Ibovespa em alta, dólar em queda: o que explica a virada dos mercados após a forte aversão ao risco inicial com Lula eleito?

Analistas explicam a volatilidade dos mercados no dia seguinte à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

Mitchel Diniz Vitor Azevedo Lara Rizério

Publicidade

Como já tinha sido projetado por analistas de mercado, a manhã de segunda-feira começou com uma forte queda para os ativos brasileiros com a repercussão do resultado das eleições, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para seu terceiro mandato.

O Ibovespa futuro chegou a recuar mais de 3% nos primeiros negócios, por volta das 9h da manhã (horário de Brasília), enquanto o dólar chegou a subir mais de 1% e bateu os R$ 5,40. Quando o mercado à vista abriu, o principal índice de ações da B3 deu sequência às perdas, caindo 2,12% na mínima do dia.

Contudo, menos de uma hora de negociações, houve uma inversão. O Ibovespa passou a operar no terreno positivo e o dólar passou a recuar. Durante a tarde, o índice voltou a ter baixa, mas se recuperou a despeito da forte queda de Petrobras (PETR3;PETR4) e de Banco do Brasil (BBAS3).

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

O Ibovespa chegou a subir 1,94%, a 116.763 pontos, para depois amenizar os ganhos e subir 0,42%, a 115.023 pontos, por volta das 12h30, e zerou às 13h. Após forte volatilidade, fechou em alta de 1,31%. Já o dólar caía às 12h30, 1,04%, na casa dos R$ 5,24, após uma mínima de R$ 5,21 e uma máxima de R$ 5,40,  fechando em baixa de 2,54%, a R$ 5,165 na compra e R4 5,166 na venda.

Acompanhe o mercado ao vivo no InfoMoney

Analistas destacaram a volatilidade dos mercados no dia seguinte à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Continua depois da publicidade

Sobre a melhora do mercado após a abertura em forte queda, Juan Espinhel, especialista em investimentos da Ivest Consultoria, avalia que “o mercado não gosta de incerteza. Com as eleições resolvidas, essa variável sai da conta e conseguimos ter um mar mais aberto à frente”.

“O mercado já sabia o que esperar de cada um dos candidatos e agora é hora de tomar posição. Quando você tira um fator de risco da frente, consegue ter uma análise um pouco mais clara. Vejo investidores aproveitando oportunidades, depois de um dia tenso”, complementa.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, também atribui a guinada no final da manhã dos mercados a um reposicionamento. “A virada foi puxada pelos setores que sempre apontamos que se beneficiariam: educação, construção e varejo”, afirmou Cruz.

“A melhora que tivemos é por conta da volatilidade. O cenário não mudou. Os ativos que se beneficiam de um governo mais expansionista (FIES, redução do IPI) saem beneficiadas. Essas companhias mais do que compensam a queda”, afirma Andre Luzbel, head de renda variável da SVN Investimentos.

“No curto prazo, devemos ver volatilidade e, no meu ver, a Bolsa tende a sofrer mais um pouco, ao menos até o Lula definir os ministérios”, complementa.

Cabe destacar que o Ibovespa também perdeu ímpeto depois de atingir máximas no dia, sugerindo forte volatilidade nos próximos pregões e impactada principalmente pela Petrobras (PETR3;PETR4). As ações abriram em forte queda, chegaram a ter perdas de 8%, amenizaram para baixa de cerca de 3% durante o dia, mas voltaram a ter quedas mais expressivas à tarde.

Dólar em baixa com expectativa de ministério mais “amigável”

Enquanto o movimento foi de maior volatilidade para o Ibovespa, o dólar registrava queda de cerca de 1% durante a tarde e acentuou as perdas, fechando em baixa de mais de 2%.

Fabrizio Velloni, economista da Frente Corretora de Câmbio, ressaltou esperar o que dólar abrisse o dia ainda mais pressionado.

Porém, ressaltou que “alguns pontos começam a ficar mais claros, demonstrando que o mercado já estava precificando a eleição do Lula e o seu risco. A tendência de começar um governo de mais união e colocar nomes como o de Henrique Meirelles [na Economia] começa a ‘despressionar’ o mercado”.

Outros fatores ganham destaque: “A hipótese de Geraldo Alckmin comandar a equipe de transição de Lula é amplamente defendida pelo entorno do presidente eleito e aguardava apenas o aval final do petista para se consumar”, aponta relatório da XP Política, sobre as chances do vice-presidente eleito direcionar a transição ao centro.

