Dilma reúne ministros e cobra empenho dos aliados para combater o impeachment

O governo quer mostrar que os problemas da economia além de virem de fora foram influenciados pelas investigações da Operação Lava-Jato, que a economia vai voltar a crescer no quarto trimestre. E vai atender com cargos os ainda insatisfeitos no Congresso

José Marcio Mendonça

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Com uma série de reuniões que consumiram quase o dia todo, uma delas com a presidente Dilma Rousseff, o ministro-vice-presidente da República, Michel Temer, e mais 12 ministros, o governo traçou a estratégia para enfrentar os riscos políticos e econômicos que está enfrentando e iniciou também a ofensiva para tirar “das cordas” em que se encontra a presidente. 

A manchete do jornal “O Estado de S. Paulo” diz que o principal objetivo da reunião principal foi a cobrança da presidente aos aliados de uma reação mais forte e incisiva para barrar o impeachment. O governo passou a temer mais este risco a partir de uma avaliação de que a rejeição das contas de 2014 pelo Tribunal de Contas da União, em agosto, é praticamente certa.

O que dará pretexto ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para tentar colocar em votação um dos 12 requerimentos já inscritos na casa pedindo abertura de inquérito para o afastamento da presidente. Eduardo Cunha ontem em São Paulo mostrou que não está para tréguas. Além do mais, Renan Calheiros dá indicações, em comum acordo com Cunha, que não vai segurar no Congresso a votação da contabilidade oficial de 2014.

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Portanto, a prioridade da presidente e de seus aliados é fechar este flanco, considerando-se ainda a possibilidade de surgimento de novos agravantes que compliquem a situação do governo: (1) os efeitos mais imediatos da agitação da economia chinesa sobre a nossa economia; (2) novas revelações, nunca descartáveis, da Operação Lava-Jato; e (3) o menor ou maior barulho das ruas nas manifestações antigoverno marcadas para o dia 16 de agosto.

A pauta-bomba de Cunha
São coisas que podem mexer com a disposição dos partidos e congressistas coligados, sempre extremamente sensíveis ao ambiente de fora de Brasília. Na conversa que terá com os governadores, inicialmente prevista para quinta-feira, mas que, se especulava ontem, poderá ser desmembrada em encontros regionais, a presidente irá pedir o mesmo empenho dos executivos estaduais.

Outro objetivo da reunião foi reunir as forças governistas para ajudar no Congresso Nacional a aprovar de um lado as medidas de ajuste fiscal ainda pendentes, a fim de evitar que o superávit primário seja menor ainda que o 0,15% prometido na semana passada e que tanta turbulência provocou no mercado.

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Um dos focos é o projeto-de-lei, aprovado pela Câmara e pendurado no Senado, de aumento da contribuição patronal para a Previdência Social, já mutilado pelos deputados e ameaçado mais um pouco pelos senadores – e que se não for aprovado rapidamente não produzirá nenhum efeito positivo este ano. O outro é a proposta da criação de um imposto para repatriação de recursos de brasileiros mantidos no exterior, que encontra forte resistência no Congresso. E, naturalmente, barrar a “pauta-bomba” de Cunha.

Lava-Jato diminui o PIB
O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, fez uma exposição a respeito da situação econômica para os ministros (todos de viés político-partidário) mostrando que a aprovação é essencial para o inicio da recuperação da economia. No mesmo tom, falando para o público externo mas mirando também deputados e senadores, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deu entrevista exclusiva ao “Estadão” dizendo que “se o Congresso ajudar podemos aumentar da meta de superávit fiscal em 2015”.

Levy aproveitou ainda para dizer que não é verdade que tenha tido uma queda de braço com Barbosa por causa da alteração da meta fiscal. E garantiu também que “a dívida não vai furar o teto de 70% do PIB”, como passaram a prever alguns analistas depois dos números da contabilidade deste ano apresentadas por ele e por Barbosa na semana passada.

O governo ensaiou também o discurso para espargir um pouco de otimismo para o grande público e justificar a queda do PIB este ano. A presidente Dilma Rousseff, que vinha sustentando que os problemas enfrentados pela economia brasileira vinham lá de fora, acrescentou um novo responsável pela queda do PIB ao seu argumento: disse que a Operação Lava-Jato é responsável por 1 ponto percentual do crescimento negativo este ano.

