Depois do PIB fraco, o governo vai apostar nas concessões de infraestrutura

O resultado na economia veio um pouquinho melhor que o esperado – até pelo governo. Mas o segundo trimestre deve ser bem mais fraco. Para mudar o ambiente econômico, a expectativa oficial é deslanchar as novas concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos

José Marcio Mendonça

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O destaque dos jornais do fim de semana e de hoje, além de mais uma suspeita envolvendo mais uma campanha eleitoral petista (agora a do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel), ficou por conta dos resultados do PIB do primeiro trimestre. Embora ele tenha vindo melhor que se esperava – menos 0,2% contra previsão média de analistas de menos 0,5% -, não causou nenhum entusiasmo. Nem mesmo no governo.

O número, como destacado de um modo geral, somente não foi pior até do que as previsões mais pessimistas porque a agricultura surpreendeu positivamente, com um fabuloso desempenho de mais 4,7% contra expectativa média de 1,1%. Como se diz popularmente, a lavoura foi a salvação da lavoura. Outra surpresa boa veio da indústria extrativa.

Os dados preocupam porque a indústria de transformação continua em queda livre e porque o consumo das famílias e os investimentos decepcionaram. Além da queda nos serviços, setor de grande influência na questão do emprego. Por isso, desde sexta-feira algumas consultorias e departamentos econômicos de instituições financeiras e de empresas passaram a revisar – a imensa maioria para maior queda ainda – suas previsões para o PIB do segundo trimestre e do ano todo.

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A expectativa é de que o período de abril/maio/junho, como já apontam alguns indicadores como consumo de papelão ondulado, movimento de carga nas estradas pedagiadas e consumo de energia, seja bem pior do que o período encerrado em março.

No Rio de Janeiro, logo depois de anunciado o PIB pelo IBGE, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que o “retrato” da economia veio de acordo com o que era esperado pelo governo. Para Levy, a retomada do crescimento virá no segundo semestre. O ministro disse ainda que passado o primeiro momento do ajuste fiscal, “há ainda muita coisa a fazer”, referindo-se às reformas estruturais da economia do país. Coisa de longo prazo.

Levy está nos Estados Unidos e hoje tem encontro com o secretário do Tesouro norte-americano Jacob Lew. No sábado, informa o “Valor Econômico”, Levy discutiu com Otaviano Canuto e Antonio Henrique da Silveira, economistas brasileiros do Banco Mundial, garantias da instituição para financiamento de obras de infraestrutura no Brasil.

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Para melhorar o ambiente econômico no momento, o governo (e o ministro) parece apostar mesmo é no anúncio, na semana que vem, do novo plano de investimentos em logística – portos, aeroportos, estradas e ferrovias. O Palácio do Planalto prepara um grande evento para lançar sua “agenda positiva”, muito cobrada pelo partidos.

“Pauta bomba” no Congresso

Antes, porém dessa agenda positiva entrar no ar, as notícias da fraqueza da atividade econômica e suas conseqüências na vida da população devem gerar mais dificuldades para o governo nas suas relações com os partidos aliados. A começar pelo partido que mais está insatisfeito hoje com a situação econômica, o partido ao qual a presidente está formalmente filiada – o PT.

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Há ameaças concretas ao ajuste fiscal de Levy. A proposta de aumento da contribuição patronal para a Previdência dos setores beneficiados com a desoneração tributária, a ser votada em princípio na próxima semana, encontra resistências e pode ser mudada, diminuindo os ganhos imaginados para este ano pelo Ministério da Fazenda.

Além do mais, informa o “Valor”, os presidentes da Câmara e do Senado, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, estão preparando uma “pauta bomba” para o Tesouro Nacional no Congresso. Prefeitos da estiveram fazendo sua tradicional marcha anual em Brasília na semana passada e Calheiros e Cunha receberam governadores para ouvir suas reivindicações.

Trata-se, diz o jornal, de uma “agenda federativa”, com o objetivo de descentralizar a arrecadação e atender desejos de governadores e prefeitos por mais recursos. As eleições municipais já entraram definitivamente no radar dos partidos. A partir do segundo semestre, tudo que for votado no Congresso será medido a partir da disputa eleitoral.

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Não há político no Brasil que goste de filiar sua imagem a um governo com problemas na economia e com a popularidade em baixa – no caso de Dilma em grande parte por causa da crise econômica que já está batendo nas portas das famílias. Informa, por exemplo, o jornalista Gerson Camarotti, da Globonews, em seu blog no site G1, que o Palácio do Planalto teve acesso a uma nova pesquisa com avaliação do governo no qual a aceitação da presidente Dilma já aparece abaixo de dois dígitos.