Para os analistas da XP, a escolha tenderia a adiar disputa interna no PT pelos postos de comando. “Isso evitaria especulações e fogo amigo e, somado ao perfil discreto e à experiência de Alckmin, poderia evitar turbulências no decorrer da transição”.

Mesmo assim, a Arko Advice vê 60% de chance de Lula indicar um político como próximo ministro da Fazenda, 35% de chance de indicar um economista e 5% de indicar um membro próximo do PT. É o que diz o relatório de hoje do Credit Suisse, após uma call com Lucas Aragão, sócio da consultoria.

Fluxo maior de estrangeiros

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, chama atenção para uma maior compra de investidores estrangeiros na sessão de hoje, o que ajudou a impulsionar os mercados no início da manhã. “Eu acho que na visão deles houve redução das incertezas após as eleições. Eles já viram 2 mandatos do Lula como presidente e por isso tem confiança”, explica.

“Mas na visão de investidor local, nós achamos este movimento precipitado, porque ainda não temos informação sobre a equipe econômica”, complementa.

A semana pós-eleição no Brasil coincide com uma agenda carregada de indicadores econômicas e uma importante decisão: o Federal Reserve deve voltar a subir juros na quarta-feira (2), dia em que os mercados estarão fechados por aqui, em função do feriado de Finados.

“Para esta semana o consenso é alta de 0,75 ponto percentual dos juros pelo Fed, mas a dúvida é para a última reunião do ano, que ainda está bem aberta – estimativas entre 0,25 ponto a 0,75 ponto”, diz Komura.

“O dia começou no vermelho para a maior parte das bolsas internacionais porque os investidores estão no aguardo da decisão de juros do Fed e os balanços das empresas”, diz Eduarda Michel, assessora de Investimentos da Ável, o que também pesou sobre o Ibovespa no pré-mercado.

As estatais listadas na Bolsa continuam em baixa, como é o caso, além de Petrobras (PETR3;PETR4), do Banco do Brasil (BBAS3).

“A carta que eles [a equipe de Lula] divulgaram na semana passada dá para supor que as empresas públicas irão sofrer um pouco mais do que o resto do mercado. Falam, por exemplo, que usarão o Banco do Brasil para dar crédito à população. As empresas públicas devem ser utilizadas como ferramentas de política econômica”, diz Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital.

Turbulência hoje, mas cenário mais positivo à frente

Nas últimas semanas, ganhou força a sinalização de que, a despeito da volatilidade de curto prazo eleitoral, o cenário é positivo para a Bolsa brasileira. 

No podcast Stock Pickers da última quinta-feira, Bruno Cordeiro, sócio e gestor da Kapitalo, destacou que o Brasil não está tão barato mas, na comparação com os outros países emergentes, está bem mais atrativo e conta com uma posição geopolítica muito favorável.

Um outro ponto que traz otimismo ao gestor é o fato de que os fundos não têm uma grande posição em Brasil. Assim, acredita que, com uma agenda “decente”, com arcabouço fiscal desenhado, os ativos do país têm uma assimetria positiva.

Rodrigo Glatt, sócio da gestora GTI Invest, destaca que, a despeito da volatilidade de curto prazo do cenário eleitoral, tem um cenário positivo para a Bolsa ao longo dos próximos meses, dado que há empresas com valuations extremamente descontados.

O gestor destaca que a taxa básica de juros pode começar a ser cortada no segundo trimestre do ano que vem, o que pode impulsionar papéis ligados à economia doméstica. Entre os papéis visto como baratos, Glatt cita a holding de logística e concessões Simpar (SIMH3), da varejista Guararapes (GUAR3) e da operadora de shoppings brMalls (BRML3).

Em relatório do último dia 19, o JPMorgan destacou estar positivo com o Brasil, com fatores como crescimento econômico e a chance de queda da Selic no ano que vem apoiando uma visão construtiva para a Bolsa, e que isso seria independente do resultado da eleições. Mas não descartou “possíveis contratempos, considerando as muitas incertezas remanescentes no cenário político”.

Assim, por mais que haja espaço para ânimo com relação ao mercado brasileiro, a expectativa é de fortes emoções para a Bolsa brasileira nos próximos pregões. “Acreditamos que a volatilidade pode seguir alta e talvez aumentar nas próximas semanas, dada a incerteza quanto à política fiscal do novo governo, bem como quais serão os nomes da nova equipe econômica de Lula”, avalia a XP.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados