Morgan e BofA mostram maior otimismo com ações de consumo doméstico e destacam ativos preferidos

Cenário macro é visto como mais favorável, com maior confiança do consumidor, enquanto analistas também destacam aspectos micro das empresas preferidas

Lara Rizério

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Com inflação arrefecendo, cenário de queda de juros a partir do ano que vem e com sinais de melhora no sentimento da população, analistas como do Bank of America (BofA) e do Morgan Stanley aumentaram o otimismo com as ações de empresas ligadas ao consumo doméstico, que têm registrado desempenho abaixo do Ibovespa no ano, apesar de uma recuperação recente.

O Morgan Stanley elevou a recomendação para os ativos de Americanas (AMER3)  de equalweight (exposição em linha com a média do mercado, equivalente à neutro) para overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra), com preço-alvo passando de R$ 20 para R$ 24. Além disso, varejo passou a ser o maior setor na carteira de estratégia do banco para o Brasil. Cyrela (CYRE3) e Iguatemi ([ativo=IGT11]), também voltadas ao cenário doméstico, também estão entre as preferidas.

Os analistas destacaram maior otimismo baseados principalmente em sua pesquisa AlphaWise, feita periodicamente pelo banco em alguns países da América Latina. Ela ajudou a apoiar a postura cada vez mais otimista sobre as tendências de consumo na região — particularmente no Brasil -, avaliam os analistas.

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Em um cenário de taxas de juros em alta e inflação persistentemente alta, a perspectiva do consumidor brasileiro surpreendeu positivamente em relação às expectativas da instituição, afirmam. No último levantamento, realizado em agosto de 2022, foi registrado que 47% esperam que a economia melhore nos próximos seis meses – a maior resposta positiva desde a realização da primeira pesquisa, em março de 2020.

A inflação continua sendo uma das principais preocupações, citada por 59% dos consumidores, mas os dados da AlphaWise mostram que há pontos positivos no cenário. Os respondentes registram taxas mais baixas de preocupação com perda de emprego, com a capacidade de pagar dívidas e também veem um menor cenário de risco pela Covid -19.

Com o consumo discricionário com o pior desempenho no ano até o momento no Brasil, os estrategistas do Morgan acreditam que um cenário melhor não está precificado.

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Para o portfólio no Brasil, a equipe de estratégia de ações da América Latina do Morgan, liderada por Gui Paiva, vê  um cenário mais positivo para varejistas e construtoras.

Sobre as ações de consumo doméstico para ficar de olho, os estrategistas citam a já falada Americanas. Como varejista multicanal do Brasil com um amplo mix de categorias, eles veem a empresa como diretamente exposta às tendências mais construtivas nos canais online e offline.

“Dois fatores adicionais também levaram a nossa elevação de recomendação: um potencial ponto de inflexão na transformação estratégica (apoiado por um novo CEO, Sergio Rial, a partir de 2023) e uma nova configuração para melhorar as margens e o fluxo de lucro líquido (com a plataforma de aplicativos Ame entre os catalisadores)”, afirma o Morgan. A equipe de estratégia adicionou a Americanas ao seu portfólio Brasil.

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Refletindo o amplo impacto das condições do consumidor na América Latina em todos os setores, as equipes de analistas destacaram outros nomes. Com relações aos outros papéis negociados na B3 que são calls levando em conta a pesquisa do Morgan, os estrategistas destacam nomes positivos e outros dois que podem levar a uma maior cautela. Entre os calls positivos, estão Petz (PETZ3), Itaú (ITUB4), Iguatemi (IGTI11), Multiplan (MULT3), Cyrela (CYRE3), Hypera (HYPE3), Localiza (RENT3) e Energisa (ENGI11), assim como a negociada na bolsa americana Arco Platform. Dois nomes para ter cautela, tendo como base a pesquisa, são Ambev (ABEV3) e BRF (BRFS3).

