O Brasil em queda livre

Há uma perigosa percepção de que tudo há de piorar. O desemprego avança celeremente e, em breve, baterá em todos os setores simultaneamente

Francisco Petros

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A economia brasileira está em queda livre, generalizada e sem sinais de onde chegará. As previsões, ora feitas, contêm um elemento particular pouco avaliado e divulgado que é o risco de estarem simplesmente erradas. A estimativa de um decréscimo do PIB de até 2% neste ano e próximo de zero em 2016 devem ser vistas pela sociedade como mera “indicação” e não uma “previsão”. A razão é simples: ainda não há mínimas evidências de que o “fundo do poço” já tenha chegado.

Há condições macroeconômicas para que a recessão seja relativamente rápida, mas estas estão se deteriorando rapidamente e é possível que a recessão seja bem mais prolongada que o esperado. A retração no campo do investimento privado (falta de confiança) e da renda das famílias (devido à inflação e, agora, o desemprego) é substantiva, sólida e evidente. Não há, de fato, mera redução do crédito e da renda. Há uma perigosa percepção de que tudo há de piorar. O desemprego avança celeremente e, em breve, baterá em todos os setores simultaneamente.

O país caminha para o leito inseguro das últimas três décadas de baixo crescimento. A interrupção deste processo deveu-se unicamente aos fatores favoráveis e bastante específicos no cenário internacional: o aumento dos preços das commodities. Isto acabou e não há evidência de que retorne ao cenário, antes promissor e que agora se vê claramente qual era a sua natureza.

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O Brasil parece escolher, em função da ampla aceitação da sociedade e de suas elites, o caminho da estagnação estrutural. Há, ademais, a mudança do perfil demográfico o qual se aproximou com rapidez daquilo que se vê no mundo desenvolvido. Assim, a indisponibilidade de mão-de-obra crescente teria de ser substituída por um grau igualmente crescente da produtividade. Isto requereria incrementos de qualidade e quantidade no padrão tecnológico, na eficiência do setor laboral e na infraestrutura. Capital e trabalho teriam de ingressar num processo colaborativo para alçar um voo mais alto em busca de mais produção com menos custos e mais qualidade.

Se a produtividade não se elevar, os preços descontados pelo câmbio têm de ser ainda mais baixos. Logo, a relação entre câmbio e inflação terá de ser ainda mais favorável às moedas fortes. Todavia, esta passagem é dificultosa e tem de ser “aceita” internamente (em função da perda de renda) e externamente (dado o movimento das outras moedas). Com os juros básicos tão altos por aqui, nem podemos pensar que este processo está por acontecer.

O ajuste fiscal, tão apregoado ideologicamente como fator de estabilização, se alcançado, não será conquistado em suficiência em menos de doze meses (contados doravante). Isso porque o PIB cai e a arrecadação também, além do fato de que o grau de informalidade dos negócios e do trabalho também aumenta. É a corrida do cachorro tentando morder o próprio rabo. As contas têm de ser ajustadas, mas isto é pouco.

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Um cenário econômico tão pouco promissor dependeria de um esforço político muito bem engendrado. As forças que agem na “política formal” (os partidos) e na “política informal” (a sociedade) deveriam ter uma agenda minimamente comum de reformas estruturais. Além disso, tudo deveria caminhar para além do próximo pleito eleitoral.

Instinto eleitoral

O que se verifica é que a sociedade vota mal porquanto é politicamente mal informada e pouco educada. A sedução do proselitismo político é fácil e a sociedade deita inocentemente na armadilha que os políticos lhe preparam. Nota-se que mesmo as elites brasileiras preferem agir no curto prazo. Daí aceitam com facilidade os caminhos mais inusitados, projetados e percorridos por representantes pouco interessados no Brasil. É o que justifica a existência de lideranças como as de Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Estes representam o vazio o qual é preenchido com rapidez por esta cepa de políticos espertos.

O governo, não liderado pela presidente da República, não tem planos, não tem projetos, não tem estrutura para agir diante de uma conjuntura que requereria que a presidente “fosse ao povo” para explicar o que pretende e convocá-lo para colaborar. A oposição equivale ao governo, pois age por mero instinto eleitoral de curto prazo. Seus líderes avaliam tudo como se o jogo fosse usual e sem variáveis muito mais profundas. Preferem os convescotes. Tem horror ao povo.

O sumiço do PT como partido significativo nos próximos anos é o maior desastre político do país, pois a larga massa proletária do país não terá representação à altura – viu-se que nunca teve. Isto não tem relação apenas com a qualidade duvidosa do que se pensava ser o “pensamento político” do partido.

De fato, o PT cometeu a maior traição da política brasileira. Não tinha projeto consistente e mudancista e apenas se projetou para se manter no palácio e roubar os bens públicos. Tornou-se uma oligarquia estranha aos mais pobres e não aceita pelos mais ricos. Seu destino será equivalente ao DEM: se tornará um partido irrelevante e Lula será uma figura patética, senão ridícula.

A modernização do país só virá quando tivermos liderança política moderna que possa falar com o povo e não apenas com os que detêm o poder econômico. Vitórias eleitorais devem ser sempre relativizadas, pois as urnas são um passo pequenino frente aos projetos políticos.

Diante deste quadro pouco alentador e sem promessas de melhora, temos de perguntar: quem, de fato, se importa com o que está a acontecer? Por que tanta passividade da sociedade frente a este destino tão triste?

Não resta dúvida de que a ação política necessária às mudanças tem custos econômicos muito diminutos frente a essa trágica passividade reinante no Brasil.