As dificuldades da presidente com o PT num quadro desses podem se acentuar. Na semana que vem, em Salvador, o partido realiza um encontro nacional para debater sua própria situação e o quadro político e econômico do país. Algumas das chamadas tendências da legenda querem que a resolução final do congresso condene explicitamente o ajuste fiscal atual, de autoria do ministro Joaquim Levy. Bombeiros estão tentando apagar esse possível incêndio. Dilma está convidada para comparecer ao encontro e discursar.

É situação delicada, pois parte dos petistas hoje advoga um afastamento progressivo do governo, como forma de evitar um desastre eleitoral no ano que vem. Segundo vários interlocutores, Lula tem dito que não teria condições de concorrer em 2018, como ele e o partido desejam, se o governo não mudar muito e o PT não se sair bem nas municipais de 2016.

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Outros destaques dos jornais do dia

– CONTAS PÚBLICAS – No mês passado, o setor público consolidado – União, Estados e municípios – registrou superávit primário de R$ 13,5 bilhões, número bem maior que os R$ 239 milhões de março o que o resultado no vermelho de R$ 2,3 bilhões de fevereiro. No acumulado do ano, a economia para pagar juros da dívida pública soma R$ 32,5 bilhões até abril, quase metade dos R$ 66,5 bi prometidos de superávit para este ano. O Imposto de Renda e a queda do dólar foram os principais responsáveis por esse resultado. Mesmo assim, permanece a incerteza quanto ao cumprimento da meta cheia de 2015. Segundo advertiu o próprio chefe do Departamento Econômico do Banco Central, no segundo semestre a contribuição dos Estados e municípios para os resultados fiscais é bem menor. (Nos jornais de sábado)

– ATIVIDADE ECONÔMICA/CONSUMO – Levantamento da consultoria Kantar Worldpanel mostra que as famílias reduziram em 8% o volume de bens não duráveis (alimentos, bebidas, produtos de limpeza, beleza e higiene) comprados no primeiro trimestre frente a igual período do ano passado. Na hora de pagar a conta, porém, a compra mais modesta do início deste ano custou 1% a mais do que há um ano atrás, que tinha mais mercadorias no carrinho. A venda de bebidas foi a que mais caiu, mas redução foi forte também nos alimentos. (Na Folha)

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– ATIVIDADE ECONÔMICA/INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA – Cerca de 35 mil trabalhadores das montadoras de veículos ficará em casa em junho – em férias coletivas, folgas, semanas reduzidas e lay-off – por causa das medidas que estão sendo adotadas em decorrência da forte retração das vendas. Até quinta-feira da semana passada, a redução acumulada do ano era de 20% na comparação com os cinco primeiros meses de 2014. É a maior queda percentual para o período desde 1999, quando chegou a 23% na comparação com o ano anterior. (No Estadão de sábado)

E MAIS:

 

– “Redução da maioridade penal vai a voto até ofim de junho” (Globo)

– “Escândalo nos Correios: lucro despenca sob ocupação do PT” (Globo)

– “Gilmar critica modelo de financiamento” (Estadão)

– “Investimento em infraestrutura deve cair 19%” (Estadão)

– “Inadimplência no Minha Casa Minha Vida cresce com crise na economia” (Folha)

– “Falta de pessoal prejudica a ação de reguladoras” (Valor)

– “Desconfiança e Lava-Jato podem impor queda de 10% nos investimentos” (Valor)

LEITURAS SUGERIDAS

– Fim de semana – Comentários/Análises sobre o PIB

  1. Editorial – “Rearranjo no PIB” – Folha/sábado
  2. Editorial – “O produto bruto dos erros” – Estadão/sábado
  3. José Paulo Kupfer – “Surpresas mostram que projeções têm de incorporar a transição” – Estadão/sábado
  4. Entrevista/Ilan Goldfagn – “Estamos pagando o custo do passado” – Estadão/sábado
  5. Alessandra Ribeiro – “PIB melhor que o esperado não altera projeção para o futuro” – “Estadão/sábado

 – Segunda-feira

  1. Editorial – “Um superávit enganoso” (sobre o superávit fiscal positivo do setor público em abril e no primeiro quadrimestre. Diz que a situação financeira oficial continua muito ruim) – Estadão
  2. Valdo Cruz – “O raivoso e a incompreendida” (sobre reforma política, Lula e Dilma. Diz que Lula está regredindo) – Folha
  3. Otávio Cunha – “O prejuízo é de todos” (diz que a mudança na desoneração da folha de pagamento na área de transportes vai provocar o aumento das tarifas no transporte público) – Globo
  4. Reportagem – “Por que os fundos de pensão perderam R$ 31 bilhões em 2014?” (analisa a difícil situação dos fundos das estatais, assunto que a oposição quer investigar em CPI) – El Pais (site em português)
  5. Gustavo Loyola – “Por uma mudança no regime fiscal” (diz que o uso da taxação para fechar as contas afeta negativamente o potencial de crescimento) – Valor

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