A artilharia de Eduardo Cunha na guerra contra a presidente Dilma Rousseff

Ao contrário do que se apregoava, ele arma suas bombas: vai apressar a votação das contas de Dilma, vai votar aumento dos servidores públicos, e articula com a oposição apressar o impeachment. A presidente conta com antídoto Renan Calheiros no Senado. Mas...

José Marcio Mendonça

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No primeiro dia de efetivo funcionamento da Câmara e do Senado, depois do recesso branco de duas semanas, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, começou a exibir suas armas na guerra que declarou à presidente Dilma Rousseff depois da divulgação de que na delação premiada o lobista de empreiteiras Júlio Camargo, havia confirmado que ele, Cunha, pedira da turma dos negócios escusos da Petrobras uma propina de US$ 5 milhões.

O presidente da Câmara demonstrou que, apesar de ter amainado sua fúria inicial contra o governo (ele acha que é o Palácio que alimenta as informações do envolvimento dele no petrolão para desgastá-lo e a seu partido) e dos apelos de líderes do PMDB, a começar pelo vice-presidente Michel Temer, não está disposto a ceder. E que não está na Câmara tão isolado como pareceu e divulgou-se em sites e jornais, após seu rompimento com Dilma.

Cunha que conhece o regimento da casa que dirige como ninguém, que conhece os humores dos companheiros menos aquinhoados com os afagos governistas e dos lideres partidários, mostrou que tem armas para infernizar Dilma. Ontem, ele montou duas manobras muito bem-sucedidas e ainda ensaiou novas “pegadinhas”.

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1. Conseguiu aprovar na Câmara pedido de urgência para votação das contas ainda não votadas, com pareceres do Tribunal de Contas da União (TCU), dos ex-presidentes Fernando Collor de Mello, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula da Silva.

Com isso, ele limpa a pauta para botar em votação também, o mais rapidamente possível,as contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff, ainda em análise pelo TCU e que podem chegar ao Congresso com um parecer pela rejeição. Cunha tira dos governistas o argumento de que a contabilidade de Dilma não pode entrar na pauta na frente de outras, alegação que eles tentariam usar no Congresso e, em última instância, no STF.

2. Cunha não atendeu ao pedido dos lideres da base aliada para adiar a votação do projeto que eleva os salários dos servidores da Advocacia-Geral da União e das procuradorias federais, nos mesmos moldes do recém-aprovado reajuste médio de quase 80% para os funcionários da Justiça, vetado por Dilma.

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É outro rombo potencial que se abriria nas delicadas contas federais, forçando a mais um veto politicamente desgastante para a presidente. É uma proposta de emenda constitucional que pode começar a ser votada hoje.

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Renan, o aliado?

Também na linha de provocar ruídos e situações embaraçosas para o governo, num jantar realizado na residência oficial da Câmara, com fieis aliados e alguns oposicionistas, Cunha decidiu, de comum acordo com eles, excluir o PT, o partido de Dilma, do comando das CPI’s que ele vai instalar contra a vontade do Palácio do Planalto – a dos Fundos de Pensão e a do BNDES. O Palácio do Planalto praticamente ficará sem influência nessas investigações, as duas tidas, também, como de alto teor explosivo. O PT ficará fora também da CPI dos Crimes Cibernéticos.

Informa ainda o jornal “O Estado de S. Paulo” em manchete que o presidente da Câmara está tentando armar uma articulação com a oposição para acelerar o impeachment da presidente. A manobra é tema também de reportagem no site em português do diário espanhol “El Pais” e da “Folha de S. Paulo”. Segundo o “Estadão”, o PSDB, pelo menos publicamente, quer manter discreta distância dessas manobras de Cunha.

Na outra ponta do Congresso, o Senado, Dilma pode esta tendo o alívio das agruras de Cunha. O presidente da Casa, Renan Calheiros, ele também com momentos de agastamento com o Palácio do Planalto, faz agora contraponto às atitudes da Câmara. Segundo Renan, o Congresso (ele não se referiu apenas ao Senado) não será irresponsável votando uma pauta-bomba como a que o presidente da Câmara poderia botar em marcha.

Porém, palavras, à parte, na prática Calheiros não age como um aliado assim tão afinado. Ele adiou, contrariando expectativa do governo, a votação da proposta de “reoneração’ da folha de pagamento das empresas, prevista inicialmente para esta semana.

