Muita especulação e tensão em Brasília

O clima na capital da República, de boatos, intrigas, torcidas e especulações, no governismo e no oposicionismo, já aponta para um fim precoce do governo Dilma. Estamos no terreno das intrigas, mas a preocupação é com o reflexo na economia

José Marcio Mendonça

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A passagem do ex-presidente Lula da Silva por Brasília na semana passada, enquanto a presidente Dilma Rousseff estava nos Estados Unidos, apesar dos esforços do líder petista para acalmar os aliados PT e PMDB e formar um cordão de proteção em torno de Dilma, parece não ter surtido o efeito desejado. O clima político está cada vez mais tenso.

A inquietação geral continua – até porque parte dela é fruto das dificuldades reais da economia, que ainda parecem longe de um alívio. Tudo isso passou a alimentar ainda mais a central de reuniões, boatos, fofocas, especulações políticas naturais na capital da República, agora, porém, envolvendo também dúvidas sobre o futuro do governo Dilma.

E animou as rodinhas, tanto na oposição quanto na situação a conjeturar (e alguns a até a se preparar) para um possível fim antecipado da administração da presidente. Desde sexta-feira os jornais registram essas conversas, que crescem a partir de revelações incompletas de depoimentos na Operação Lava-Jato que comprometeriam a campanha de Dilma tanto em 2010 quanto no ano passado, tais como informações da revista “Veja” desta semana e as mostradas no “Jornal Nacional” de sexta-feira.

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O tema se alimenta com as pressões do próprio PT sobre o governo, apesar dos pedidos de Lula e deixem Dilma mais fragilizada. Semana passada, o ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, chegou a dar sinais de que poderia ir embora depois que os petistas passaram a pressioná-lo por culpá-lo de não controlar a PF. Aliás, sintomático sobre isto foi a entrevista do diretor-geral da Polícia Federal, no domingo, ao jornal “O Estado de S. Paulo” avisando que a Operação Lava-Jato vai continuar investigando doa a quem doer.

No “Valor Econômico” de hoje, o repórter Raymundo Costa registra que o agravamento da crise coloca de fato em risco o mandato de Dilma e diz que a presidente aposta todas as suas fichas no PMDB. Porém, o próprio PMDB é parte também da crise – e tem interesses de longo prazo que vão além das conveniências da presidente Dilma Rousseff. Vide as pressões para que Michel Temer deixe a coordenação política do governo até outubro.

Levy pede paciência 

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As pressões gerais dos aliados continuam também no campo da economia, acuando ainda mais o Palácio do Planalto. Elas apenas mudaram de foco: não visam mais diretamente o ministro Joaquim Levy. Agora, o foco passou a ser o Banco Central e a política de juros. De Rui Falcão, presidente do PT: “Com a economia em retração, é impraticável manter a atual taxa de juros.”De Romero Jucá, um dos condestáveis do PMDB: “Na dá para ter juros de 13,75% com a economia do jeito que está. Estamos enxugando gelo.”

Preocupado com os reflexos do ambiente político de um modo geral e o ambiente no Congresso em particular sobre a política econômica, o ministro Joaquim Levy dá hoje uma ampla entrevista do jornal “Valor Econômico” na qual pede persistência para o Brasil concluir a travessia. Ela alerta que a situação fiscal ainda preocupa, que nenhum ajuste é fácil, mas que as medidas adotadas evitaram uma crise.

O ministro da Fazenda teme que a incerteza paralise as empresas e eleve o custo do ajuste. Ele disse que há, inclusive, indícios de companhias que estão adiando o pagamento de impostos para proteger o caixa.

Não há sinais de que Dilma possa estar pensando em afastar-se, como algumas conversas insinuam, nem possibilidades reais de abertura de um processo de impeachment com os dados hoje disponíveis. Comenta-se que a situação da presidente pode ficar complicada no Tribunal Superior Eleitoral se o dono da UTC e da Constran, Ricardo Pessoa, que foi convocado a depor na corte, provar que a campanha da presidente foi alimentada com dinheiro das falcatruas na Petrobrás.

Estamos, na realidade, no terreno da pura especulação – e, na verdade, também de torcida na oposição e até entre aliados. Nada de concreto existe, mas é o tema que está alimentando mundo político e conversas que já extrapolam e chegam ao mundo empresarial.

