Dilma não vai ao público. E busca Lula

Acreditou-se, dentro do governo e até fora dele, que a pior fase do inferno astral que a presidente Dilma Rousseff estava vivendo desde o fim do ano passado já havia sido superado. Duas razões indicavam esta direção para o Palácio do Planalto:

1. A mais recente pesquisa de opinião do DataFolha mostrou que a avaliação negativa de Dilma parara de crescer, embora ainda trouxesse uma série de indicadores nada bons para o governo.
2. A segunda manifestação pública contra o governo, em 12 de abril, também ainda com grande afluência de pessoas, havia sido menor que a de 15 de março, embora mais de um milhão de brasileiros tenha voltado às ruas nesta segunda vez, o que não é uma multidão nada desprezível.

O Palácio do Planalto se sentiu mais seguro ainda depois que o ambiente político na base aliada pareceu desanuviar com a entrega da articulação política ao vice-presidente da República, Michel Temer, um dos expoentes do PMDB, o partido que mais criava problemas para a presidente. Nesse ponto também apareceram sinais negativos: mesmo com Temer, a Câmara, com o PMDB na frente ainda aprontou uma derrota para o governo, na votação do projeto da terceirização da mão de obra.

No auge da impopularidade da presidente, marcada inclusive por “panelaços” por ocasião de duas aparições de Dilma na telinha da televisão, avaliou-se no mundo presidencial que a presidente sofria uma crise de comunicação. Falou-se abertamente que o governo estava perdendo a batalha da comunicação em boa parte porque a presidente passara alguns meses fora do circuito, fechada nos palácios presidenciais, sem entender bem porque, depois de uma disputada eleição presidencial, perdera tão rapidamente a popularidade.

Dilma foi instada por seus conselheiros, inclusive e principalmente pelo ex-presidente Lula, a aparecer mais, a viajar mais, a dar mais entrevistas, a participar de eventos de inauguração de obras, entrega de casas populares e tais. Assim foi feito.

Viu-se ou farejou-se, então, uma trégua. Porém, com alguma incerteza. Tanto que já no fim da semana passada, conforme os jornais já registravam, auxiliares de Dilma discutiam sobre a conveniência de a presidente fazer o tradicional pronunciamento presidencial do Dia do Trabalho em cadeia de rádio e televisão. Desde que está no governo Dilma falou em todos os Primeiros de Maio. Lula também. Os que queriam que a presidente fugisse à tradição temiam dar o mote para outro panelaço.

Nesta segunda-feira ganhou o grupo que preferia o silêncio presidencial. O pronunciamento foi cancelado, sob a alegação, conforme explicou o novo ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, a presidente prefere falar com o povo diretamente pelas redes sócias. O fato real porém, é outro: o ministro-vice-presidente da República, Michel Temer, acompanhado da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, teve de sair da abertura do Agrishow 2015 em Ribeirão Preto, um dos principais eventos do setor agropecuário no Brasil, sem discursar, como estava previsto, por causa das vaias que recebeu de um grupo de manifestantes com cartazes contra a presidente e seu governo.

Por coincidência ou não, a presidente, fora totalmente da agenda, tanto a viagem como o encontro, veio para a São Paulo para reunir-se com seu tutor político, o ex-presidente Lula. Há mais de um mês os dois não se encontram e nesse período Lula ampliou suas queixas e críticas à pupila em conversas reservadas e até em eventos públicos, como na sexta-feira passada num encontro com petistas (ver “Primeiras leituras” de ontem).