Uma medida que o ministro Joaquim Levy já gostaria de ter nas mãos há muito tempo e que quanto mais tempo fica sem valer mais mina o já minado programa de ajuste fiscal. E pelas indicações dadas ontem pelo presidente do Senado, o aumento da contribuição patronal para a Previdência Social não entra em vigor em 2015.

Outros destaques dos

 jornais do dia

– INDÚSTRIA AINDA EM BAIXA – Após ter um ligeiro aumento (0,6%) em maio, a atividade industrial do país voltou a cair em junho, desta vez a 0,3% ante o mês anterior, segundo a pesquisa mensal do IBGE. Em comparação com junho do ano passado, a queda é mais acentuada, de 3,2%, sendo esta a 16ª consecutiva baixa nessa base de comparação. No primeiro semestre, a produção da indústria brasileira teve retração de 6,3%. Este é o pior resultado observado na série desde 2009, quando teve baixa de 7,1%. Na ocasião, as fábricas do país sentiam os efeitos da crise global de 2008. No acumulado dos últimos doze meses, o recuo foi de 5%. Para chegar ao resultado, o IBGE verificou baixa nos quinze dos 24 ramos pesquisados. Entre eles, os que mais contribuíram para o recuo no índice geral foram máquinas e equipamentos (-7,2%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-12,7%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-2,8%). Entre as categorias averiguadas, as indústrias de bens de consumo duráveis e de bens de capitais registraram as piores quedas, com 10,7% e 3,3%, respectivamente. O IBGE ainda destacou que junho deste ano teve um dia útil a mais (21 dias) do que o mesmo mês do ano passado.

– PREÇO MÉDIO DOS IMÓVEIS ESTÁ MENOR – O preço médio para comprar imóveis ampliou a queda real para 4,94% em 2015, é o que mostra o relatório da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) de julho,com base em anúncios do portal Zap Imóveis. Entre janeiro e julho deste ano, o índice FipeZap, que acompanha o valor de venda de imóveis em 20 cidades brasileiras, registrou crescimento de 1,51% nos preços, enquanto a inflação, medida pelo IPCA, do IBGE, acumulou 6,79% no mesmo período. Isso significa que os imóveis tiveram ajustes abaixo do aumento dos preços no acumulado do ano, com exceção de Florianópolis, que aumentou 9,24%. Nos sete primeiros meses de 2015, apenas Brasília, Curitiba e Niterói tiveram queda nominal de 0,7%, 0,8% e 2,4%, respectivamente. Nos últimos 12 meses terminados em julho, o preço de compra dos imóveis cresceu 4,03%, o que representa a sétima vez consecutiva em que a variação foi menor do que a inflação nesse período.

– “Fazenda vai inscrever na dívida ativa R$ 40 bilhões que estão no Carf” (Globo)

– “PT muda de tom e isola mais ainda José Dirceu” (Globo)

– “MPF prepara denúncias contra Cunha e Collor” (Globo)

– [FGV] Recessão começou no segundo trimestre de 2014” (Estadão)

LEITURAS SUGERIDAS

  1. Elio Gaspari – “Um ‘momento Berlusconi’ no Senado” (diz que se o Senado dificultar a recondução do procurador Rodrigo Janot ao comando do Ministério Público, a crise vai piorar) – Globo/Folha
  2. Miriam Leitão – “Crises gêmeas” (diz que Congresso traz o risco de volta do gasto público) – Folha
  3. Mansueto Almeida, Marcos Lisboa, Samuel Pessoa – “Nem todo mal vem do petismo” (diz que, se é verdade que grande parte das dificuldades pelas quais passamos é responsabilidade da nova matriz macroeconômica do ministro Mantega, nem tudo é culpa do PT no governo; boa parte dos problemas atuais decorre das reivindicações de diversos grupos sociais) – Globo
  4. Editorial – “Prostração industrial” (diz que o setor manufatureiro é o que mais sofre com os erros da política econômica nos últimos anos) – Folha
  5. Bernardo Mello Franco – “Os homens-bomba” (a respeito das atitudes de Eduardo Cunha e Renan Calheiros no Congresso) – Folha
  6. “Lucro da Petrobras deve cair 20%” (Valor) 
  7. “Desabastecimento provoca saques e morte na Venezuela” (Valor)