Nesse caso foi sintomática a entrevista do empresário Jorge Gerdau, conselheiro de Dilma em seu primeiro mandato, na semana passada ao jornal “O Estado de S. Paulo”, dizendo que o governo atual não poupa nem “pipoqueiro”. Em contraste, na “Folha de S. Paulo” de hoje, Rubens Ometto, do grupo Cosan, diz que o governo Dilma está no rumo certo. O meio empresarial está confuso, principalmente porque não sabe o que vem do lado da política. Qual o jogo real do PMDB? Qual o papel de Lula e do PT? Em que afinal joga a oposição?

(Esse jogo de intrigas e boatarias levou o jornalista Elio Gaspari a tratar com ironia do tema em sua coluna dominical em “O Globo” e “Folha de S. Paulo”: “Ela termina o mandato?”)

Tal quadro animou a oposição tucana. Na convenção do PSDB que reelegeu Aécio Neves para a presidência do partido, o tom foi: “que estamos preparados para governar já”. A aposta é que Dilma não chega a 2018 no Palácio do Planalto.

Com Dilma de fato cada vez mais isolada no Palácio do Planalto (cercada apenas de poucos e não muito hábeis operadores políticos), é provável que estas especulações ainda cresçam, até porque a elas estão alheias nem parcelas do PMDB nem áreas do PT. O que complica ainda mais as já naturais dificuldades que a presidente vem vivendo para enfrentar os desafios da crise econômica. Analistas dizem que a única saída emergencial da presidente é fazer concessões aos aliados políticos no curtíssimo prazo.

Em Brasília, como diz o dito popular, a situação é de vaca não conhecer o bezerro.

Outros destaques dos jornais do dia

– GRÉCIA: REUNIÃO DE EMERGÊNCIA – Depois que a maioria dos gregos rejeitou as condições apresentadas pelos credores para fechar um novo acordo de ajuda financeira — com 61.3% dos votantes optando pelo “não” no referendo —, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, anunciou a convocação, para amanhã uma reunião de cúpula de emergência da zona do euro, em Bruxelas. Marcado para as 18h locais (13h de Brasília), o encontro irá “discutir a situação após o referendo na Grécia”. A realização da reunião de cúpula havia sido solicitada pela chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo presidente francês, François Hollande, que devem se encontrar na segunda-feira, em Paris. Merkel e Hollande, de acordo com o porta-voz do governo alemão, concordaram com o fato de que o resultado do referendo grego deve ser respeitado. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, por sua vez, terá uma teleconferência hoje com Tusk, com o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, e com seu colega do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi. O ministro das Finanças grego anunciou sua renúncia.

LEIA EM ‘FATO REAL’ A ANÁLISE DE FRANCISCO PETROS SOBRE A CRISE DA GRÉCIAS E SUAS CONSEQUÊNCIAS 

E MAIS:

– “Novo plano para a Petrobras, velhas incógnitas para o investidor” (Globo)

– “Meta do novo PMDB é conquistar a presidência” (Estadão)

– “Crise vira oportunidade para as ferrovias” (Estadão)

– “Ajuste também passa por forte corte de custos da Petrobras” (Valor)

– “No seguro-desemprego, concessões caem 5%, mas gastos crescem 16%” (Valor)

LEITURAS SUGERIDAS 

1.      Ricardo Noblat – “À espera do fim do governo” (sobre as açodadas conversas em Brasília sobre o fim antecipado do governo Dilma) – Globo

2.      Paulo Guedes – “Cadê as lideranças” – (comenta a crise política e diz que gastos públicos e impostos disfuncionais tornam o país o paraíso dos corruptos e rentistas e o inferno de empresários e trabalhadores) – Globo

3.      Editorial – “O dever da oposição” (diz que é equivocada a ideia de que uma forte oposição deve levar à derrubada de quem está no poder) – Estadão

4.      Neil Irwin – “A Grécia será um exemplo” (diz que o resultado do plebiscito grego pode ter criado uma bomba-relógio para a Europa) – Estadão (do NYTimes)

5.      Valdo Cruz – “Ebulição” (comenta a crise e as especulações sobre possíveis mudanças de cenário político) – Folha

6.      Ricardo Mello – “O golpe está em marcha” (diz que o plano da oposição é derrubar Dilma e que a PF assina em baixo) – Folha