E o ministro Nelson Barbosa anunciou que a economia começa a crescer já no quarto trimestre deste ano.

Mas o governo, já sem a presença da presidente Dilma Rousseff, apresentou outros argumentos bem objetivos aos ministros para que eles procuram enquadrar as bancadas de seus partidos no Congresso. Com uma planilha, foi mostrado o “grau de fidelidade” ao Palácio do Planalto nas diversas votações deste ano na Câmara e no Senado e lembrado que todos os partidos dispõem de cargos na máquina pública. A começar dos próprios ministros. E linguagem “franciscanamente” crua: já receberam, agora paguem.

De público, o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB), que tem se dedicado mais ao fisiologismo político do que aos aviões disse, como música para os ouvidos aliados, que o governo deseja concluir até meados de agosto o rateio dos cargos que ainda falta distribuir entre os parceiros.“A nossa pretensão é liquidar esse assunto, na pior das hipóteses, até o meio do mês de agosto”, disse Padilha. 

Outros destaques dos

jornais do dia

– DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL AUMENTA – A dívida pública federal voltou a crescer em junho e fechou o mês em R$ 2,583 trilhões. Segundo relatório divulgado pelo Tesouro Nacional ontem, a alta no estoque foi de R$ 87,46 bilhões, ou 3,5%. O endividamento cresceu principalmente devido a uma emissão líquida de títulos públicos no valor de R$ 64,06 bilhões. Os juros que corrigem o estoque, por sua vez, somaram R$ 23,40 bilhões e também contribuíram para o aumento. As emissões de papéis totalizaram R$ 66,58 bilhões em junho. Já os resgates foram de apenas R$ 2,52 bilhões no mesmo período. De acordo com o Plano Anual de Financiamento (PAF) elaborado pelo Tesouro, a dívida pública deve terminar o ano num intervalo entre R$ 2,45 trilhões e R$ 2,6 trilhões.

– ÍNDICE DE CONFIANÇA DA INDÚSTRIA MELHORA – O Índice de Confiança da Indústria (ICI) brasileira subiu 1,5% em julho sobre o mês anterior, após cinco meses seguidos de perdas segunda a pesquisa da FGV. Com isso, o ICI foi a 69,1 pontos em julho, contra 68,1 pontos em junho, quando caiu 4,9%. Mesmo assim, o patamar visto em julho ainda é o segundo menor da série histórica. O ICI registrou alta em sete dos 14 principais segmentos acompanhados pela pesquisa e foi determinada pela melhora das expectativas em relação aos meses seguintes. Segundo a FGV, o Índice da Situação Atual (ISA) recuou 0,1% e passou de 70,4 pontos a 70,3 pontos. Já o Índice de Expectativas (IE) teve alta de 3,2%, a 67,9 pontos. Ambos os índices estão no segundo menor valor da série. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada, por sua vez, ficou estável em julho, em 78,2%, o menor patamar desde abril de 2009 (78%).

E MAIS:

– Moro solicita ao Banco Central informações sobre remessas de off-shores ligadas à Odebrecht (Globo)

– “Odebrecht diz ‘não ter motivos’ para esclarecer anotações em celular” (Estadão)

– Dilma agora culpa também Lava-Jato por queda do PIB” (Globo)

– “Divergência sobre taxa de juros ameaça compra de caças suecos” (Globo/Estadão)

– “Caixa bancou pedaladas durante 21 meses” (Estadão)

– “Avaliação da S&P é o novo temor do governo” (Folha)

– “Governo volta a atrasar seguro-desemprego” (Estadão)

– “Petrobras aprova venda de ativos de seu gasoduto” – (Estadão)

– “[Por falta de repasses federai] Projetos de mobilidade em 7 capitais ficam no papel” (Valor)

LEITURAS SUGERIDAS

1.      Miriam Leitão – “Instabilidade chinesa” (diz que risco da China aumenta tensão externa e causa mais desequilíbrio no Brasil) – Globo

2.      José Paulo Kupfer – “Reação exagerada” (diz que, mesmo com a possibilidade de um novo déficit fiscal, a reação dos mercados que se seguiu não deixa de ser intrigante) – Estadão

3.      Delfim Netto – “Por favor, um programa sério e exeqüível” (diz que o Brasil precisa de um programa vigoroso, que devolva a confiança da sociedade no governo e a expectativa de crescimento ao setor privado) – Valor