido à presidente fazer o que se poderia chamar de “a quadratura do círculo”: blindar o ministro da Fazenda e ao mesmo tempo afrouxar o ajuste fiscal. É sabido que a insatisfação de Levy, que já era antiga, cresceu esta semana quando ele perdeu a batalha do superávit primário.

Lula sugeriu ainda a Dilma reaproximar-se de Temer e do PMDB. Depois do que disse o vice ontem à noite em São Paulo, o mais provável é que o clima entre a presidente de seu vice volte sim é a congelar.

Não bastasse tanta confusão, o Supremo Tribunal Federal depositou mais uma nova noticia ruim no colo do Palácio do Planalto: admitiu que o presidente Eduardo Cunha pode colocar para votação na Câmara, isoladamente, as contas da presidente Dilma Rousseff de 2014. O governo pretendia que a votação fosse conjunta, Câmara e Senado, pois conta com Renan Calheiros e os senadores para barrarem os arroubos oposicionistas de Cunha.

Outros destaques dos

jornais do dia

– “PF indicia ex-líder do governo por corrupção e lavagem de dinheiro” (Globo)

– “Dono da UTC diz que depositou propina da Petrobras para o PT” (Globo)

– “Crise já levou 766 empresas a pedirem recuperação judicial” (Globo)

– “Câmara aprova aumento de impostos dos bancos” (Globo)

– “Petrobras corta festa e viagem para economizar U$ 12 bi até 2019” (Estadão)

– “Banco Central Europeu pode elevar estímulos à economia” (Estadão)

– “Bolsa em dólares tem o menor preço desde 2005” (Folha)

– “Mais categorias aceitam parcelar reajuste” (Folha)

– “Dilma corta metade das vagas do Pronatec” (Folha)

– “PF inicia nova fase de investigação sobre fraudes no Carf” (Valor)

– “STF permite votação isolada de 2014” (Valor)

– “Disparada dos juros leva Tesouro a cancelar leilão de títulos” (Valor)

LEITURAS SUGERIDAS

  1. Editorial – “Um estranho no ninho” (diz que a Joaquim Levy resta o papel de fiador de um ajuste fiscal que ele não consegue implementar) – Estadão
  2. Celso Ming – “Mais um dia de fico” (diz que Dilma para convencer os brasileiros de que está com a política de austeridade fiscal precisa de mais do que declarações de apoio ao ministro da Fazenda) – Estadão
  3. Laura Carvalho – “Yes, we can!”(diz que governo devia se endividar para salvar empregos e superar crise) – Folha
  4. Vinicius Torres Freire – “Fica, Levy, vai ter bolo” (diz que Dilma apaga incêndio na copa, mas cozinha do governo ainda queima e falta arrumar R$ 60 bilhões) – Folha
  5. José Paulo Kupfer – “Emaranhado de problemas” (diz que política monetária perde margem de manobra e política fiscal terá de reassumir o comando) – Globo