“Pensando nos pontos em que podemos estar errados, reconhecemos a volatilidade relacionada às eleições no Brasil como um potencial fator de risco, além de qualquer aumento adicional na inflação ou nas taxas de juros, que pode atrasar o momento de uma recuperação maior do consumo”, apontam.

Os catalisadores para o BofA

Também destacando as ações de consumo, a equipe de estratégia do Bank of America avalia que o crescimento da taxa de emprego, os aumentos salariais, a redução da inflação e a melhora da confiança do consumidor sugerem uma forte perspectiva de consumo no Brasil, enquanto o estímulo fiscal tem potencial para impulsionar a demanda do consumidor em 2023.

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“Espera-se que os aumentos salariais anuais médios para 2023 sejam em média de 8% a 10%, coincidindo com a redução da inflação e sugerindo um maior crescimento real da massa salarial, potencialmente alimentando uma demanda mais forte do consumidor”, afirma o BofA.

O emprego no Brasil vem crescendo desde meados de 2021 e agora está 4,2% acima dos níveis pré-pandemia, avaliam. Embora ainda abaixo da inflação, o crescimento dos salários vem se recuperando e diminuindo a diferença desde o final de 2021. Os salários nominais cresceram 8,0% em julho de 2022, enquanto os salários reais caíram 2,9%, apontam.

Os estrategistas do banco americano ainda observam que uma combinação de transferências, cortes de impostos, programas de empréstimos, saques de verbas rescisórias e outros esforços contribuam com 3,3% para o PIB de 2022 e mais 1,8% para o PIB de 2023.

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“A ajuda mensal às famílias de baixa renda (Auxílio Brasil), subiu 50% para R$ 600 por mês em agosto, e deve ser estendida até 2023, independentemente do resultado das eleições presidenciais (com Lula ou Jair Bolsonaro eleito no fim de outubro). A força do consumidor também está coincidindo com a redução da inflação, que sugere a probabilidade de cortes nas taxas de juros em 2023”, avaliam.

O banco americano aponta que as curvas futuras precificam atualmente os primeiros cortes dos juros pelo Banco Central (a Selic atualmente está em 13,75%) entre março e maio de 2023. A confiança do consumidor também está se recuperando, como resultado do forte crescimento do emprego e dos sinais de inflexão na inflação.

Neste sentido, o BofA aponta que várias ações com recomendações de compra do segmento pelos analistas continuam a negociar abaixo das médias históricas. Dentre elas, estão Assaí (ASAI3), Hypera, Lojas Renner (LREN3), Grupo Soma (SOMA3), Track & Field (TFCO4) e Vivara (VIVA3).

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Sobre Assaí, os analistas do banco destacam que a empresa de “atacarejo” está bem posicionada para crescer e ganhar valor de mercado com as conversões de loja, enquanto veem melhora na governança corporativa. Na mesma linha, a Hypera também oferece uma combinação atraente de crescimento, além de ser defensiva e ter um valuation atrativo.

No caso de Renner, a empresa tem sofrido na Bolsa com preocupações com a sustentabilidade da força atual das lojas e com o crédito ao consumidor, além da ameaça da concorrência estrangeira, mas os analistas destacam o bom posicionamento da companhia.  Já para a Soma, dona de marcas como Farm e Animale, a cultura da varejista, as marcas e a recuperação da Hering (adquirida no ano passado) têm sido difíceis de entender para muitos, mas os analistas também avaliam que a empresa conta com uma forte execução para resolver esses problemas.

Enquanto isso, “o posicionamento e o crescimento atraentes da TFCO4 podem mais do que compensar as preocupações com a liquidez e a estrutura de ações duplas, em nossa opinião. Por fim, a liderança do setor, a confiança do consumidor, a produção integrada e a segmentação da Vivara criam uma vantagem competitiva formidável, em nossa opinião, e sugerem um caminho considerável para continuar consolidando a indústria de joias finas do Brasil”, concluem.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.