Dólar dispara quase 2% e vai a R$ 3,15 com mercado dando como certa alta de juros nos EUA

Nos últimos dias, dirigentes do Fed deram declarações sinalizando que a autoridade monetária pode elevar as taxas de juros do país neste mês

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – As crescentes apostas de alta de juros nos Estados Unidos foram o grande destaque desta quinta-feira (2), levando o dólar a disparar quase 2% ante o real seguindo falas recentes de integrantes do Federal Reserve e a proximidade da próxima reunião do Fomc. Com isso, o dólar comercial subiu 1,88%, cotado a R$ 3,1503 na compra e R$ 3,1513 na venda, depois de ter recuado 0,65% na véspera. O dólar futuro registrou alta de 1,84%, a R$ 3,175.

“Houve uma reprecificação (nas apostas) de aumento de juros nos EUA já em março… O dinheiro que está aqui pode começar a ir para lá”, comentou o profissional da mesa de câmbio de uma corretora local. “Com os Estados Unidos remunerando melhor e nosso juro em trajetória de queda, os gestores privilegiam segurança ao rendimento”, afirmou o superintendente da Correparti Corretora, Ricardo Gomes da Silva.

Nos últimos dias, dirigentes do Fed deram declarações sinalizando que a autoridade monetária pode elevar as taxas de juros do país neste mês. Segundo a ferramenta FedWatch do CME Group, as apostas indicavam cerca de 80% de chances de o Fed elevar os juros em 0,25 ponto percentual na sua próxima reunião, nos dias 14 e 15 de março.

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Juros elevados podem atrair à maior economia do mundo recursos hoje aplicados em outras praças financeiras, como a brasileira, pressionando as cotações do dólar. Nesta sexta-feira, a chair do Fed, Janet Yellen, fará um discurso às 15h (horário de Brasília) durante evento em Chicago, e investidores vão buscar pistas sobre os próximos passos da autoridade monetária.

Apesar dos ganhos de hoje, o diretor de câmbio da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, reforça que a tendência ainda é de baixa no médio e no longo prazo, mas que o momento atual não é de compra. “O BC ainda não indicou o que irá fazer com os quase US$ 10 bilhões em swaps que vencem em abril. Além disto, o mercado monitora fluxo de saída de US$ 2,7 bilhões da CPFL Energia”, explica Faria.

Segundo ele, a recomendação é de compra em R$ 3,05 devido ao temor do Fed subir os juros em março, fato que era desconsiderado pelo mercado até poucos dias atrás. “Agora, na faixa de R$ 3,10 a R$ 3,15 enxergamos mais motivos para venda”, diz Faria lembrando da “agenda carregada” no exterior até a próxima semana.

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Os investidores locais também estavam de olho no Banco Central brasileiro que, apesar do salto do dólar agora, continuou sem anunciar intervenção no mercado de câmbio. Em abril, vencem o equivalente à US$ 9,711 bilhões em swaps tradicionais, equivalente à venda futura de dólares, e operadores se questionavam se o BC rolará, mesmo que parcialmente, esses contratos. “O BC pode repetir a estratégia do mês passado e só rolar parcialmente o vencimento”, comentou um operador de câmbio de uma corretora local.

A cena política local também pesava sobre os mercados, com o depoimento da véspera do empresário Marcelo Odebrecht confirmando um jantar com o presidente Michel Temer, no Palácio do Jaburu, onde foi tratado contribuições para a campanha do então vice-presidente, mas garantiu que o tema foi abordado “de forma genérica” e não houve pedido de doação direto feito por Temer.

“O mercado está monitorando o político e isso pode criar um ambiente para uma corrida ao dólar. Na dúvida, durma comprado”, afirmou Silva, da Correparti.

(Com Reuters)

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.